Completam-se. Complementam-se. São siameses. São a malta da manga do avião e a malta dos tiros no pé. Durante anos a malta da manga do avião justificava todos os absurdos praticados por Sócrates. Era o dinheiro que vinha do antepassado explorador de volfrâmio ou das rendas feitas pela mãe. Tudo era normal, normalíssimo. As férias milionárias, o apartamento em Paris, os estudos sem estudo, o controlo da informação, os negócios, a política de anúncios sobre anúncios… até que chegou aquela madrugada de 22 para 23 de Novembro de 2014 em que Sócrates foi preso no aeroporto da Portela. Nos dias seguintes assistiu-se a um espantoso exercício de sobrevivência: sentados em estúdios de televisão, fazendo declarações aos jornalistas, em artigos e tweets, eles teorizavam sobre a detenção, única no mundo, de alguém na manga do avião. A malta da manga do avião não sabia o que ia ser o seu futuro mas lutava pelo seu futuro.

Cruzadas todas as indignações então expressas é fácil constatar que não havia no planeta e seus arredores local algum que a esquerda achasse adequada para ser detido um dos seus. A manga do avião era o símbolo desse gesto contra-natura que é pedir contas a um político de esquerda

Entretanto a malta do tiro no pé avisava que comentar a prisão de Sócrates era como não podia deixar de ser um tiro no pé. A malta do tiro no pé era e é constituída por um grupo politicamente diverso, maioritariamente do centro que tem como denominador comum ter vivido com sobressalto e indignação nos seus costumes a chegada da troika a Portugal. Esse seu estupor foi fulanizado num ódio a Passos Coelho, líder que invariavelmente só dava tiros nos próprios pés.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.