O acordo de Lausanne foi uma vitória da diplomacia. O Ocidente está farto de guerras. Perdeu o Iraque, que pelo caminho deixou de existir como Estado soberano. A Síria também desapareceu, tal como a Líbia. E o Afeganistão continua a ser o Afeganistão. Entretanto, o radicalismo islâmico cresceu, recruta jovens europeus – de ambos os sexos, aqui o Islão acredita na igualdade – e está activo desde o Norte de África até à Península Arábica. Não é necessário ser um pacifista militante para reconhecer que o saldo está longe de ser brilhante.

Além disso, a Europa e os Estados Unidos enfrentam um conflito complicado, e que se adivinha longo, com a Rússia. A Turquia afasta-se igualmente do Ocidente e a competição geopolítica e económica com a China irá certamente intensificar-se. Neste contexto, os países ocidentais querem acabar com as guerras e dar oportunidades à diplomacia. Faz todo o sentido e é o que a maioria das suas populações quer; e essa vontade, para governos democráticos, conta. O Presidente Obama, ao contrário da minoria republicana bélica, entendeu os sentimentos populares. Se o acordo com o Irão se concretizar, conseguirá ainda afastar-se do legado de Carter – a nuvem mais negra que ameaça o seu lugar na história. Carter perdeu o Irão; Obama pode recuperá-lo.

Há ainda ameaças ao acordo de Lausanne. Julgo que a ameaça de alguns sectores do Partido Republicano não é grave. Utilizam o Irão para atacar Obama, mas sabem que a maioria dos americanos não quer um ‘Iraque 2’, desta vez no Irão. A ameaça do sector mais radical iraniano será um pouco mais séria, mas também não será suficiente para acabar com o acordo. Se fosse, não teria havido acordo. O conflito entre a Arábia Saudita e o Irão constitui a maior ameaça à implementação do acordo de Lausanne. Através dos seus aliados locais, os dois países travam uma guerra na Síria, no Iraque e agora no Yemen. A Arábia Saudita vê o Irão como a maior ameaça à sua posição regional, e a sua diplomacia nunca escondeu a preocupação com o sucesso das negociações entre o Ocidente e o Irão. A monarquia saudita tudo fará para travar o acordo.

Há ainda um outro aspecto que preocupa os sauditas. O fim das sanções fará regressar o Irão como um grande produtor de petróleo, o segundo maior da região, atrás da Arábia Saudita. O que também significa a contestação à liderança saudita na OPEC. Se as exportações iranianas inundarem os mercados, o preço do petróleo poderá mesmo baixar para 30-40 dólares o barril, o que os sauditas obviamente não querem (a propósito, se isso acontecer, a situação da economia russa ficará ainda mais dramática).

Em concerto com a Europa e com a China, os Estados Unidos terão que se empenhar numa reconciliação entre a Arábia Saudita e o Irão. Se isso não acontecer, não haverá estabilidade no Médio Oriente nem no Golfo. Pelo contrário, poderá iniciar-se uma guerra regional, unindo as actuais várias pequenas guerras.

Por fim Israel. Tudo o que acontece no Médio Oriente tem consequências para Israel. Sabe-se que o governo israelita é contra o acordo e olha para o Irão como uma ameaça à sua segurança. E com razão. O ódio a Israel tornou-se um dos pilares da ideologia do regime de Teerão e é usado frequentemente para distrair a insatisfação dos iranianos. Mas os israelitas também sabiam que não têm poder para travar o acordo com o Irão. A oposição faz parte da táctica para receber contrapartidas dos Estados Unidos e da Europa. Washington deverá reforçar as garantias de segurança a Israel, idealmente elevando a aliança a um patamar semelhante ao do artigo 5 da NATO. Um ataque a Israel significaria um ataque aos Estados Unidos. Por outro lado, a Europa deveria alargar grande parte do mercado único a Israel, colocando o país no mesmo plano da Turquia, excluindo naturalmente as negociações de adesão. O acordo com o Irão constitui uma boa oportunidade para reforçar a relação do Ocidente com Israel. Se isso acontecer, será mais um triunfo da diplomacia.

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