Uma grande parte dos Portugueses sente, tal como outrora, uma enorme sede de mudança. Portugal está a tornar-se hoje uma casa daquelas muito velhas, que está há muito tempo fechada e a precisar de abrir as janelas para deixar entrar o ar fresco de todas as manhãs. Não pertencendo à geração que viveu amorfa e escondida do resto do mundo, já nascido em liberdade, sinto cada vez mais um Portugal a respirar aquele mesmo ar que os livros de história um dia me ensinaram.

A nossa nação vive politicamente dias conturbados e está mergulhada num manto permanente de um constante frio e gélido ventoso inverno.

Apesar do sol que às vezes brilha ou do calor ardente que se possa sentir, grande parte de nós, cidadãos ávidos de mudança, assistimos ao degradar do poder político que se impõe nos mais relevantes corredores de todas as decisões.

O ar nauseabundo que paira no ar sobre todos nós é pesado. A nossa liberdade individual e os projectos de vida de cada um de nós estão presos e amarrados a uma política e a um conjunto de pessoas que vivem dela e não para ela.

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É de mudanças drásticas e de novas políticas que o país precisa para se encontrar.

Talvez os protagonistas para fazer nascer um novo Portugal ainda estejam por perceber o que é isto de fazer política ou talvez mesmo ainda não tenham nascido, porém, se tudo for como tendo sido até aqui, a escola que forma uma nova geração de putativos governantes que já se vai sentando em algumas cadeiras do poder político, previamente injectados de vícios e traços de personalidade semelhantes àqueles que os ensinam, não nos pode deixar descansados, e o nosso olhar, que devia estar direcionado para um futuro esperançoso, vai tropeçando sempre na tristeza de sentir um Portugal cada vez mais pobre.

Hoje não temos políticos. Não temos homens nem mulheres de Estado.

Vivemos numa atmosfera castradora da liberdade no sentido mais amplo da palavra.

Governar, hoje, é tão somente navegar à vista, ao sabor do vento que vai soprando, sem direção definida, sem rumo, sem uma trajectória pensada a longo prazo.

Estamos no limiar da paciência para as sistemáticas campanhas de lavagem de roupa suja e para o passar de culpas.

Os casos políticos que têm vindo a público, que são de facto graves, não estão de acordo com aquilo que é, ou deveria de ser, o estar na política e na vida pública e vai-se denegrindo a imagem de um país que urge tornar-se sério, que simultaneamente descredibiliza a sensação de participação por parte dos cidadãos que de certa forma se encontram num estado de revolta interior ao assistir que a nossa sociedade vai paulatinamente caminhando para a podridão. Falta-nos alguém que nos dê confiança para continuar com vontade de acordar todas as manhãs e sentir que vai valer a pena.

O surgimento recente de novas forças políticas, que acenam a bandeira da moralidade política, parecia ser a barca que navegava em direção às águas da salvação nacional. Mas rapidamente o discurso e a sua forma de estar, demonstrou total incapacidade de compreender o momento das causas públicas e as soluções ficam na gaveta. Tudo isto porque se julga que não é preciso dar respostas sérias, mas sim fazer políticas aos berros e com soundbites. Utiliza-se a oratória que o povo quer ouvir, a demagogia mais barata ao sabor do momento, mistura-se uma grande dose do mais bacoco populismo e a coisa está feita. Uma desilusão, portanto, que culminou numa oportunidade perdida para virar ao tão necessário e urgente novo rumo.

Na vida política, aquela a que assistimos pelos penosos dias que vão passando, os protagonistas ideológicos são os mesmos. Alguns, ainda em estágio, que não passam de meros aprendizes de política, o mais certo é serem eles no futuro os timoneiros desta nação. Nada de novo portanto, e lá vai o testemunho passando de geração em geração como se a política fosse um negócio de família. E não será que para muitos assim é entendido?

Porém, os seus tutores são aqueles que hoje nos governam e os ensinam a serem os futuros donos disto tudo.

Na essência desta aprendizagem está em como não ter ética política nem qualquer espécie de moral. Para além de outras coisas, claro está. É importante ter boa nota na cadeira “como fazer ruinosos negócios com o estado” e, por conveniência, será preferível que estes “ alunos” passem, antes de entrar no circuito político, a ter acesso aos grandes escritórios de advogados do país onde quase tudo se prepara.

Então, que esperar do futuro?

Pois bem, nada. Será este o sentimento generalizado? Estou em crer que errarei por pouco.

Não esperamos rigorosamente coisa nenhuma e nada pior que ver todos os dias a esperança a desfazer-se perante o nosso olhar incrédulo, na tentativa de perceber como chegamos até aqui.

Assistimos a uma nova geração que é capturada pelas juventudes partidárias, que não são mais que fábricas de produção de ideologias, que os vão instrumentalizando a seu belo prazer para as mais diversas causas políticas. De onde em vez são premiados com uns escassos minutos de fama.

E depois? E depois, vai-se a ver e nada. Um vazio completo e uma ausência atroz, quase incompreensível.

Se pararmos por momentos e nos questionarmos, chegaremos rapidamente a esta conclusão: estamos mal mas também não estaremos melhor enquanto esta nova geração não pensar por ela mesma e não lutar pelas causas em que acredita, sem que os outros lhe ditem uma qualquer agenda. Acreditar em causas tem por base conhecer a origem da questão, estudar o problema e apresentar soluções. Não tenhamos dúvidas.

As juventudes partidárias, que sempre as houve, é certo, são hoje a preparação dos políticos de amanhã. Talvez seja este o seu verdadeiro “objecto social”, mas é claramente notório hoje que estas “escolas” estão cheias de vícios e de manhas, onde depressa se aprende o jogo de como aceder ao poder.

Não se aprende o jogo da política limpa, não se aprende a forma de como dialogar, comunicar e construir pontes com os outros de ideias diferentes, com simples intuito de elevar a nação; o seu único e claro objetivo é conseguir entrar pela porta que dá acesso ao corredor do poder.

Este diagnóstico deve deixar-nos descansados? Obviamente que não.

Continuaremos pagando um elevado preço para assistir involuntariamente a este triste espectáculo.

Não há hoje diálogo entre os vários agentes políticos. Há lirismo, gritaria e palmas, muitas palmas para quem se dirigir ao adversário com a mais engraçada piada.

Poucos são os políticos que percebem hoje o alcance desta tão nobre palavra que é a política. Há simplesmente o desejo de chegar depressa ao poder custe o que custar.

Há arrogância, maledicência e gritos, muitos gritos, num ambiente parlamentar que parece tudo menos a casa onde nasce, ou deveria nascer, os pilares do crescimento económico e social na tentativa de criar uma sociedade cada vez mais justa e igualitária.

A fraca qualidade dos nossos políticos, que provém da inexistência no chamado mundo real, não lhes dá a devida noção de como governar. Poucos são os que conhecem as dificuldades das pequenas empresas e dos cidadãos em geral. Passam directamente das juventudes partidárias para deputados, outros nem por aí, crescendo na sua incubadora para se poder chegar até onde der, de preferência a cargos públicos de elevado relevo. Para isso é preciso ganhar eleições e far-se-á de tudo para o conseguir, esquecendo verdadeiramente o que é e o que significa ganhar eleições e ter na mão a responsabilidade do mandato que lhes é conferido pelo povo.

Se grande parte da nossa podridão política nasce nos ninhos do comodismo partidário, é preciso rever como se porta hoje e qual é o verdadeiro papel das juventudes partidárias.

Poderemos, de acordo com a experiência que nos é dada a conhecer, depositar nelas alguma esperança na mudança económica e social de que Portugal tanto precisa?

É urgente que esta nossa vaga de políticos, que se prepara desde cedo para comandar os destinos desta nação, tenha a noção do que é e para que serve a política. De qualquer forma, estando uma grande parte da sociedade política ausente de ética e de moral e totalmente despida de amor incondicional pelos outros, de nada valerá estar na vida pública. Porque de facto, sem amor e respeito pelo que se faz, sem amor e respeito pelo que se diz, e sem amor e respeito pelo outro, estar na vida política sem entender os valores que a ela estão associadas é estar no completo vazio e numa total ausência de intelecto humano. De bolsos cheios é certo, mas num vazio interior enorme.

Podem todos eles aprender as mais brilhantes técnicas e tácticas políticas, podem aprender a melhor oratória e o marketing político, mas sem valores, sem pensamento próprio, autenticidade individual e verdade, a nossa sociedade será o alvo perfeito para uma ascendente proliferação de pobreza a todos os níveis que poderá culminar numa revolução social sem precedentes.

Cabe a esta nova geração pensar se deseja viver à conta da política e do estado, ou viver de forma digna para os seus concidadãos.

Tristemente julgo que a primeira opção é aquela que rapidamente aflora no pensamento dos líderes das juventudes partidárias com todas as consequências futuras que daí podem advir. Sempre, mas sempre, porque não se pensa e não se sabe o que é a política nem o que ela serve.

Mas há algo que talvez todos os políticos, os de hoje e do amanhã, se estejam a esquecer: é preciso ter algum medo do povo porque há muito tempo que o povo deixou de ser sereno.