No próximo dia 28 de Maio os militantes do PSD terão oportunidade de decidir o futuro próximo do partido escolhendo entre duas alternativas dignas, mas não particularmente entusiasmantes: Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva. Poderiam ser umas eleições internas relativamente banais e desinteressantes se o PSD não enfrentasse actualmente uma verdadeira crise existencial com a qual o próximo líder, seja ele quem for, terá necessariamente de lidar.

Afastado há muito tempo do poder, e com a maioria absoluta de António Costa a colocar como horizonte mais provável uma longa década ininterrupta de poder socialista, o PSD vê o seu principal elemento agregador – a vocação de poder – colocado em causa. Enquanto partido catch-all para o espaço que vai do centro à direita, ser a alternativa natural e óbvia de governo ao PS foi sempre vital para o PSD gerir a sua ambiguidade ideológica e acomodar múltiplas tendências e facções abrigadas na grande tenda laranja.

A ameaça hegemónica do PS, conjugada com o sucesso, crescimento e consolidação eleitoral da IL e do CH colocam pela primeira vez em causa o papel historicamente incontestado do PSD no sistema partidário português. O facto de o próximo líder não ter assento no Parlamento tornará ainda mais difícil a sua tarefa, ainda para mais considerando que a arena mediática está longe de ser favorável ao PSD. Nesse sentido, os militantes do PSD devem ponderar também qual dos candidatos está em melhores condições para, juntamente com as respectivas equipas, dar sequência política às propostas apresentadas, de forma a conseguir voltar a construir uma alternativa de governação credível ao PS.

A notória tendência de fragmentação da direita a que temos assistido em Portugal – aliás em linha com com o padrão mais comum no resto da Europa – faz com que a capacidade de o próximo líder do PSD federar e liderar várias sensibilidades e tendências diferentes no espaço do centro-direita vá ser um factor decisivo para o seu sucesso. Nem Montenegro nem Moreira da Silva parecem, para já, líderes especialmente mobilizadores, ainda que Montenegro tenha a seu favor um perfil mais combativo e uma experiência parlamentar mais profunda.

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No entanto, a este respeito, talvez a diferença mais relevante seja o destaque dado por Jorge Moreira da Silva à sua intenção de aderir à estratégia – repetidamente exigida por toda a esquerda – de formação de um cordão sanitário para exclusão, a priori e incondicional, do CH. Uma estratégia que muito provavelmente potenciará o crescimento do próprio CH gerando assim o cenário ideal para o PS se perpetuar no poder.

Sem que nenhuma das alternativas seja particularmente entusiasmante, parece assim ser Luís Montenegro quem se encontra em melhores condições para concretizar o desígnio de unir (em vez de dividir ainda mais) o espaço tradicional do PSD. A menos que se acredite que Jorge Moreira da Silva poderá conseguir aplicar com sucesso a estratégia que Rui Rio foi incapaz de executar: uma nova tentativa de aproximação ao centro-esquerda agora com um discurso a enfatizar temas de sustentabilidade.

Mas ainda que Montenegro possa parecer o candidato melhor posicionado para tentar contrariar a trajetória de declínio do PSD ao longo dos últimos anos, é importante que não haja ilusões: os problemas do PSD são hoje bem mais profundos do que a escolha da personalidade que o vai liderar. Seja quem for o vencedor no próximo dia 28, terá pela frente uma árdua tarefa para conseguir que o PSD continue a ser um grande partido com implantação nacional e a alternativa clara de governação ao PS.