Quem regressou de férias até ficou abananado com tantas boas notícias. O Primeiro-Ministro brindou os recém-chegados com um conjunto de anúncios que nos fizeram lembrar outros tempos triunfais do Partido Socialista.

Por um instante, quem ouviu o discurso de António Costa no encerramento do congresso socialista pensou ter recuado no tempo. O tempo em que José Sócrates garantia que ia criar 150 mil empregos, que ia aumentar a função pública, que ia fazer o país crescer acima dos 3% e que os nossos impostos se iam manter baixinhos. Estávamos em 2009 e o país vibrava com o “menino de ouro” que comandava o PS e o país. Na altura, a trilha sonora que acompanhava os discursos de Sócrates transportava-nos para o triunfo de um líder. A música do filme O Gladiador sugestionava o incrível mundo do então líder socialista. Em 2011 entrámos em bancarrota.

Regressemos ao presente. Daqui a poucos dias há eleições autárquicas. Altura certa para anúncios de monta. António Costa promete nada mais nada menos do que: mais lugares nas creches; mais apoios às crianças em situação de pobreza; um investimento de 900 milhões de euros na recuperação das aprendizagens nas escolas e a extensão dos apoios aos mais jovens; um choque fiscal para os mais jovens, com o IRS no mínimo e os apoios a quem regressa ao país no máximo. No final do discurso, António Costa vibrava ao som de Vinceró, de Puccini, imortalizado pelos maiores tenores da atualidade.

É a realização do sonho de um país melhor. Mais justo, mais próspero, mais equilibrado. Mas onde andou António Costa estes anos todos que já leva de Governo? Será que, tal como o rei Midas, Costa está a ser recompensado pelos deuses e teve direito a pedir um desejo? Ou o desejo é mesmo a possibilidade de ir ao banco buscar o dinheiro da bazuca para continuar a garantir vitórias eleitorais?

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Os socialistas são mestres na arte da comunicação e da encenação. Acho mesmo que chegam a acreditar nas promessas que fazem, no calor do discurso triunfal. Mas Portugal não é um filme. O dinheiro não cai do céu (até o BE já percebeu) e o risco de passar de um filme cor-de-rosa para um filme de terror em menos de um ápice é cada vez mais real.

O discurso de Costa em 2021 tem tanta adesão à realidade como o discurso de Sócrates em 2009. Pensar que agora é que é, que vai haver dinheiro para tudo e para todos, só pode dar mau resultado. Ou porque não vai acontecer, hipótese má. Ou porque, a acontecer, a fatura vai chegar mais cedo do que tarde, hipótese péssima.

Os milhões da bazuca não são para distribuir brindes. São para financiar a mudança necessária na nossa economia, para tentar competir com os nossos parceiros, que por acaso também têm bazucas.

Os Portugueses já deviam saber que devemos fugir a sete pés dos sonhos megalómanos dos nossos políticos. Bem sei que o silêncio da oposição ajuda a fazer crescer o sonho de António Costa, mas já diz sabiamente o povo que “quando a esmola é muita, o pobre desconfia”. E é mesmo para desconfiar.