Hoje, para início de conversa, uma confissão. Realizei uma introspecção bem ao âmago do meu ser e concluí que, além de ter de lavar melhor as mãos para retirar uma gosma esquisita que me ficou debaixo das unhas, preciso de ser uma pessoa mais optimista. Constatado este facto, procederei em conformidade.

Por isso trago óptimas notícias. Pelo menos para quem, de entre aqueles que vão ler estas linhas, for um cão. Isto porque, há escassos dias, inaugurou-se em Portimão o remodelado Centro de Recolha Oficial de Animais, infra-estrutura que recebeu profundas obras de remodelação no valor de 870 mil euros. Se juntarmos a isto a notícia de que, segundo o Orçamento do Estado para 2024, Portugal vai ter uma rede de hospitais veterinários públicos, rapidamente se constata a necessidade de proceder a ajustes ao nível das expressões populares.

Assim, a expressão “ter uma vida de cão” deixa de significar “ser maltratado, ou não ter o mínimo de comodidade” e passa a querer dizer “nível de vida com o qual o português médio pode apenas sonhar, e mesmo para isso precisaria de estar fortemente alcoolizado. O que não é possível uma vez que o orçamento familiar não chega para jolas, porque infelizmente não somos nenhuns Golden Retrievers.”

Espero é que a par da construção deste tipo de alojamentos para cachorros haja um reforço de orçamento para o ministério da Administração Interna. É que, ou muito me engano, ou vamos precisar da presença assídua da GNR para correr com uma data de donos abandonados pelos cães à porta destes Hotéis Cãorad de 5 estrelas.

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Os tempos vindouros poderão, ainda assim, ser mais promissores para a saúde de alguns proprietários de cães. Nomeadamente para a saúde daqueles donos que são iguaizinhos aos seus bichanos. Com um bocado de sorte dá para usar o cartão de utente do animal para, em vez de esperar mais sete meses pela consulta de oftalmologia, ser atendido no hospital veterinário:

Veterinário: Ora, muito bem. Então temos aqui o… Pantufa?
Dono do Pantufa, que é igual ao Pantufa: Sim, sim! Aliás, ão, ão!
Veterinário: Certíssimo. Portanto, viemos ver esses olhinhos.
(Dono do Pantufa põe a língua de fora, ofegante porque eufórico)
Veterinário: Muito bem, meu Pantufinha, vamos esperar um minuto, que o Dr. Fernando está só ali a acabar o exame à próstata de um equídeo e vem logo directo para aqui.
(Dono do Pantufa de orelhas caídas, resignado, até humilhado, mas pelo menos em breve atendido).

Já que falei de vidas de cão, não posso deixar de referir a entrevista ao Observador daquele que nos poderá pastorear a partir de março – Deus nos livre –, o pitbull Pedro Nuno Santos. Pontos altos da conversa: a apresentação orgulhosa do CV de Pedro Nuno Santos, pelo orgulhosíssimo Pedro Nuno Santos, e a constatação de que o orgulhoso Pedro Nuno Santos não deixa o seu orgulho ser afectado pela ignorância de factos bastante básicos para quem foi duas vezes ministro, tais como qual o salário mínimo nacional. Embora, na verdade, o tal currículo que mais não tem que “todo um percurso que é feito dentro do PS” deixe claro que a orgulhosa ignorância tem muito mais por onde nos surpreender.

No fundo, Pedro Nuno Santos, ou PNS na versão “concentrado de carisma”, é uma espécie de fusão do tal percurso repleto da ocupação de cargos da mais elevada inutilidade cujo exclusivo resultado é dotar um indivíduo das ferramentas indispensáveis para jamais ser capaz de fazer qualquer coisa de útil na vida, com o SNS, que se este menino se apanha connosco na mão, aí é que vamos ver o que é bom para a saúde.