É indiscutível que demasiados jovens com frequência universitária saem de Portugal à procura de melhores oportunidades. No entanto, mesmo assim, a actividade das nossas instituições de ensino superior continua a redundar em óptimos trabalhos de investigação.

Basta ver o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. Ainda na semana passada, a comissão independente para o esclarecimento de eventuais situações de assédio no CES apresentou o relatório final da sua investigação, feito com base em 32 denunciantes e contabilizando 14 visados. Não será propriamente o tipo de investigação académica que levará à cura para o cancro, mas pelo menos pode ajudar a tratar as metástases do assédio sexual no meio universitário. Já seria bem bom.

Pela dita investigação ficámos a conhecer alegados “beijos húmidos e demorados” entre professores ou investigadores e alunas, e “toques indesejados e não consentidos em partes do corpo como coxas, nádegas e zonas genitais”. Donde se conclui que é possível ser doutorado nos mais complexos temas sociológicos não tendo obtido aprovação em questões de lógica no ensino primário. Só assim se compreende que esta gente não entenda que “Não é não”.

O que seria especialmente surpreendente no caso do Professor Catedrático Jubilado, Boaventura de Sousa Santos, não fosse o facto de ter “ventura” lá pelo meio do nome. Imagino que o problema seja esse, uma vez que vai para mais de uma semana que também André Ventura se debate com dificuldades em assimilar que “Não é não”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quando, na verdade, o “Não é não” de Luís Montenegro ao Chega se referia apenas e só a um “acordo político de governação”. E não, por exemplo, a negociações no âmbito do Orçamento do Estado. Acho eu. Pelo que me parece irmos bem a tempo de assistir a toques desejados e consentidos em partes dos programas da AD e do Chega como justiça, imigração e segurança interna. Já para não falar nos beijos húmidos e demorados. Está pouco sensualona a política caseira, está.

O facto é que já maçam um pouco, as tentativas de André Ventura antecipar eventuais conversas com a AD. Neste momento, Ventura faz lembrar aqueles miúdos que vão no banco de trás sempre a perguntar se “Já chegámos? E agora? E agora? E agora?” O que é inconsequente, uma vez que Luís Montenegro ainda nem está ao volante do país. Nem sabemos, tampouco, se quando o líder da AD der à chave o país pega e dá para irmos a algum lado. O mais provável é Portugal nem passar na inspecção por estar preso em marcha-atrás.

E já estou a assumir – com mais optimismo que entusiasmo – que Luís Montenegro vai mesmo ser o próximo Primeiro-Ministro, uma vez que à hora que vos escrevo ainda não se conhece o resultado final do voto dos círculos do estrangeiro. Os dados apontam para que sim, com o Chega a ter um resultado muito expressivo. O que a confirmar-se pode levar a uma mudança de discurso de André Ventura. Nos próximos dias é provável que comecemos a ouvir: “Já falam com o Chega? And now? Et maintenant? Und nun?”

Em qualquer caso, era o que mais nos faltava, a malta que teve de emigrar por culpa de desastrosos governos socialistas agora eleger Pedro Nuno Santos Primeiro-Ministro. Seria mesmo de quem tem gosto em contemplar espectaculares acidentes de viação a uma distância segura. E quem partilha da minha opinião é o Presidente da República que, neste novo ciclo político, parece decidido a estrear uma forma inédita de exercer a sua magistratura. Até aqui, Marcelo não conseguia evitar falar antes de tempo. Agora, a julgar pelas audições aos partidos antes de fecharem as urnas, o Presidente não consegue evitar ouvir antes de tempo.