Começou com o logótipo. Tinha as armas nacionais. Os portugueses, ao longo de vários regimes, dividiram-se acerca das cores. Nunca acerca das armas. Eram o elemento antigo e consensual da simbologia da nação. António Costa, sem aviso, reduziu o logótipo a cores que, só por si, tanto distinguem Portugal como o Congo. Porquê? Para ser mais “inclusivo”, segundo o preconceito woke de que qualquer símbolo histórico de uma nação ocidental sugere patriarcado e racismo. Antes das eleições, Luís Montenegro prometeu repor o que, até ao ataque de wokismo do PS, nunca estivera em causa. No governo, cumpriu. A esquerda entrou em regime de palpitações cardíacas: o PSD abrira a “guerra cultural”.

A segunda batalha foi logo a seguir. Algumas personalidades decidiram fazer um livro sobre identidade e família. O activismo woke passou os últimos anos a pôr em causa a família tradicional e as identidades individuais e colectivas nela fundadas. Não apenas a defender que há outro tipo de famílias e de identidades, mas a atacar a família e as identidades tradicionais como a causa do mal no mundo. Os autores do livro discordam. A esquerda comentadora nem precisou de ler o livro para passar das palpitações à trombose: a direita quer voltar ao “fascismo”.

Já percebemos como os activistas woke funcionam: atacam, e depois gritam que os outros começaram a guerra. Nunca admitem que uma questão possa ter dois lados. Eles são o “progresso”: tudo o que puserem em lei deve ser irreversível. Também já percebemos que a esquerda, derrotada nos temas do crescimento económico e dos serviços públicos, quer uma “guerra cultural” à americana (dizendo, como é costume, que o wokismo não existe). Como lidar com isto?

À direita, há quem prefira passar à frente, não discutir ou até concordar: seria a maneira de parecer moderado perante o radicalismo woke. Há, por outro lado, quem pense que esta é a oportunidade de ser provocador, de mostrar que não se tem medo, de atrair as atenções. E finalmente, há Pedro Passos Coelho, que ao apresentar o livro Identidade e Família, mostrou como se deve fazer. Passos Coelho não evitou nenhum tabu, da eutanásia às migrações. Reflectiu sobre eles tranquilamente, admitindo que há vários pontos de vista. Ser moderado é isto: não é ignorar ou ceder, mas discutir com equilíbrio. Não ter medo também é isto: não é entrar na histeria, mas argumentar com consistência. Vale a pena ler a sua intervenção.

Passos Coelho deu também a entender que não o entusiasmavam “linhas vermelhas” à direita. Mais uma vez, está certo. O problema das “linhas vermelhas” nem é o PSD fazer ou não acordos com o Chega:  é a demonização do Chega nos termos da esquerda. À direita, os advogados dessas linhas dizem agora que a sua razão tem a ver com o Chega não ser fiável, porque cresceu e está ambicioso. Antes, tinham-nas justificado por serem a maneira de impedir o Chega de crescer. A verdade é que as “linhas vermelhas” não têm a ver com a contenção do Chega, para o que já se viu que são inúteis, mas apenas com a expectativa patética de obter da esquerda, em troca, alguma condescendência. É tempo perdido, porque para a esquerda, o alvo não é o Chega: é toda a direita. O PS inventará tudo para colar o PSD ao Chega. Se o PSD colaborasse na demonização do Chega só estaria a facilitar a campanha socialista contra o governo.

A democracia precisa de uma direita descomplexada. Porquê? Porque é importante para o país que essa direita diga tranquilamente à esquerda: os senhores falharam no governo e tiveram a maior derrota eleitoral desde 1991; escusam de vir com “fascismos”; o país escolheu: agora vamos governar nós; e isto, por mais que vos custe, é a democracia.

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