Luís Montenegro terá uma vida muito difícil como líder do PSD. Nunca outro líder recebeu o partido em tão mau estado. Eis a herança de Rui Rio: um partido dividido, o qual começou agora a unir-se, tendo em conta o resultado eleitoral de Montenegro; um partido sem capacidade de atrair figuras destacadas da sociedade civil e independentes; o espaço politico das direitas fragmentado, com a consolidação de dois novos partidos, o Chega e a IL; e um PS com maioria absoluta.

Bem sei que muitos acham que é tempo de olhar para a frente e ignorar o passado recente. Eu discordo. Os consulados de Rio foram tão maus que não podem ser esquecidos e devem ser enterrados definitivamente. Rio quis acabar com um partido cuja natureza foi sempre, desde a sua fundação, a de federar as várias sensibilidades do centro para a direita. Quis substituir esse grande partido por um pequeno partido com uma pureza ideológica, social democrata, que o PSD nunca teve, nem poderá ter. Tal como não poderá ser um partido liberal, nem conservador, nem democrata cristão, nem nacionalista. Terá que agregar todas essas correntes que representam a sociedade portuguesa não socialista e não esquerdista.

Moreira da Silva levaria o PSD pelo caminho da irrelevância. Substituiria a obsessão de Rio pela social democracia germânica por uma obsessão pelo centrismo francês à la Macron. Ninguém foi capaz de explicar a Moreira da Silva que os consensos ao centro só levam ao crescimento dos extremos. Veja-se o caso de França: o triunfo de um partido centrista, que resultou do fim dos partidos tradicionais de direita e de esquerda, é o outro lado de uma moeda onde os extremismos sobem. Nenhum país da Europa tem neste momento forças radicais tão poderosas como o país onde o centro governa. O problema do centro é que perde identidade ideológica e doutrinal e passa a depender de uma figura, como Macron em França. E o que acontece depois de Macron?

Portugal continuará com um sistema multipartidário, nunca será um sistema bipartidário puro, mas com Montenegro poderá voltar a ter um sistema com dois grandes partidos, e quatro ou cinco mais pequenos. Neste momento, a questão decisiva para a política portuguesa é saber se o PSD continuará a ser um grande partido como o PS. Os socialistas são hegemónicos na esquerda. Depois, na direita, há dois cenários possíveis. Um PSD grande, com um Chega, uma IL e, até, o CDS pequenos. Ou três partidos todos médios, incluindo o PSD. São cenários muito diferentes. No primeiro, o PSD pode voltar a derrotar o PS. No segundo, a hegemonia do PS acabaria por se estender da esquerda para todo o sistema politico. A hegemonia socialista começou com Rio, e cresceria com Moreira da Silva. Com Montenegro, o PSD pode voltar a ser grande.

Os militantes do PSD não só querem que o partido sobreviva, como querem que a democracia portuguesa não seja engolida pela hegemonia socialista. Como disse no início, a tarefa de Montenegro será muito árdua e complicada. Mas só há um caminho: fazer oposição ao PS de manhã à noite, sete dias por semana, 24 horas por dia. Só assim poderá mobilizar todo o Portugal não socialista, todos os portugueses que sabem que o destino dos países governados à esquerda é a pobreza e a desigualdade. Tudo o que não seja fazer oposição ao PS é secundário e é uma distração.

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