É verdade que desde 2015 Portugal já foi ultrapassado em termos de PIB per capita pela Estónia, Lituânia e Eslováquia. Mas que diabo, o dinheiro não é tudo. O progresso de um país vê-se em inúmeros outros aspectos. Por exemplo no nível de desenvolvimento cultural. E aí Portugal pede meças aos melhores. Basta ver os casos recentes com os hipotéticos Museu Salazar e Museu dos Descobrimentos: ainda nem se sabe se vão existir e já incendeiam paixões mais fortes nos portugueses que um Museu do Louvre. O que faz particular sentido no caso do eventual museu sobre o Estado Novo porque, digam o que disserem, ao nível de olhares de carneiro mal morto o do Salazar é ainda superior ao da Mona Lisa. E não deixemos passar em claro que estas polémicas também comprovam que somos um povo com inclinação para a filosofia. Temos uma capacidade de abstracção tão boa, tão boa, que acabamos por ser mais fortes a discorrer sober museus imaginários do que a visitar museus reais.

Um dos museus que estava na calha era o tal Museu dos Descobrimentos. Foi aliás uma promessa de campanha do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina. Mas houve um grupo que se identificou como sendo de “cem pessoas negras” que assinaram uma carta aberta intitulada “Não a um museu contra nós!” e Medina acagaçou-se. O que me leva a crer que se calha ter sido Fernando Medina e não Vasco da Gama a comandar a frota que se propôs descobrir o caminho marítimo para a Índia não tinha sido necessário chegar ao Cabo da Boa Esperança e enfrentar o Adamastor para ponderar voltar para trás. À primeira tainha mais robusta que Medina avistasse à saída do Tejo ali para os lados do Bugio – ala! – era meia volta e casa. A chorar. E com um pinguinho nas ceroulas. Apostrofaria o Velho do Restelo:

Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Espera, paremos a ladainha
Afinal já estão a regressar, chiça Retiro o que disse, estupidez minha

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