O momento que vivemos é dramático pelo que implica de mudanças na vida de cada um. Votar é um exercício que decide quem nos vem a governar nos próximos anos, e a essa escolha quem poderá ser indiferente? Está na natureza de cada um, homem ou mulher, uma dimensão política cujo conteúdo  importa conhecer, sob pena de por incúria chegarmos a uma decisão infantil ou desumana. Portugal sim, mas não a qualquer preço. Trata-se de uma decisão para a existência, esta, a do próximo domingo!

O momento exige responsabilidade pessoal, que passa necessariamente por uma atenção redobrada à História. Cada um é chamado a ter em conta os erros e as virtudes daqueles que foram e são protagonistas políticos, a avaliar não meras intenções mas obras, a compreender retrocessos e avanços, suas causas e consequências, a ultrapassar juízos impiedosos, a retomar ânsias de justiça e esperança num presente melhor.

O presente é o tempo útil. É agora que tudo se joga. Votar é acreditar na força da responsabilidade na construção do futuro a partir do que agora nos é oferecido. Uma pergunta se me impõe: como poderei avaliar a medida do que me prometem dar?

Um cabo dos trabalhos essa pergunta, mas é uma pergunta necessária porque na raíz da democracia não pode deixar de estar presente um trabalho pessoal de indagação de “quem sou”.  Trabalho complexo, difícil, mas não solitário, antes solidário.  Mostra-nos a História que o que denota a humanidade é esta forma de ser e viver do homem, inquieta de razões de justiça, de verdade, de felicidade e de amor.

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Há cerca de 3.000 anos já o Rei David com ele se viu  a mãos, perguntando a quem de direito: Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes: Que é o homem – digo-me então –, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?

Há cerca de 1.500 anos foram os filhos de S.Bento que a reformularam entre as paredes de Mosteiros, motivados a montante pela procura de Deus e prontos  com a disponibilidade para O escutar. Será que tudo passa e nada fica? O que permanece de definitivo, de essencial, de último, para além do transitório, do secundário, do penúltimo? Pergunta obrigatória se é que faz sentido uma democracia, e o poder que ela encerra.

De que vale o poder se o homem se vier a perder? E que não se argumente que já não faz sentido uma Antropologia Filosófica. Todos, mas mesmo todos, professam nas suas vidas um entendimento do  que deve ser o homem e a sua vida em sociedade.

Há um credo tácito em cada gesto meu! Com maior ou menor elaboração e razoabilidade, diante de todos apresenta-se o espetáculo  social de uma arena de debates e comentários.  Basta relectir no que se tem passado entre nós nestas últimas duas semanas de Campanha eleitoral para concluir que cada um de nós tem a sua Agenda Política. Não se pode fugir desta porque a ela subjaz a vontade de fazer mais e melhor, contribuindo para uma vida melhor, para todos. Há no fundo de cada um este desejo de uma justiça que o seja para mim e para todos. A vontade de um Bem que me favoreça não deixando de favorecer os outros. Não que sejamos ingénuos, estamos simplesmente a falar dos homens no seu melhor, na sua capacidade de se darem uns aos outros na construção de uma vida  que valha a pena, uma vida baseada no essencial e não no acessório.

Está na natureza de cada um este desejo de bem que não se confunde com uma utilidade meramente instrumental. Quem quer ser apenas um meio para um fim? Quem acha razoável que um homem ou uma mulher sejam reduzidos a carne para canhão? Quem acha bem os homicídios, os nacionais, europeus, internacionais, numa palavra, as matanças de inocentes, ao vivo e em directo? E os que se passam localmente, de Junta de Freguesia e abaixo, diante dos quais grita silenciosamente uma indignação que é também minha?

Salomão, o rei sábio, tinha coração. Sabia exercer a justiça, isto é, sabia dar a cada um aquilo que lhe pertencia, consistindo nisto a utilidade e a nobreza suas e do poder que tinha em mãos. Analogamente, a vida democrática tem uma utilidade que não se reduz a mera estratégia individualista.

Sabemos que a vida política pode assumir muitas formas. São possibilidades do humano. Já descemos e continuamos a descer de nível tantas vezes! Resta perguntar se, apesar disso, a esperança nos homens morreu, ou se, pelo contrário, esta desumanidade não avivou ainda mais o desejo do coração humano de uma vida cheia?

Está na natureza de cada um não desistir  da polis, saber que não são os limites ou as virtudes aquilo que define os actores em jogo. O que define o homem é a sua humanidade, o seu coração. É para a vitória do humano que o meu voto será  útil! Que grande responsabilidade esta! Foi esta também a da escolha de S.Bento que não fugiu do mundo para se refugiar em Mosteiros mas que os fundou para que os ouvidos do seu coração pudessem escutar o Logos, fundamento da Europa, e de tudo o que se entende por cultura.

Puro só Deus! Digo eu, que me conheço bem, quem sou, e o que consigo; o que desejo e o que quero.  A responsabilidade é e sempre foi a menina dos olhos da democracia. Não desde há 50 anos, como daqui a um mês se cantará, mas desde sempre, ou seja, sempre que um homem quis ou quiser!