Alterações climáticas: como não gostar delas? É que diz-se muito mal das alterações climáticas, mas a verdade é que não há nada como chuvadas valentes para fazer esquecer uma deprimente eliminação do Campeonato do Mundo de Futebol às mãos de Marrocos. Fomos miseravelmente derrotados pelos “leões do Atlas”? Quem é que quer saber disso, se no deserto do Atlas quase não chove e quando precisa de se concentrar para atravessar a rua em apneia? Além do Aquaman, não estou a ver ninguém.

Além de fazerem os adeptos de futebol esquecer desaires futebolísticos, as alterações climáticas também parecem fazer os Antónios Costa esquecer obrigações de primeiro-ministro. Até ontem não tinha escutado o líder do governo sobre este assunto. E quando, enfim, abordou a questão no parlamento, foi para informar que não descarta pedir ajuda europeia para responder às cheias. Incrível, o instinto de António Costa. Mesmo com água até ao cocuruto, o reflexo do primeiro-ministro não é tapar a boca e o nariz para evitar engolir um pirolito. Nada disso. O instinto é, sempre, estender a mão à espera de uma esmolinha da União Europeia.

Nos únicos instantes em que os socialistas portugueses não estão de mão estendida para a União Europeia, estão na União Europeia a apontar o dedo à ex-vice Presidente do Parlamento Europeu, Eva Kaili, envolvida num caso de corrupção. O eurodeputado socialista, Pedro Marques, pediu, inclusive, para ser constituído assistente no processo judicial contra a representante socialista grega. O que não deixa de ser curioso. Porque se é verdade que a corrupção é uma doença, é interessante esta alergia socialista, geograficamente selectiva, à dita. Este mesmo Pedro Marques passou seis aninhos nos dois governos de José Sócrates, sem qualquer indício de sensibilidade a corrupções. Nisto, vai para Bruxelas e tem este caso agudo de alergia à corrupção. Deve ser qualquer coisa na água lá da Bélgica, ou assim.

Por falar em água, várias zonas da região de Lisboa estão ainda completamente alagadas em virtude do que tem chovido. O que além do transtorno de ter de sair de casa de escafandro, e da vergonha de aparecer no trabalho numa bóia pato (a menos que se seja professor do ensino primário. Ou funcionário de uma loja de artigos de praia. Ou um palerma), traz ainda problemas ao nível do agravamento da inflação. Mais precisamente no que toca aos preços das casas e respectivas rendas. Sim porque, neste momento, por exemplo na zona de Loures, o valor do metro quadrado disparou logo que uma data de apartamentos passaram a ter vista mar.

Com as chuvas vieram também inúmeros cortes no fornecimento de energia eléctrica em Lisboa. Cortes para os quais, atenção, devemos olhar, não como um problema, mas como uma oportunidade. Nomeadamente no que à atracção de mais turistas concerne. Sim, sim, porque, até aqui, no que à luminosidade diz respeito, o único argumento que a capital tinha para atrair visitantes era “a luz de Lisboa”. Ora, neste momento, a juntar à luz de Lisboa, temos também a falta de luz em Lisboa. É uma oferta complementar, que torna a cidade irresistível em qualquer circunstância.

Bom, mas se busca explicações para estas chuvas violentas, a sua busca terminou. Não busque mais, pois a Quercus já veio confirmar que estas “cheias são fruto da crise climática”. No que a mim diz respeito, no entanto, recuso-me a dar por terminada a minha busca pelas causas deste fenómeno. Recuso-me a aceitar qualquer explicação da Quercus, até a Quercus me explicar primeiro como é que ninguém na Quercus, aquando da escolha do nome Quercus para a organização, interrompeu o sessão para dizer: “Esperem lá. Estão a falar a sério? Quercus? Mas vamos mesmo chamar à nossa organização Deseja Rabos?”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR