O Teatro Nacional de São Carlos estreia esta semana a ópera Werther, cujo libreto, baseado na obra “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe, se confunde com os píncaros do amor romântico e (naturalmente) impossível. De uma forma menos dramática, muitos de nós já desesperaram de não encontrar a pessoa certa.

Foi por isso que, com o verdadeiro espírito de serviço público em mente, O Economista à Paisana decidiu investigar e publicar sob forma de perguntas e respostas, as soluções dos economistas para encontrar o parceiro da nossa vida.

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1.  Serão o amor e o casamento problemas susceptíveis de serem sequer analisados pelos economistas?

São e já foram. O problema económico define-se simplesmente pela existência de necessidades ilimitadas e de recursos limitados, o que resulta em escassez e obriga os agentes a fazerem escolhas. Todos estes elementos existem na questão que nos propomos analisar hoje. O primeiro economista a analisar de forma sistemática e matemática a economia do casamento foi Gary Becker num artigo A Theory of Marriage, de 1974.

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2. Onde se deve procurar o amor?

Para maximizar as hipóteses de encontrar a pessoa da nossa vida, tal como noutros mercados, a resposta é maximizar o número potencial de trocas. Por exemplo, se queremos comer um bife temos de escolher entre vários restaurantes e cervejarias que fazem bifes e que têm mesas disponíveis. Quanto maior o número de restaurantes, maior a hipótese de se encontrar um que sirva um bom bife e que tenha mesa. No mercado do amor, temos de conviver com pessoas que tenham a mesma disponibilidade que nós para se apaixonarem.

As universidades são um mercado especialmente “líquido”, isto é, com muitas oportunidades de troca. As relações existentes, informais, ainda não são reguladas por contractos (de casamento) pelo que é mais fácil fazer trocas do que em empresas, por exemplo, onde muitas pessoas já não estão disponíveis para se apaixonarem ou, estando, podem já estar numa relação regulada contratualmente, o que dificulta fazê-lo abertamente.

Tal como nos mercados de bens, a internet veio revolucionar o mercado do amor romântico permitindo aumentar de forma drástica o potencial número de trocas. Os “sites” de relacionamentos permitem aceder a um leque muito mais alargado de potenciais interessados, o que aumenta as hipóteses de encontrar um parceiro.

3. Quando devemos parar de procurar?

A teoria económica tem uma resposta fácil, para responder a essa pergunta. Devemos parar de procurar quando o valor de determinado parceiro, medido pela média ponderada das suas qualidades, é para nós superior à qualidade esperada de todos os futuros parceiros. Na teoria parece fácil, mas como não temos informação perfeita sobre o futuro, esta busca pode ser interminável. A este problema, a teoria económica propõe também uma solução….

4. Assentar ou não assentar?

Quase sempre a resposta é que é melhor assentar porque existem custos de procurar um parceiro, tanto directos – comprar flores, pagar refeições, etc – como indirectos – todos os bens comuns que abdicámos por não termos assentado, tal como o companheirismo, os filhos, etc.

Se regressarmos ao ponto 3 e acrescentarmos custos associados à busca de um parceiro então podemos definir um momento óptimo para parar de buscar e assentar, que é diferente para todas as pessoas e que depende das qualidades que procuram no outro.

5. Que qualidades devemos procurar no outro?

A experiência indica que procuramos pessoas com características socioeconómicas parecidas com as nossas. Num estudo recente baseado em dados americanos entre 1960 e 2005, os autores Jeremy Greenwood, Nezih Guner, Georgi Kocharkov e Cezar Santos revelam que as pessoas com níveis mais elevados de educação tendem a casar com pessoas que tenham também níveis elevados de educação.

Em suma, a Economia recomenda que se deve maximizar as hipóteses de encontrar um parceiro participando em mercados “líquidos”, procurar pessoas que sejam parecidas connosco e assentar, quando o valor do parceiro actual é superior ao dos futuros parceiros, incluindo os custos de continuar a procurar.

O livro “Os Sofrimentos do jovem Werther” foi escrito e publicado em 1774. Se Goethe tivesse esperado pela publicação de “A Riqueza das Nações” em 1776, livro fundador da economia moderna, talvez o jovem Werther tivesse tido um final mais feliz.

O Economista à Paisana é uma coluna quinzenal de Inês Domingos onde a autora explora temas do quotidiano vistos da perspectiva de uma economista