O Partido Socialista celebrou no passado dia 19 de Abril 50 anos de existência sob o lema “Um Futuro com História”. Este slogan permite perceber que o PS pretende continuar a fazer no futuro aquilo que tem feito no passado. Por mérito próprio, demérito dos seus adversários e complacência do povo português, o partido tornou-se dominante no nosso regime democrático, basta lembrar que nos últimos 27 anos o PS governou durante 20.

Se é comum dizer-se que o PSD é o partido mais português de Portugal, a verdade é que foi o PS que combinou três características que lhe permitiram assegurar o poder durante tanto tempo: uma fortíssima máquina de propaganda, uma base de votantes alargada e fiel e uma organização interna baseada em lealdades que permitiu estancar lutas fratricidas pelo poder. A verdade é que desde que António Costa conquistou o partido da forma que todos conhecemos, soube unir à sua volta as diversas tendências e protagonistas, dando palco a todos os que provaram ter condições para o substituir; esta foi uma forma ardilosa de ter sob o seu controlo todos os que, se estivessem de fora, lhe poderiam causar problemas. Isto acabou com a saída de Pedro Nuno Santos do governo, e isso poderá ser o ponto de viragem na paz que se tem vindo a viver no PS.

A razão de existir da Iniciativa Liberal, pelo menos a razão pela qual eu me juntei ao partido, é que este representa a alternativa credível ao socialismo, não alinhando em soluções fáceis ou populismos. É por isso que vejo com profunda tristeza que o partido sucumbiu ao populismo e ao politicamente correcto, aprovando um projecto-lei apresentado pelo PS que pretende, entre outras coisas, que “as escolas devem definir canais de comunicação e deteção, identificando o responsável ou responsáveis na escola a quem pode ser comunicada a situação de crianças e jovens que manifestem uma identidade ou expressão de género que não corresponde à identidade de género à nascença” e “as escolas devem garantir que a criança ou jovem, no exercício dos seus direitos, aceda às casas de banho e balneários, tendo sempre em consideração a sua vontade expressa e assegurando a sua intimidade e singularidade”. O último exemplo: “as escolas devem promover a organização de ações de formação dirigidas ao pessoal docente e não docente, em articulação com os Centros de Formação de Associação de Escolas (CFAE), de forma a impulsionar práticas conducentes a alcançar o efetivo respeito pela diversidade de expressão e de identidade de género, que permitam ultrapassar a imposição de estereótipos e comportamentos discriminatórios”.

Sejamos claros, o PS pretende desta forma encobrir o falhanço da sua política educativa, tenta desviar a atenção dos portugueses da situação dramática que se vive nas escolas apostando tudo numa política identitária que não protegerá os alunos com dúvidas acerca da sua sexualidade e sobrecarregará ainda mais os professores, já hoje atolados em burocracia. A política identitária divide, estigmatiza e fragiliza aqueles que supostamente diz defender. Que o PS o faça repugna-me mas não me espanta, que a esquerda corrobore isto é normal, que a Iniciativa Liberal embarque nesta deriva populista apenas me desilude.

A escola é hoje o único meio que os mais pobres têm de ascender socialmente, é através do ensino que os mais desfavorecidos podem sonhar com uma vida melhor. Hoje este lugar, que deveria ser seguro, de aprendizagem, esforço e reconhecimento do mérito, está condenado por greves de professores e por um governo que, incapaz, procura de todas as formas desviar a atenção do que realmente importa. Milhares de alunos continuam sem professores a meio do ano lectivo, e isso irá reflectir-se no seu desempenho escolar posterior, colocando em causa a mobilidade social. Repito, que a esquerda não se preocupe com a classe média que não consegue colocar os filhos nas escolas privadas não me espanta, que a IL não seja a voz daqueles que só querem uma escola com professores a tempo e horas, capaz de garantir a todos as mesmas condições de singrar na vida, desilude-me. Não foi este o partido ao qual me juntei, mas é aquele pelo qual pretendo lutar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR