“Mais quatro anos! Mais quatro anos!”. Foi assim que o público presente no discurso de Joe Biden, em Washington D.C., a líderes de sindicatos, reagiu à afirmação clara do atual Presidente dos Estados Unidos: “É tempo de levar o trabalho até ao fim!”

Nos principais meios de comunicação do Partido Democrata, a oficialização da candidatura foi feita através de um pequeno vídeo onde começa por, numa clara tentativa de apelar a todo o eleitorado americano e não apenas aos Democratas, valorizar a importância da liberdade individual (um tópico que, tipicamente, é associado à Direita), a luta pela democracia – relembrando a sua campanha contra Donald Trump – e a necessidade de encarar, novamente, estas eleições como uma questão que ultrapassa o “azul e vermelho” (Partido Democrata e Partido Republicano).

Após este apelo a todo o país, Biden prossegue com uma retórica alinhada com os interesses mais gerais dos eleitores democratas: combater o extremismo do movimento “MAGA – Make America Great Again” liderado por Trump e seguido por uma ala ultraconservadora dos republicanos; evitar cortes nos impostos dos mais ricos; lutar por direitos LGBTQ+ e facilitar o registo dos cidadãos americanos para as eleições.

O slogan utilizado pela chapa Biden/Harris na última campanha voltou a ser proclamado – “A batalha pela alma da América –, no entanto, e porque pareceu “pegar” com o público, a frase mais repetida foi mesmo “Vamos acabar o trabalho!”

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Acontece que, apesar de tudo, esta recandidatura não é surpresa para ninguém. Tanto que, de acordo com a última sondagem da NBC (publicada a 23 de Abril), 70% do eleitorado americano acredita que Joe Biden não devia recandidatar-se à Presidência, invocando a sua idade (80 anos) como um problema (48% das pessoas inquiridas acham que a idade do atual chefe de Estado é um major problem).

Contudo, não é apenas Biden que está a ter más performances nas sondagens. Também Trump, possível candidato a ganhar as primárias do Partido Republicano (a mesma sondagem da NBC diz-nos que 46% dos Republicanos estão dispostos a votar no antigo Presidente dos EUA, sendo que a sua única real concorrência é Ron DeSantis – governador da Flórida – que aparece com 31%) parece ser uma escolha impopular: 60% dos eleitores dizem que Donald Trump não deveria apresentar-se às eleições novamente. Esta posição do eleitorado, aparentemente, tem pouco que ver com a recente acusação formal da justiça americana por alegados subornos da equipa de campanha de Trump a Stormy Daniels, atriz pornográfica, com vista a abafar o caso entre os dois, já que 68% do eleitorado republicano acredita que a acusação tem motivações políticas e, por essa razão, o Partido deve, agora mais que nunca, apoiar o seu candidato até ao fim.

O rematch entre Joseph Robinette “Joe” Biden Jr. e Donald John Trump é o cenário mais previsível – e também o mais “aborrecido”, de acordo com a análise de Harry Enten, analista político da CNN, e com uma sondagem realizada no âmbito do “CNBC All-America Economic Survey”, feito em Dezembro de 2022, que já na altura mostrava este cenário como provável.

Este desagrado perante uma nova eleição com velhos candidatos – tanto no que diz respeito ao seu percurso político como à sua idade – tem várias razões de ser, como apontou Stephen Collinson: 1) a idade de ambos os candidatos entusiasma pouco o eleitorado, já que maior parte dos americanos preferia uma nova geração de líderes; 2) a narrativa de Biden “em luta pela democracia” pode ter-se desgastado junto de uma parte dos eleitores, que agora reivindicam políticas mais concretas e progressistas; 3) Biden não poderá voltar a encostar-se à narrativa “Eu não sou o Trump, por isso votem em mim” porque já esteve 4 anos no poder, esse argumento não tem o mesmo valor; 4) por Trump estar “ocupado” com a Justiça americana, o debate presidencial poderá girar à volta disso e não do que realmente importa à classe trabalhadora e à classe média americana.

A própria taxa de aprovação de Biden, com base em dados do projecto FiveThirtyEight, está em níveis considerados baixos: 42.2% aprovam o presidente dos EUA, 53.6% desaprova.

Embora, no caso particular de Biden, esta taxa de aprovação baixa possa não definir totalmente as tendências reais de voto – uma parte significativa dos democratas mais jovens e mais progressistas reprovam o trabalho da Administração Biden/Harris mas votariam à mesma nos candidatos do seu Partido, pois a alternativa não revela ser melhor –, não deixa de ser desanimador para o eleitor comum ter que optar por uma de duas escolhas que não são propriamente do seu agrado.

Já nem os americanos podem com Biden vs Trump.