Os nossos anos vinte não serão, como os do século passado, despreocupados e loucos, muito pelo contrário. Mas serão cruciais para semear o caminho do crescimento sustentável e para preservar as nossas liberdades individuais no futuro. Os próximos anos serão a década que mais sentirá o impacto da digitalização e da robotização, que será marcada pelas preocupações ambientais e assistirá à consolidação da posição dos novos poderes económicos mundiais, como a China e a Índia.

O receio sobre os impactos possivelmente desfavoráveis da robotização e da digitalização no emprego, foi durante muito tempo limitado às pessoas com menores níveis de educação, que seria de resolução relativamente fácil através dos sistemas educativos, sobretudo nos países onde eles são universais. Mas o desafio dos próximos anos será responder à transformação profunda que estas novas tecnologias trazem ao próprio processo produtivo, à relação entre empregados e empregadores e à própria construção do Estado social baseada numa relação formal entre trabalhadores e empresas. E enquanto estes impactos começam a ser sentidos, a expetativa que existia de aumento da produtividade para níveis astronómicos não se tem concretizado, pelo contrário, a tendência tem sido para uma gradual desaceleração a nível global. Na OCDE, a produtividade aparente do trabalho cresceu 1,4% por ano em média na primeira década deste milénio, mas entre 2010 e 2017 desceu para 1%. A explicação para este “puzzle” económico ainda não é totalmente clara, poderá até resultar de uma medição incorreta dos preços da tecnologia. Mas o facto é que sem ganhos de produtividade e de bem-estar para todos será difícil aceitar as desvantagens, ainda que temporárias, dos avanços tecnológicos. Assegurar que os benefícios chegam a todos tem de ser uma prioridade dos próximos anos.

Os anos vinte serão também os das preocupações ambientais, cuja emergência se sente nos fenómenos da natureza cada vez mais extremos. A entrada nos anos vinte é marcada pelos maiores fogos florestais da última década na Austrália, com perto de 60 mil km2 queimados, uma área superior à da Croácia. Mas a proteção do ambiente que todos desejamos também coloca problemas. Entre os países mais poluentes encontram-se países grandes que ainda estão em desenvolvimento, tal como a China, a Índia e a Rússia. Será que o desenvolvimento económico sustentável é possível para baixos níveis de rendimento? Como poderemos compatibilizar desenvolvimento económico e sustentabilidade? Existe também uma tendência global para a migração dos campos para as cidades, o que coloca uma pressão elevada nos recursos das grandes cidades ao mesmo tempo que o abandono dos campos aumenta os riscos de incêndios.

Haverá ainda mudanças de poder global e no papel da Europa. É inegável que o poder económico e militar de países como a China, a Índia e a Turquia está em alta, o que obriga a Europa a uma mudança de atitude. Para preservar alguma influência neste mundo em mudança acelerada a Europa deve agir em três frentes. Primeiro, completar o mercado único e completar a reforma da zona euro, que são a base do seu poder económico, por representarem um dos maiores mercados mundiais. Segundo, olhar para o Investimento Direto da Europa no estrangeiro como um elemento de estratégia global, para aumentar a capacidade de influência nos países e regiões vizinhos. Por fim, o principal desafio do Brexit para a Europa não está no acordo de saída, mas na negociação da relação futura. É crucial preservar durante todo o processo a relação entre o Reino Unido e a EU, enquanto regiões e países que partilham os mesmos valores das democracias liberais e de direitos individuais. Com os Estados Unidos num processo de retração e a emergência e desenvolvimento de potências que professam valores muito diferentes, é necessário manter uma aliança forte com o Reino Unido para responder de forma coerente aos novos desafios.

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