Ainda que a direita passe por uma fase menos boa, da parte do PSD e do CDS, devemos perceber a diferença destas eleições legislativas em relação a todas as outras desde o ano 2005. Certa é a constante supremacia socialista, prolongada durante anos, a qual obteve, desde 2005, um mínimo de 28,06% em legislativas. Isto denota uma efetiva força do partido em segurar o seu eleitorado, sendo a percentagem acima indicada, correspondente às eleições de 2011, marcadas por escândalos associados ao primeiro-ministro em funções, José Sócrates. Assim, parece que o PS leva sempre alguma vantagem em relação aos seus oponentes, porém o mesmo não parece ser aplicável à esquerda em geral.

Em 2005, dos partidos com representação na Assembleia da República, três eram de esquerda e dois de direita. Nas seguintes, em 2009, o número manteve-se inalterado, o que se verifica também nas eleições de 2011. Todavia, em 2011 a maré mudou e a esquerda compreendeu a necessidade de criar novos agentes políticos, pela criação de novos partidos. Esta epifania da esquerda verificou-se acertada em 2015, quando a coligação PSD/CDS tem maioria mas não maioria absoluta na Assembleia da República. Foi então que passámos a contar com cinco partidos de esquerda e dois de direita, neste caso em coligação pré-eleições. Esta maioria de esquerda permitiu criar a famosa geringonça, dando a possibilidade ao PS de governar.

Em termos históricos, o passado recente, como referi, aponta para o crescimento contínuo da esquerda, não pelas mãos do PS mas sim pelas do BE. A tal epifania supracitada da esquerda, a direita teve-a também em 2019, porém com pouco tempo de intervalo entre criação de partidos e a disseminação da sua mensagem. Falo, portanto, da IL e do Chega. Nestas eleições, ainda que com pouco tempo para estes novos partidos se mostrarem, ambos conseguiram um deputado. Passamos a contar então com uma direita com quatro partidos com representação e uma esquerda com cinco.

Parecendo inofensiva, a direita tornou-se bastante mais resistente a coligações à esquerda, pois, como temos vindo a constatar, estes dois novos partidos têm revelado um índice de crescimento por demais significativo. Este crescimento, lido pela esquerda como inofensivo, pois ingenuamente considera serem votos captados de outro partido de direita, vai buscar os insatisfeitos da abstenção, brancos e nulos.

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Analisando cuidadosamente a política portuguesa e o clima fraturante a esta associado, posso afirmar com certezas que a direita vai disputar o triunfo nas eleições com a esquerda. Estes novos partidos serão determinantes na disputa de votos com o BE e o PCP, também enfraquecidos pelos últimos resultados autárquicos. E, falando em eleições autárquicas, é importante referir que Lisboa e Coimbra abandonaram a governação socialista, ou seja, o partido perdeu duas das suas mais relevantes câmaras.

O Governo atual mostrou, desde 2019, uma capacidade soberba para acumular casos e casinhos, os quais serão relevantes para os portugueses no dia de eleições. Entre estes o atropelamento de um funcionário da Brisa num carro onde seguia o ministro da Administração Interna, a resposta das autoridades de saúde muitíssimo ineficaz no início da Pandemia da Covid-19, medidas restritivas completamente inconstitucionais, considerando o seu indevido arrasto no tempo, ou mesmo a libertação de Armando Vara ao abrigo de uma norma criada para combater a propagação da Covid nas prisões, norma essa que deveria ter visto a sua revogação acontecer mal findasse o período crítico da Pandemia.

Obviamente é de tremenda importância compreender a vida política, bem como todos os lobbys que esta acarreta. Votar num partido não pode ser igual a ser sócio de um clube de futebol. A ideologia pode existir e podemos identificar-nos com a ideologia de um partido, porém dentro dele existe um espetro de mentalidades vasto. Devemos então fazer um exercício mental antes das eleições e perguntar qual o candidato com quem me identifico mais na prossecução dos meus interesses. Interesses esses que podem advir dos mais variados setores, desde o ambiente aos incentivos empresariais. Existe um candidato para cada um de nós e mesmo que não haja, podemos sempre votar em branco ou tornar o voto nulo. Por tudo o que mencionei, acredito, pelo menos, num Portugal mais democrático, dotado de uma sumarenta diversidade política, sendo a diversidade o caminho para a liberdade.