Vamos falar de moscas? Trata-se, naturalmente, de uma pergunta retórica. Uma vez que este clássico método de comunicação que é a crónica escrita não permite cá essa modernice da interactividade. O que é óptimo para vós, pois diz que interagir comigo é profundamente aborrecido. Pelo menos é o boato que corre cá por casa.

Assim sendo, vamos mesmo ter de conversar sobre moscas, porque as moscas estão na ordem do dia. Pelo menos de acordo com a revista Visão, segundo a qual a notícia com o título “O que se passa para haver tantas moscas em Lisboa (e um pouco por todo o País)” é, à hora que escrevo e há já alguns dias, segundo me parece, a notícia mais lida da publicação. E ainda dizem que não há espaço para o grande jornalismo de investigação no nosso país.

Bom, mas afinal o que se passa com o mosquedo? Como é óbvio, não faço a mínima ideia. Então mas agora eu ando preocupado com enxames de moscas? Quer dizer, quando há polémicas tão giras em torno de frotas de automóveis na TAP, eu ia perder tempo a comentar frotas de moscas em torno de peças de fruta semi-podre? Não faria qualquer sentido. E sentido é o que sei que buscam nestas minhas prédicas.

E vão tê-lo. Ora reparem nisto. A TAP tinha mandado vir uma nova frota de 79 BMWs para substituir a frota que tinha da Peugeot. De forma surpreendente – mas não impossível, atenção – e depois de uma reacção pública, digamos, algo desfavorável a esta notícia, a companhia aérea informou que iria poupar 630 mil euros com a troca dos veículos. Ainda assim, a TAP voltou atrás nesta decisão por, supostamente, ter cedido à pressão da opinião pública. Ou seja, a TAP teria arranjado forma de poupar largas centenas de milhares de euros aos contribuintes; os contribuintes acharam esquisita a existência dessa poupança; e vai a TAP e – talvez por pirraça, como quem diz “Ai, não acreditam nesta poupança, é?” – deita à rua 630 mil euros dos nossos impostos.

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Portanto, se bem percebi, a forma de a TAP ceder à pressão dos contribuintes é gastando ainda mais dinheiro dos contribuintes. O caro leitor por caso pressionou a TAP no sentido de esbanjar ainda mais dos seus impostos? É que eu não me lembro nada de o ter feito. Mas pode muito bem ter sucedido, que eu sou um bocado dado a olvides.

E porque falar de TAP sem falar do ministro Pedro Nuno Santos é como falar da TAP sem falar do ministro Pedro Nuno Santos, vamos falar um pouco do ministro Pedro Nuno Santos. Desta feita, não por causa da TAP, mas sim da Tecmacal. A tal empresa que realizou um contrato ilegal com o Estado, pelo facto de o pai do ministro deter 44% da mesma e Pedro Nuno Santos 1%. Sendo que, apesar da modesta participação na Tecmacal, não creio que o ministro das Infra-estruturas seja aquilo a que se chama um “silent partner”. Pedro Nuno Santos será mais um parceiro em relação ao qual era suposto a comunicação social manter o silêncio, isso sim.

Impedido de manter o silêncio sobre esta negociata, e na tentativa de defender a legalidade da mesma, Pedro Nuno Santos recorreu a um parecer da Procuradoria Geral de República. Dá-se o facto de o tal parecer dizer respeito a um outro caso que nada tem a ver com este envolvendo o ministro socialista. Daí o nome “parecer”: de repente parece servir para defender Pedro Nuno Santos mas, quando se vai a ver, não serve para coisa nenhuma.

Enfim, não sei se o tal mosquedo que agora anda por aí veio para ficar, mas era simpático passarem algum tempo por cá. Quer dizer, não estou propriamente à espera que seja uma vaga turística de insectos dípteros a levar Portugal para diante. Eh pá, mas pelo menos sempre mudavam as moscas.