Mudam-se os tempos, mudam-se as moscambilhas para angariar votos. Longe vão os anos 90 do século XX, quando os habitantes de Gondomar, a cada eleição autárquica, se transformavam, de meros munícipes, em felizes contemplados com a montra final do Preço Certo. O ainda em escudos. E na versão apresentada pelo major Valentim Loureiro. Hoje os tempos são outros. Estamos no século XXI, há toda uma outra sofisticação. Principalmente entre os jovens, que renegam o materialismo. Quer dizer, é mais o materialismo que renega os jovens, uma vez que eles não ganham o suficiente para comprar nada. Bom, mas o que interessa é que, por estes dias, nenhum político convence eleitores oferecendo electrodomésticos. Ao preço a que está a luz? Ninguém aceitava. E é aí que surge o habilíssimo António Costa, a oferecer-nos, a escassos dias das eleições, a liberdade para sairmos dos nossos lares. Poupando, assim, fortunas na conta da EDP.

Agora, “sufrágio novo, pancadaria nova” parece ser o lema que norteia António Costa em termos de campanhas eleitorais. Na campanha para as últimas legislativas, Costa ofereceu pancada àquele idoso que o acusou de estar de férias aquando dos fogos de Pedrógão Grande. Lembram-se disso? Eu, sempre que possível, aprecio relembrar. Já na actual campanha para as eleições autárquicas, o primeiro-ministro ofereceu pancada à Galp, a propósito da decisão de encerrar a refinaria de Matosinhos. Reforçando, deste modo, aquele hábito de Costa, com, digamos, aroma a Caracas, de ameaçar empresas, como já tinha sucedido com a Altice e a EDP. Enfim, o socialismo é tinhoso, mas tinhoso. Como é que o socialismo, depois de Mário Soares o ter, supostamente, posto na gaveta, sai, agora com António Costa e logo de forma tão espalhafatosa, do armário? É um fenómeno que não cessa de espantar.

A propósito, a recém-encartada socialista, Marta Temido, foi acusada de usar o carro do Ministério da Saúde para participar num evento da campanha autárquica do PS, no Porto. O assunto causou alguma polémica, mas foi, depressa, votado ao esquecimento. O que é inadmissível. Não se pode escamotear um facto político desta relevância. Não que tenha sido grave, atenção. Antes pelo contrário. Esta decisão de Marta Temido é, isso sim, de enaltecer. Quer dizer, um ministro do actual governo usar o seu veículo oficial para atropelar, apenas e só, os mais básicos princípios de transparência, merece um louvor. Quiçá condecoração. Por mim, saía já um Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada, e não se falava mais nisso.

Também os candidatos autárquicos do PS, por esse país fora, estão a inovar nesta campanha eleitoral. Em vez do já estafado debate de ideias – que tédio –, os candidatos socialistas têm optado, antes, por encetar uma espécie de concurso, a que poderia chamar-se “Quem Quer Ser Brindado com Verbas do Milionário PRR?”, para verem quem é capaz de sacar mais dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência ao governo. É uma disputa deste género:

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Diz um candidato socialista: “Porque eu tenho o telemóvel pessoal do primeiro-ministro. Como podem ver, aqui nos meus favoritos. É logo o primeiro número, onde diz “António Costa”. Com um coraçãozinho à frente. Mesmo antes do número da minha mãe.”

Anuncia outro candidato, ainda mais socialista: “Numa ocasião, que guardo como o momento mais feliz da minha vida, cheguei a estar à porta de casa de António Costa. Juro. Perguntem à minha mulher. Ou a qualquer um dos meus quatro filhos. OK?”

Proclama um candidato irritantemente socialista, passe a redundância: “Eu sou de tal maneira amigo do primeiro-ministro que, no outro dia, o avisei dum sinal que ele possui, e no qual nunca tinha reparado, derivado de ser num local tão recôndito do seu organismo.”

Jura um candidato socialista, que aparenta ser chalupa, mas que, como não é raro neste tipo de indivíduos, acaba por dizer umas verdades: “Então e eu não sei desse sinal do Costa em local recôndito?! Pois se eu tenho um igualzinho, exactamente no mesmo sítio. Isso foi por causa de um escaldão que apanhámos na Praia da Princesa. Naquela altura em que o governo falava do dever geral de recolhimento domiciliário, mas o primeiro-ministro se borrifava para o assunto. Bons tempos, pá.”