Chego com algum atraso, é facto, mas a efeméride continua a merecer festejos. Finalmente, temos o coronavírus! Uhu! Depois de tantas semanas de enervante expectativa, após intermináveis horas de angústia antecipada, eis que, enfim, o coronavírus chegou a Portugal. E pronto, agora é desfrutar da enervante expectativa e da angústia antecipada inerentes ao perigo, não tanto de contrair o vírus, mas sim de ter de, eventualmente, recorrer aos préstimos do Serviço Nacional de Saúde para curar a doença.

Em Itália, suspeitou-se que o próprio Papa tivesse coronavírus. Na missa de Quarta-feira de Cinzas, o Santo Padre espirrou e temeu-se o pior. Felizmente, as análises confirmaram que Francisco não tem o vírus. Em contrapartida, confirmou-se que Deus tem mesmo mau feitio. O que é que custava ao Todo-Poderoso, assim que o Papa espirrou, ter organizado a papal ranhoca que ficou no lenço de molde a que esta formasse a frase “Covid-19: negativo”? O quê, o Ser Supremo, omnisciente, omnipotente e omnipresente, criador de todo o Universo e de todos os seres, não podia dispensar uns segundinhos para dispor criteriosamente mucosidades nasais e assim deixar toda a gente descansada, queres ver?

Eu achei até muito provável que o Papa tivesse coronavírus. Lembram-se daquele episódio no Vaticano, na véspera de Ano Novo, em que Francisco perdeu a paciência com uma fiel e lhe deu um bom tapa? Ora, quando é que começámos a ouvir falar no coronavírus? Precisamente no fim de Dezembro. E de que etnia era a senhora em quem o Papa enfardou? As imagens não deixam dúvidas: asiática. E quais são as instruções da Direção-Geral de Saúde para evitar o contágio? Manter uma maior distância social evitando, nomeadamente, contactos com as mãos, que têm, em média, 1500 bactérias por centímetro quadrado. Ora, onde é que o Papa deu o tapa na senhora asiática a 31 de Dezembro? Exactamente na mão. Pôs a carne toda no assador, o sumo pontífice.

As dúvidas quanto à origem do coronavírus persistem, mas tenho quase a certeza de não se tratar de um castigo divino. Embora corramos o sério risco da epidemia trazer, no final de contas, uma catástrofe de proporções bíblicas. Não por culpa do vírus em si, mas como consequência da higienização à fossanga que as autoridades incentivam. Com tanto apelo lancinante à ininterrupta lavagem de mãos e à utilização de géis de álcool, ainda acabamos todos levados por um épico dilúvio desta aguadilha, capaz de fazer do drama de Noé uma carreirinha na Costa da Caparica em dia de mar flat. Vendo bem, Deus acaba por castigar. Só que, neste caso, castiga-nos não tanto pela maldade para com o próximo, mas mais pela mariquice perante uma gripe.

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Agora, a julgar pelas reacções dos histeriquinhos da emergência climática, isto do coronavírus está a ser estupendo. O surto quase parou a actividade económica na China, diminuindo drasticamente a emissão de gases para a atmosfera. O que podíamos querer mais? Arzinho limpo, uma epidemia que dá uma boa ajuda no controle populacional e, para quem ficar de quarentena, 100% do ordenado garantido pelo governo. Bem bom! Principalmente para quem não falecer. Para ser tudo perfeito, fica só a faltar garantir às populações suficiente água potável. É que, à conta do coronavírus, há já famílias assoladas por este tipo de problemática:

– Papá, tenho sede.

– Cala-te e não desperdices água, Carlos Miguel. Lava mas é as mãos. Ou queres apanhar coronavírus?

– Mas, papá, não beber água também não faz mal à saúde?

– Eh, pá, ó Carlos Miguel, mas eu agora sou médico? Higieniza mas é as mãos, puto, higieniza!

– Mas, papá, higienizei-as ainda há 17 segundos.

– Já passaram 17 segundos? Higieniza já outra vez, Carlos Miguel! Raspairta o miúdo! E nada de fazer conchinha com as mãos para beber água, que eu estou-te a ver, hein. Olha que isso é uma piscina olímpica para o coronavírus, Carlos Miguel!