Para os dirigentes do CDS, os resultados eleitorais do ano passado continuam a ser um enigma. Não os esperavam, apesar das sondagens, e ainda não os perceberam, apesar de todos os debates. Como é hábito da classe política portuguesa, só lhes ocorre, para dar conta do colapso, questões de procedimento e de comunicação (não se souberam explicar, ou os seus eleitores não os compreenderam, etc.).
De facto, o problema da direcção do CDS foi ter tentado, nos últimos cinco anos, fazer tudo bem – de acordo com o que, no regime, se achava bem. Em 2015, quando a geringonça tomou o poder, a oligarquia recomendou aos antigos partidos do governo que se distanciassem de Passos Coelho e “virassem a página”, e o CDS fez isso com muita aplicação. Em 2017, o sucesso autárquico em Lisboa e a saída de Passos levaram-no por outro caminho: afinal, ia ser o grande partido da direita, e o mais agressivo interlocutor de António Costa.
Tudo, de acordo com a sabedoria média do regime, estava certo. Tal como estavam certas as passadeiras pintadas em arco-íris em Arroios, para provar que era moderno, ou o apoio parlamentar a Mário Nogueira, para demonstrar que era “social”. O que não estava talvez certo era a soma de tudo isso: o oportunismo era demasiado evidente. E até agora, nada mudou: os candidatos continuam a tentar ser tudo, como quem pudesse comprar todos os bilhetes para garantir que ganha a lotaria: todos falam de “direita”, mas todos querem “dialogar” com o PS; todos se propõem ser muito definidos, mas todos desejam integrar as mais variadas correntes; etc.
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