“O impossível é apenas uma opinião.” A frase é, compreensivelmente, o título de um livro de autoajuda escrito por uma life coach catalã. E é também, mais compreensivelmente ainda, um dos slogans políticos que foi usado pelo partido Ciudadanos, que, por alinhamento astral, também nasceu na Catalunha.

“Compreensivelmente” porque, a dada altura, os dirigentes e militantes do Ciudadanos convenceram-se que a frase era premonitória. Afinal, segundo o El País, que não simpatiza especialmente com esta agremiação política, “nunca um partido se expandiu de forma tão rápida quanto o Ciudadanos”.

Não foi rápido: foi rapidíssimo. Em eleições legislativas, passaram de 0,18% em 2008 para 15,87% em Abril de 2019. Nesse momento de suprema influência, em que se tornaram na terceira força política, a uma muito curta distância do Partido Popular, chegaram a ser vistos como decisivos para a formação de qualquer governo. Já antes, em dezembro de 2017, tinham-se tornado, com fragor, no partido mais votado nas eleições autonómicas da Catalunha: não conseguiram uma maioria para formar governo, mas ficaram a liderar a oposição a um separatismo cada vez mais próximo do golpismo.

A ascensão vertiginosa do Ciudadanos foi acelerada com dois combustíveis poderosos. De um lado, o partido tinha ideias claras: economicamente, eram liberais, especialmente em matéria fiscal; partidariamente, eram centristas, recusando ficar reféns da divisão direita/esquerda; ideologicamente, eram inimigos “dos extremismos e dos radicalismos”; politicamente, eram espanholistas, combatendo o independentismo que deixava a Catalunha refém de lunáticos e farsantes. Do outro lado, o Ciudadanos exibia uma forma inovadora de comunicar estas ideias. Em Madrid e em Barcelona, o partido tinha duas lideranças jovens e, como algumas pessoas gostam de dizer, aspiracionais — Albert Rivera e Inés Arrimadas. Os dois sabiam provocar e gostavam de provocar: em 2006, quando tinha 27 anos, Albert Rivera posou nu (completamente nu) para um cartaz do Ciudadanos.

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Depois, subitamente, tudo entrou em colapso. Primeiro, houve desavenças internas, com Inés Arrimadas a querer saltar de Barcelona para Madrid. A seguir, veio a perda da noção de sentido estratégico, com o partido a pregar uma equidistância cega entre o PSOE e o PP. Por fim, chegou a desorientação. Nas eleições legislativas de novembro de 2019, o partido passou de 57 deputados para 10 e perdeu, de uma só vez, mais de 2,5 milhões de votos. “Quase em lágrimas”, como notou o El Mundo, Albert Rivera anunciou que ia regressar a casa e vestir o pijama, o roupão e as pantufas. Com a nova liderança de Inés Arrimadas, a derrocada passou a desespero. Na Catalunha, tinham 36 deputados; em Castela e Leão, 12; em Madrid, 26; e na Andaluzia, 21. Passaram, respetivamente (e melancolicamente ), para seis, um, zero e zero.

Recentemente, neste cenário de desolação e fracasso, e depois de falhar uma tentativa de criar uma lista de unidade, foi eleita uma nova líder, Patricia Guasp, que proclamou: “Estamos num momento difícil, mas os nossos princípios não se vendem nem se compram”. Pretendia ser uma frase de resistência, mas foi, involuntariamente, uma frase de derrota: na verdade, poucos eleitores estão dispostos a comprar os princípios do Ciudadanos, até porque ninguém compra aquilo que já não conhece. Como acontece com todas as marcas, sejam comerciais ou políticas, que se afundam no desespero, o Ciudadanos revelou recentemente um novo logotipo: na impossibilidade de mudar a sua desanimadora condição, mudou o símbolo e mudou as cores, como se estivesse num programa de televisão de renovação de interiores.

Chegado a este ponto, convém notar, claro, que o Ciudadanos não é a Iniciativa Liberal. Para cada semelhança que se encontre entre os dois partidos, há pelo menos três diferenças que os separam. Mesmo assim, há uma lição que talvez seja útil tirar para um partido que, como a IL, teve três líderes em cinco anos e que este fim de semana escolhe o quarto. Tendo em conta uma forma de agir tão temerária, essa lição pode resumir-se numa frase célebre que também se aplica à política: existem partidos que vivem rápido e morrem cedo.