A grande surpresa das sondagens não são os valores fracos do PSD, nem a incapacidade do CDS de beneficiar da crise dos sociais democratas. O mais espantoso é o facto do PS não estar confortavelmente na zona da maioria absoluta. Portugal viveu três anos de propaganda optimista, o “fim da austeridade”, a “restituição dos rendimentos”, de paz social, com os sindicatos aliados à geringonça, e de uma excelente cooperação entre Belém e São Bento. Como é possível que no país “maravilhoso do senhor feliz (Marcelo) e do senhor contente (Costa)” o PS não tenha pelo menos 45% nas sondagens?

Em primeiro lugar, apesar de toda a propaganda socialista e dos esforços do governo para reduzir o défice, os portugueses não esquecem o que aconteceu em 2011. O sofrimento foi demasiado grande para esquecer o desastre. Apesar de seis anos seguidos a atribuir as culpas a Passos Coelho pelo que aconteceu, os portugueses sabem que o culpado foi o governo socialista de Sócrates. Também sabem que Costa foi o número dois de Sócrates e que muitos dos actuais ministros estavam no governo em 2011. Para mal do PS, a realidade, sobretudo quando é dura, é mais forte do que a propaganda. Além disso, enquanto os portugueses sofriam com o peso da austeridade, descobriam que o líder socialista que levou o país à falência, levava uma vida extravagante e luxuosa, com gastos milionários e dinheiro com uma origem duvidosa.

Em segundo lugar, o comportamento de António Costa não inspira confiança. Há três anos colocou o PS muito à esquerda, junto dos comunistas e dos bloquistas. Em 2018, virou os socialistas para a direita, garantindo que o lugar do PS é no centro da vida política. Este rumo errático mostra muito oportunismo e poucas convicções. Costa reagiu ainda muito mal, com frieza, distância e cinismo, aos vários desastres que atingiram os portugueses, desde os incêndios até à queda de helicópteros e estradas. Com a aproximação das eleições do próximo ano, voltarão as questões sobre os desempenhos fracos de Costa em campanhas eleitorais. Foi assim contra António José Seguro nas internas do PS e contra Passos Coelho nas legislativas de 2015.

O ano de 2018 confirmou ainda as contradições da política orçamental da geringonça. Os três orçamentos aprovados pela geringonça no parlamento foram as maiores mentiras dos últimos três anos da vida política nacional. Serviram para garantir o apoio do PCP e do Bloco e das clientelas eleitorais do PS, mas nunca foram cumpridos. O preço do incumprimento tem sido a degradação dos serviços públicos. Os partidos que dizem defender as políticas sociais tornaram-se nas maiores ameaças à saúde e à educação públicas. A qualidade dos transportes públicos também continua a degradar-se e em 2018 os comboios funcionam pior do que no final do século passado. Mais uma vez, os portugueses não se deixaram enganar pela propaganda. A maioria usa transportes públicos, estuda em escolas públicas e trata-se em hospitais públicos. Qualquer português que recorra aos serviços públicos sabe que estão em pior estado do que estavam durante o governo de Passos Coelho. Como pode o PM justificar que os hospitais, as escolas e os comboios funcionassem melhor sob um governo “neo-liberal” e em austeridade do que sob um governo socialista a restituir rendimentos? E o ano de 2019 vai agravar o estado dos serviços públicos.

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Por fim, 2019 vai ser o ano de todos contra o PS e contra Costa. Todos os partidos querem impedir a maioria absoluta dos socialistas. Sabemos como começou a geringonça, mas ninguém sabe como vai acabar. E não há qualquer experiência semelhante que nos ensine. Será o ano de 2019 a ensinar como acaba uma aliança entre o PS e as esquerdas radicais. Os primeiros sinais sugerem que será uma separação litigiosa. O PCP e o Bloco libertaram-se dos compromissos com o governo e voltarão a ser que sempre foram: partidos radicais e anti-poder. E terão os sindicatos ao seu lado. Depois de três anos de paz social, teremos um ano de confrontos entre o governo e as extremas esquerdas. Aqui, nem o Rui Rio conseguirá ajudar António Costa.

Marcelo Rebelo de Sousa vai juntar-se à enorme coligação anti-Costa. Por vezes, irá mesmo liderá-la com a habilidade e a originalidade maquiavélicas que o definem. Devo dizer que vai ser divertido assistir aos truques e às partidas de Marcelo para evitar a maioria absoluta de Costa. Aliás, esqueçam as hérnias e os netos, uma maioria absoluta do PS será a única coisa que fará hesitar Marcelo em relação a uma segunda candidatura a Belém. Entre 2015 e 2018, quase todos estiveram com o governo (até o PSD durante o último ano). Em 2019, serão todos contra o PS.

Depois de três anos com tantos aliados, Belém, o Bloco, o PCP e os sindicatos, Costa não chegou aos valores da maioria absoluta. Como irá consegui-la com os aliados a transformarem-se em adversários? Depois de três anos com condições económicas favoráveis e a restituir rendimentos, como irá Costa conquistar a confiança absoluta dos portugueses num ano em que a economia vai abrandar e os serviços públicos vão piorar? O ano de 2019 vai mostrar se Costa é mesmo um político hábil ou se não passa de um habilidoso político.