A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, interrompia tantas vezes Luís Montenegro quantas vezes este interrompia aquela, mas, talvez por doença infantil, neste último caso Sousa Real acabou a acusar o líder da AD de machismo.

Rui Tavares, no debate com Mariana Mortágua, invocou o Rendimento Básico Incondicional e sentenciou qualquer coisa relacionada com o facto de a direita não o desejar porque, segundo o próprio, a direita não quer acabar com a pobreza. Sem mais argumentos.

Paulo Raimundo, em debate com Luís Montenegro, trouxe para a mesa o terrível período de ajustamento financeiro e a crueldade da direita, colocando o país político a discutir o ajustamento iniciado há 13 anos (!) sem que, por uma vez, se discutisse 2005-2011, uma pré-bancarrota e o que a ela conduziu.

O PS, entretanto, trouxe para o palco um neto, de António Arnaut, no caso, como quem assegura que os méritos passam de geração em geração.

E Mariana Mortágua, em debate com Luís Montenegro, trouxe uma avó para procurar justificar a crueldade de uma lei que previa, pasme-se!, que os inquilinos podiam receber cartas dos senhorios – até porque se percebeu rapidamente que não estava ali despejo nenhum em causa. Gerado o sobressalto pela violência postal, o que ali estava realmente em causa era mais do mesmo: a esquerda é sensível e tem empatia pelos velhinhos, a direita quer matá-los, expulsá-los, deixá-los à fome e à miséria.

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E recordo-me, a este propósito, de um, vá, raciocínio de João Torres, porta-voz do PS, que em tempos afirmou que os jovens emigravam, no tempo de Passos Coelho, porque este os incentivava, e que passaram a emigrar, no tempo de António Costa, apenas porque queriam.

É um mundo maravilhoso e perfeito, todo ele feito só de uma ideia: a esquerda é boa, misericordiosa, empática, ternurenta, e a direita é toda feita de crueldades, maquiavelismos, que o Diabo é a direita, como afirmava António Costa. Ou, como sintetizou o secretário-geral do PCP, os comunistas são a favor de coisas boas, a direita é a favor de coisas más, e se alguém de esquerda não é a favor de coisas boas é porque trai a esquerda.

Não é uma campanha eleitoral, é um jardim de infância, um país político onde subsiste o maniqueísmo que sempre dá vitórias à esquerda – quando não eleitorais, pelo menos morais. É a política a 180º, ou mesmo a 90º, e a linha vermelha da decência fica na fronteira do Partido Socialista.

É um mundo maravilhoso só corrompido graças à desgraça que é o facto de, em democracia, as pessoas serem, de quando em vez, ludibriadas pelo monstro da direita, que as conduz erradamente a não eleger a esquerda para as pastorear. Assim divididas as coisas, entre os bons (a esquerda) e os maus (a direita), tudo se torna mais simples, como num bê-à-bá contado a crianças, sem que se levante uma voz a questionar tudo isto, enquanto se acusa a direita radical (com razão) de querer dividir a sociedade entre puros e impuros. Estamos nisto há décadas. É muito cansativo passar o tempo neste parque infantil que é a política portuguesa onde a esquerda é a dona do baloiço. Num tempo de democracia de sondagens e onde os controlos políticos são maioritariamente exercidos pelos media e pelos tribunais, aliás, viver numa democracia de sentido cultural, político e moral único, não é só cansativo. É uma receita para o desastre.