Será provavelmente a frase mais ouvida neste verão por todo o país. E embora soe a remoque é na verdade um óptimo conselho: “É melhor ir dar à luz para outro lado que a maternidade aqui está fechada para férias”. Com a expectável balbúrdia que o fecho rotativo das maternidades irá causar nestes meses, creio que se impunha a criação de maternidades de serviço, à semelhança do que já acontece com as farmácias de serviço. Assim que rebentassem as águas a grávida via na internet que maternidade estava de serviço; chegada ao local a parturiente escarranchava-se contra a montra, o obstetra abria aquela portinhola que costuma haver na vitrina para atender fora de horas e efectuava o parto através do postigo. Resolvido o assunto o doutor devolvia a criança à mãe pelo mesmo guichê e recolhiam todos aos seus lares.

Enquanto não é implementada esta solução vai andar para aí tudo o que é grávida a meter para dentro até os centros hospitalares reabrirem em condições. Problema que, de futuro, se resolverá facilmente. Basta que, no âmbito da disciplina de educação sexual, se comece desde já a ensinar à petizada que, além de deverem ter cautela com as doenças sexualmente transmissíveis, é proibido por lei manter relações sexuais com intuito de procriação entre os dias 21 de Setembro e 21 de Dezembro de cada ano. E pronto, daqui em diante garante-se que as férias dos profissionais das maternidades não maçam ninguém. Além de ficar aberta a porta para, caso os médicos, enfermeiros e governo queiram dar uma prova de civismo, se agendar com a devida antecedência as greves do sector acrescentando os dias nove meses anteriores a esses às datas supracitadas.

Ainda assim, nem tudo são más notícias para as exasperadas grávidas estivais. Vejam o copo meio cheio, minhas senhoras – se ainda não o arremessaram a quem insiste em fazer piadas sobre este tema. O lado bom de vivermos num país tão pobrezinho onde nem parir se consegue é que ninguém quer vir para cá. Já sabíamos que era o que acontecia, por exemplo, com os refugiados de guerra sírios, mas agora ficámos a saber que é também o que sucede com o aquecimento global. Portugal nem o aquecimento global consegue atrair! Tanto assim é que por estes dias vai estar um braseiro por essa Europa fora enquanto por cá está bem fresquinho. Que grávida negará que este frescor é uma verdadeira benção?

Além de que não há pressa nenhuma em nascer. É que se antigamente os miúdos iam a pé para o registo, hoje, com o tempo que demora a tirar o Cartão do Cidadão, os miúdos vão no “ovinho” mas saem já a pé do registo. A Secretária de Estado da Justiça, Anabela Pedroso, justifica os atrasos no atendimento para tratar do Cartão do Cidadão com o facto dos utentes irem, “sistematicamente”, para a porta dos serviços “antes da abertura do atendimento ao público”. Realmente, onde já se viu? Ir mesmo para a porta da repartição onde se pretende resolver o assunto, ainda por cima a tempo e horas para garantir ser atendido? É má vontade da parte do cidadão. É muito provável que o cidadão se tenha fartado de ouvir que tem por hábito guardar tudo para o último dia e agora, acintosamente, queira tratar de tudo à primeira hora.

Ainda de acordo com a referida governante, estes atrasos no atendimento são um “fenómeno próprio e específico da procura”. O que é curioso é que esta reacção da Secretária de Estado é também ela um fenómeno próprio e específico da procura. Mas neste caso da procura de desculpas esfarrapadas para justificar um serviço péssimo.

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