Sempre me considerei um homem da ciência. Um gajo da ciência, vá, que a vastidão do espaço e a imensidade do tempo convidam à modéstia. Mas confesso que ultimamente as minhas convicções acerca, por exemplo, da teoria da evolução de Darwin, têm sido bastante abaladas. E o último tremor teve como epicentro a notícia de que os macacos não esquecem os amigos mesmo passados 25 anos. Donde se prova que o Homem nunca teve nada a ver com símios. Basta ver como, ainda há escassas semanas, António Costa, numa questão de minutos, se esqueceu, instantaneamente, do seu melhor amigo de todos os tempos, Lacerda Machado. Vai-se a ver e na lista dos Darwins que foram um flop, o que vendemos ao Liverpool está só em segundo.

Já no que aos partidos políticos diz respeito, a situação parece diferente. Quando falamos em agremiações partidárias a coisa já remete mais para o simiesco, de facto. Pelo menos a julgar pela declaração de Pedro Nuno Santos segundo a qual o PS tem uma “dívida infinita e eterna” para com António Costa. Ou seja, aconteçam no Partido Socialista as macacadas que acontecerem, jamais se esquecerá a dívida para com Costa. O que é curioso, uma vez que também fora do PS nunca nos esqueceremos das macacadas dos governos de Costa, muito à conta das quais o país tem uma dívida infinita e eterna para pagar.

O que é mesmo pena é que logo agora que Pedro Nuno Santos ganhou tão claramente a eleição para secretário-geral do PS, e quando havia tanto entusiasmo com a perspectiva de ser o nosso próximo primeiro-ministro, o Carismático Anunciador Precoce de Aeroportos seja obrigado a abandonar tão promissor futuro político. Quer dizer, ainda não abandonou, mas vai abandonar, certo? Infelizmente, não me parece haver outra hipótese, perante tão avançado caso de Alzheimer. Então agora o homem promete resolver tudo o que é problema do país sem ter qualquer memória de ter sido um dos principais obreiros do estado lindo a que chegámos? Na melhor das hipóteses estamos na presença de um caso terminal de amnésia. Não tem condições para avançar, o nosso Joe Biden de São João da Madeira.

Sim que Portugal não se pode dar ao luxo de ter um primeiro-ministro com memória de peixe. Quer dizer, se fosse esse o caso, pelo menos sempre haveria alguém no país com memória de peixe. Que da forma como sucessivos governos do PS deram cabo do nosso poder de compra, já não se encontra por aí muita gente com recordação da última vez que uma dourada, ou um robalo, lhe passou pelo estreito.

Sendo que a sorte de um eventual Pedro Nuno Santos primeiro-ministro amnésico seria poder sempre ir a Badajoz tratar disso. Não exactamente curar a amnésia, mas pedir ao António Costa espanhol, Pedro Sánchez, para lhe lembrar como é que se conserva o poder negociando com extremistas. E o primeiro-ministro espanhol contar-lhe-ia o último caso de grande sucesso dos socialistas locais, ao ajudarem os herdeiros da ETA a conquistar a Câmara Municipal de Pamplona. Se por cá, com a geringonça, Costa derrubou o muro, em Espanha os socialistas andam ao colo com malta que, por via de toda a sorte de rebentamentos, se fartou de derrubar muros.

Dir-se-ia estarmos na presença de uma tragédia moral. Uma tragédia moral quase tão grande como os escritos de António Filipe, Membro do Comité Central do PCP. Diz o professor universitário que Se houvesse alguma autoridade moral do “ocidente” para dar lições ao resto do mundo em matéria de democracia e direitos humanos, teria morrido na Palestina.”Se”, senhor professor? Então em que outra parte do mundo o senhor professor crê ser mais respeitada a democracia e os direitos humanos? Não responda, que é fácil depreender do seu artigo. Em qualquer um daqueles lugarejos pejados de anti-semitas cujo único objectivo é a destruição do “Estado pária” de Israel, certo? A verdadeira tragédia moral do ocidente é que gente como António Filipe não fique a falar sozinha com um candeeiro de rua.

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