Já contei nestas páginas, mas vale a pena recordar o episódio sobre Woody Allen num jantar de homenagem a uma actriz de Hollywood. Na sua nova versão, a senhora era uma grande defensora de todo o tipo de direitos e uma amiga das causas mais nobres. Fez um discurso muito eloquente, cheia de convicções, e no fim foi aplaudida por todos. Woody Allen foi o único que não aplaudiu. Admirado, um vizinho na mesa perguntou: “Woody, como é possível não gostares dela (vamos chamar à nossa actriz Petra Saint)?” Woody Allen respondeu: “Sabes, já conhecia a Petra antes dela ser virgem.”

PNS é a Petra Saint da política portuguesa. Esteve um verão fora do governo, depois de passar oito anos ao lado de António Costa, e aparece como se não tivesse nada a ver com o que se passou em Portugal desde 2015. Apresentou-se como uma virgem vinda do paraíso socialista e excitou com o seu fervor ideológico as Santonetes do PS.

Como o descaramento tem limites, até para PNS, confessou que cometeu erros e que carrega cicatrizes. Sim, os portugueses sabem que PNS cometeu erros, e muitos e grandes. Muitos de nós passámos oito anos a apontar esses erros. Uma palavra de agradecimento a PNS por nos dar razão. O que PNS não disse, mas nós sabemos, é que irá continuar a cometer erros. Normalmente, quem comete erros continua a cometer erros, não muda. Só há uma diferença importante. Como PM, PNS cometeria ainda erros muito mais graves dos que cometeu como ministro.

Os portugueses conhecem bem o PNS pré-virgindade. Sabem que por causa de um capricho ideológico, gastou mais de 3 mil milhões de euros dos bolsos dos contribuintes portugueses com a TAP. Habituado a gastar dinheiro como um adolescente mimado, gastou muito mais como um ministro teimoso. Também sabemos que gosta de falar com voz grossa e de fazer ameaças infantis, do género não se paga a quem nos empresta dinheiro. Mas esse vozeirão transforma-se rapidamente em fraqueza, como quando implorou a António Costa para o deixar ficar no governo depois de ter anunciado o local do novo aeroporto sem ter pedido autorização ao chefe. Os portugueses também sabem que PNS como ministro nada fez para melhorar a qualidade dos serviços públicos ferroviários em Portugal. E não lhe faltou tempo, mas andou a gastá-lo em campanhas internas no PS para chegar a líder, em ver de fazer o seu trabalho e governar.

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Agora, com uma grande dose de oportunismo político, PNS quer passar a ideia que nada tem a ver com as antigas lideranças do PS. Mas foi um dos maiores apoiantes da geringonça e fazia parte do núcleo duro de Costa nos anos do frentismo de esquerda com o PCP e com o Bloco. Depois do governo de Sócrates ter levado Portugal à bancarrota, PNS andou em campanha eleitoral a dizer aos portugueses que “José Sócrates era o único líder que colocava Portugal à frente de tudo.” Não, PNS não apareceu de repente num início de uma noite de nevoeiro, a 13 de Novembro. Esteve sempre no PS das últimas duas décadas ao lado de Sócrates e ao lado de Costa. Com ele, o PS continuará a ser o partido de Sócrates e de Costa. António Costa também nos disse que Sócrates era o problema. PNS diz agora que Costa é o problema. No PS, o último líder é sempre o problema. Mas não, o problema é o PS.

Finalmente, os portugueses também não se esquecem do modo como PNS saiu do governo. Depois de permitir uma indemnização de meio milhão de euros a uma antiga administradora da TAP, esqueceu-se de o ter feito e mentiu aos portugueses. A verdade estava perdida entre as mensagens do seu telefone.

Quando apresentou a sua candidatura, a imaturidade com que quis recuperar a sua virgindade política levou-nos a pensar se estava a candidatar-se à liderança do PS ou da JS. Há em PNS um lado adolescente que reconhece ter cometido erros quando fala para os adultos. Tem carisma, é verdade. Fala com energia e convicção. Como dizem as suas admiradoras socialistas, “os seus olhos brilham” no meio de “um olhar penetrante.” Exprime-se como um romântico da política, tipo Manuel Alegre 2.0.

Com tanto fervor, PNS talvez se tenha esquecido do estado em que os seus governos deixaram Portugal. A saúde pública num caos, a educação pública sem rumo, as instituições e o estado de direito degradados, a democracia em crise, os jovens educados a fugirem do país, impostos altos e ordenados baixos. Numa situação tão grave como a que vivemos, deve perguntar-se aos portugueses: querem um adolescente eterno, um jovem imaturo e irresponsável à frente do governo do país?