Poderíamos pensar que os primeiros a manifestar-se contra esta deplorável, direi até demoníaca, expressão de capitalismo seriam, entre outros, Francisco Louçã, Catarina Martins e a dupla das Mortáguas. Mas não. Previsivelmente, tal não aconteceu. A condição dos pés-de-barro não permite. Para os bloquistas “é sorrir e acenar, rapazes”. Porquê? Porque a moral e os ditames de comportamento exigidos pelo BE só se aplicam a terceiros. Foi precisamente isso que afirmaram o Grande tele-evangelista e as suas fervoras “Acólitas”.

O desgraçado que é proprietário dum T1 ou de um pequeno negócio está lixado. Mas, o camarada Ricardo Robles é um deles e, como tal, pode ser proprietário do que bem entender. Deve, porém, notar-se que já não é um trotskista qualquer. Não. Robles é um trotskista especulador que gosta muito do capital.

Por ter esvaziado a moral bloquista ou, se preferirem, retirado todo o capital de credibilidade ao BE, o “trotskitalista” Robles deve agora prosseguir a prática especulativa. Tem a obrigação de utilizar os milhões de euros de lucros na aquisição de mais imóveis. Todavia, esta deve observar alguns critérios. É imperiosa a compra de prédios com inquilinos, lojistas de preferência, que paguem rendas baixas para serem “convidados a sair”. Quantos mais desempregados o “trotskitalista” Robles conseguir melhor. O BE, para além de necessitar de manter as bandeiras do Alojamento Local (AL) e da especulação imobiliária desfraldadas, também precisa de engrossar as fileiras. Por esta altura, os anteriores inquilinos da Rua do Terreiro do Trigo são simpatizantes do BE que se expressam contra a especulação imobiliária exigindo uma casa ao Estado. Contam, é claro, com o apoio e protecção do Santo Robles e restante seita. Quem é que acreditará que o “trotskitalista” Robles foi capaz de os fazer rescindir os contratos? E, se os imoveis dele forem utilizados para AL, azar. Tratar-se-á de um (in)feliz acaso. Não sei se sabem, mas o AL só é mau se for dos outros. Sendo propriedade privada dum bloquista é uma bênção. Tudo o resto são “fake news”.

Perante a reacção dos outros membros da seita, julguei estar a testemunhar um paradoxo de Tolman. Tive que esfregar os olhos várias vezes. Parecia que o televisor estava sem cores e que tinha voltado aos tempos do PREC. Só faltava Álvaro Cunhal. Todavia, em sua substituição estava Mariana Mortágua a decretar ininterruptamente as virtudes de quem perde a vergonha de ir buscar o dinheiro aos acumuladores de riqueza porque os ricos são o diabo (e o Robles mesmo ali ao lado).

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O que a Mariana Mortágua sabe da Revolução dos Cravos deve ter sido fantasiado pela sua família. Quase de certeza que não teve conhecimento de todos os episódios que fizeram o período em questão. Saberá, certamente, que na altura também tentaram acabar com os ricos. Mas será que tem conhecimento da conversa entre Olof Palme e Otelo Saraiva de Carvalho? Olof Palme ficou na história por ter conseguido conjugar eficazmente uma economia de mercado com um Estado Social. Pouco depois do 25 de abril, questionou Otelo sobre os seus objectivos para Portugal, A resposta imediata deste, que surpreendeu o sueco, foi: “Queremos acabar com os ricos”. Olof Palme respondeu: “Curioso, nós na Suécia queremos é acabar com os pobres”.

A riqueza não é indecente. A pobreza é que o é! O camarada Robles está a aprender isso. Longe vão os tempos em que se orgulhava das ocupações, das nacionalizações e das cooperativas de habitação. E aprendeu a especular em três tempos. Primeiro, adquiriu propriedade pública ao preço da uva mijona. Segundo, conseguiu financiamento no banco do Estado praticamente sem meios para o efeito. Finalmente, apenas pelo infortúnio de trabalhar onde trabalha, obteve permissão para obras em tempo recorde. Hoje, o “trotskitalista” Robles envaidece-se com a propriedade privada. A sua! Força Robles, estou contigo! Não na imoralidade ou na incoerência ideológica. Na defesa da iniciativa privada e do capitalismo! Só posso desejar que converta os seus correligionários.

O Grande tele-evangelista está para além da redenção. Mas a “acólita” Mariana devia aprender com a história e, particularmente, com os suecos. Os portugueses deviam aprender que nenhum partido da esquerda alguma vez fará com que Portugal possa ser parecido com a Suécia. Por falar em redenção, não é difícil entender porque é que a esmagadora maioria dos bloquistas não acredita em Deus ou em qualquer outra divindade. A resposta é simples: não gostam de concorrência.

Os dirigentes do BE, profundamente intolerantes e antidemocráticos, começam a não conseguir mascarar a sua incoerência. Espero que o bom senso do povo português se manifeste nas urnas. Este tipo de gente, Francisco Louçã, Catarina Martins, as irmãs Mortágua e os Robles que por lá pululam, são autênticos vendedores da banha da cobra: prometem o que não tem e exigem o que não fazem!

Politólogo, Professor convidado EEG/UMinho