Nos últimos anos as empresas têm enfrentado grandes desafios. Crises de diferentes naturezas, adaptação a novos modelos de trabalho e a alterações legislativas, entre outros. Para algumas organizações, o futuro será uma abordagem colaborativa, na qual se procura o equilíbrio. O fator humano continuará a ser essencial, tal como a visão, a comunicação ou a capacidade de liderar, mas, perante uma economia cada vez mais digital, um dia, estas competências deixarão de ser suficientes.

Ainda assim, o domínio do digital não será a única grande mudança. Outros desafios, como conflitos geopolíticos, questões éticas, alterações climáticas (que serão cada vez mais visíveis), cibersegurança, inclusão e igualdade de oportunidades serão, também, temáticas a considerar. Estes não são problemas novos, mas precisarão cada vez mais de respostas firmes e urgentes.

Um estudo recente da NBER (National Bureau of Economic Research) analisou várias descrições de vagas de emprego para o cargo de CEO e destacou a predominância das soft-skills face às competências técnicas. Entre as competências mais procuradas encontra-se a inteligência emocional, útil em empresas como tecnológicas, nas quais o diretor executivo assume a gestão e a coordenação de pessoas com muito mais conhecimentos e experiências na área. A questão é: estarão os CEO’s preparados para tantas mudanças de paradigma?

Imaginemos uma empresa com menos hierarquias, que pertence e é gerida por acionistas, sem um CEO, e em que as regras, estruturas e funções básicas são automatizadas por um código (token) pré-programado – o conjunto de pessoas que integra a organização une-se para a gerir. Este é o conceito por detrás das “DAO’s” (Decentralized Autonomous Organizations), as empresas que aplicam um novo modelo de organização que pretende erradicar os líderes tradicionais.

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Como todos os modelos, este também tem as suas vantagens e desvantagens. Para começar, neste organograma não existem intermediários, na medida em que, independentemente da sua função, a empresa é gerida por todos os membros, o que aumenta a transparência e a influência nos processos de tomada de decisão. Contudo, por outro lado, aumenta as ineficiências, uma vez que todas as resoluções têm de ser votadas por todos, e pode potenciar a centralização mediante a antiguidade na empresa. Por fim, e como é um modelo recente, se o código não resultar, as pessoas podem deixar de confiar na empresa e esta corre inúmeros riscos.

Em suma, este é um conceito inovador que ainda carece de um teste mais longo, mas, por agora, todos os sinais indicam que, quando implementado segundo o conceito original, os códigos (tokens) são gerados automaticamente e ninguém poderá influenciar o resultado para seu benefício, o que transmite a ideia de segurança e consistência. Muitos defendem que a ascensão do modelo DAO vai transformar a forma como as empresas no geral são administradas. Há, até, quem vá mais longe e acredite que este modelo mudará o esquema relacional da sociedade em geral.

Estes são conceitos básicos para empresas ligadas à criptologia, tendo em conta que muitas nascem já dentro do modelo DAO. O que será interessante de observar é a forma como o restante tecido empresarial, com tantas mudanças nos últimos anos, estará pronto para o compreender e implementar.