Os resultados dos Censos de 2021 confirmam o pior cenário: a população portuguesa diminuiu, ou seja, assistimos a uma quebra de 2,1% na população que vive em Portugal. Esta é a segunda vez que esta redução acontece desde que há registos: a outra foi em 1970, depois da fortíssima vaga de emigração dos anos 60. Mas os resultados são ainda mais preocupantes. Analisemos esta notícia do Observador:

  • A idade média da população é de 45,4 anos, uma subida de 3,1 anos em relação a 2011.
  • O “índice de envelhecimento” aumentou: há agora 182 idosos por cada 100 jovens, enquanto em 2011 eram 128.
  • O “índice de rejuvenescimento da população ativa” baixou: por cada 100 pessoas na faixa etária dos 55-64 anos, há agora 76 pessoas na dos 20-29 anos, quando em 2011 eram 94. Para haver rejuvenescimento, este valor tinha de ser superior a 100.
  • Entre 2011 e 2021, em todos os escalões etários até aos 39 anos, assistiu-se a um decréscimo da população, com particular incidência no grupo dos 30 aos 39 anos. Em contrapartida, todos os grupos etários acima dos 44 anos aumentaram a sua importância relativa.
  • Em 2021, a percentagem de população idosa (65 e mais anos) representava 23,4% enquanto a de jovens (0-14 anos) era de apenas 12,9%.

Os dados revelam que Portugal está sentado numa bomba-relógio no que ao contexto demográfico diz respeito, desde logo por uma quebra na taxa de natalidade, aumento do envelhecimento da população e incapacidade para atrair imigrantes. O resultado é inevitável e está à vista: redução do número de pessoas a viver em Portugal. Quais são os problemas que isto levanta?

Em primeiro lugar haverá inevitavelmente uma pressão muito maior sobre os sistemas de saúde e segurança social, os custos nestas áreas tenderão a subir e recairão inevitavelmente sobre os que pagam impostos, famílias e empresas, que ficarão com menos rendimento disponível. Em segundo lugar, uma sociedade com menos pessoas é uma sociedade menos dinâmica e menos empreendedora, onde as empresas que vivem do mercado interno terão forçosamente menos clientes e passarão por maiores dificuldades. Neste cenário um crescimento económico robusto será ainda mais difícil. Por último, uma sociedade com menos pessoas é uma sociedade mais triste, mais dependente e de pessoas mais isoladas, é uma sociedade com menos avós, menos irmãos e menos primos, e provavelmente mais egoísta.

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A resolução deste problema requer tempo, coragem e investimento, é ilusório pensar que um só partido poderá resolver o problema, é fundamental um pacto de regime entre o maior número possível de partidos de forma a que as políticas implementadas não sejam revertidas mal o poder mude de mãos. Do meu ponto de vista é fundamental:

  1. Apostar em políticas de natalidade sérias e duradouras que devolvam a confiança aos que querem ser pais de que os seus filhos encontrarão em Portugal um país amigo das crianças e das famílias.
  2. É fundamental atrair de volta os jovens portugueses que saíram para estudar ou trabalhar. É urgente que estes acreditem que Portugal é o país certo para desenvolverem os seus negócios e para trabalharem.
  3. É urgente que o país tenha uma política de imigração inteligente, que seja atractiva aos quadros jovens mais qualificados e que lhes permita aqui crescer enquanto profissionais, formar família e serem felizes.

O nosso contexto demográfico moldará o nosso futuro. Se não o conseguirmos reverter a tempo, segundo dados da ONU poderemos ter daqui a 30 anos a mesma população que tínhamos em 1950, cerca de 8 milhões de pessoas, e estas serão sobretudo idosas. Numa palavra é preciso voltar a dar confiança às pessoas de que Portugal é um bom país para ter filhos, trabalhar e investir e essa confiança só será restaurada se houver uma política fiscal atractiva e áreas fundamentais da sociedade que funcionem como a justiça, educação e saúde.

Se queremos desarmadilhar esta bomba-relógio temos de começar já e trabalhar em conjunto.