Em Janeiro de 2018 escrevi, a propósito do “Future of Jobs Report” (2016) do World Economic Forum, que os skills mais ambicionados pelas empresas assentavam em, por ordem decrescente de importância: (1) Complex Problem Solving; (2) Critical Thinking; (3) Criativity; (4) People Management; (5) Coordinating with others; (6) Emotional Intelligence; (7) Judgement and Decision Making; (8) Service Orientation; (9) Negotiation; (10) Cognitive Flexibility.

A propensão para enfatizar competências mais emocionais e soft skills era então evidente.

No final de Setembro de 2018 saiu o “The Future of Jobs Report” de 2018 do mesmo World Economic Forum. Há claras novidades na tabela dos dez mais. Por ordem decrescente aparecem agora como 10 primeiros os seguintes: 1) Analytical Thinking and Innovation; 2) Active Learning and Learning Strategies; 3) Creativity, Originality and Initiative; 4) Technology Design and Programing; 5) Critical Thinking and Analysis; 6) Complex Problem Solving; 7) Leadership and Social Influence; 8) Emotional Intelligence; 9) Reasoning, Problem Solving and Ideation; 10) Systems Analysis and Evaluation.

A propensão para redescobrir competências mais duras, como o pensamento analítico, a programação ou a análise de sistemas é um regresso ao passado já distante.

A questão que emerge é: porquê? Não deixo de notar alguma perplexidade, mas também desconhecimento, e de deixar alguns tópicos para que o leitor os possa pensar e/ou avaliar o alinhamento dos mesmos com as suas próprias práticas (e investimento no conhecimento) e a forma como vê e pensa o mundo.

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Não deixa de ser evidente que uma tão grande variação, e sobretudo uma descontinuidade com o passado e as evoluções mais recentes, se torne talvez difícil de justificar.

Concomitantemente, e para introduzir alguma entropia mais, o novo relatório diz que estão a cair em desuso  algumas das competências (talvez) ditas mais clássicas mas, ainda assim (pelo menos algumas), essenciais para construir as primeiras: a) A Habilidade Manual, a Endurance e a Precisão; 2) As Capacidades de Memória, Verbais, Auditivas e Espaciais; 3) A Gestão de Recursos Financeiros e Materiais; 4) A Manutenção de Tecnologia e sua Instalação; 5) A Leitura, a Escrita, a Matemática e a Escuta Ativa; 6) A Gestão de Pessoas; 7) O Controlo de Qualidade e os Conhecimentos de Segurança; 8) A Coordenação e a Gestão do Tempo; 9) As Capacidades Visuais, Auditivas e Discursivas; 10) O Controlo, Monitorização e Uso da Tecnologia.

Desta forma, e sem sequer entrar na metodologia que está por detrás destes estudos e que merecem todo o respeito e credibilidade, assim como sem os refutar, algumas constatações são talvez possíveis. Não me atrevo a chamar-lhes conclusões.

  • Parece evidente que o peso e a consideração que vinham merecendo as soft skills perdeu importância e houve uma disrupção com o passado mais recente. Esta é uma conclusão fácil e por demais evidente.
  • Em paralelo, o relatório mais atual diz perderem importância algumas das competências que são determinantes para construir aquelas que figuram no top 10 e que com elas apresentam forte correlação. Se é difícil perceber a ascensão do pensamento analítico sem a prática do pensamento abstrato proporcionado pela matemática (em queda) é também complexo perceber que algumas competências determinantes para gerir e liderar pessoas (escuta ativa, gestão de pessoas, competências verbais) possam estar em queda quando parece cada vez mais decisivo desenvolver essas competências para gerir/liderar outros.
  • Do mesmo relatório e noutra secção aparecem os pesos do trabalho humano versus o trabalho via automação. Interessante verificar que a tecnologia virá impor-se à ação humana de forma rápida, talvez mais rápida do que alguns poderiam esperar, sendo que a partir de 2025 valerá mais de metade do trabalho. Referindo os números, a automação é, em 2018, de 29% contra 71% de intervenção humana prevendo-se, para 2022, 42% de automação contra 58% de intervenção humana e, finalmente, para 2025 a automação passará a 52% contra 48% de intervenção humana.
  • O frémito do digital (no matter what), muito por via do desconhecimento e da ansiedade que comporta efetivamente, por si só e no negócio, começa a ser sintomático até nos resultados destes estudos e, neste contexto, bem evidenciado pelas rápidas flutuações na tabela dos tops.
  • Torna-se interessante perceber que à medida que a automação ganha ao lado humano comecem a descer de importância as componentes comportamentais para emergirem as analíticas (certamente consequência da necessidade tremenda de competências de análise de dados e similares). Paradoxal, mais ainda, porque o que sobra ao lado humano, e não à automação, são importantes componentes humanas de carácter brando…se não atentarmos apenas às competências para lidar com a tecnologia, analisar dados e programar.
    A interpretação da subida das componentes analíticas terá, assim, tudo a ver com a necessidade de trabalho nas áreas da análise de dados, que é pungente. Algum desnorte, quase certamente, quanto ao que será o futuro e, em particular, o futuro da tecnologia também dita estes resultados.
  • À medida que os avanços tecnológicos mudam rapidamente a fronteira entre as tarefas de trabalho realizadas por seres humanos e aquelas realizadas por máquinas e algoritmos, os mercados de trabalho globais provavelmente irão passar por grandes transformações. Essas transformações, se sabiamente geridas, podem levar a uma nova era no trabalho e, pela positiva, a bons trabalhos (empregos?) e a maior qualidade de vida para todos. Ao contrário, se mal geridas podem potenciar o risco de aprofundamento dos gaps em skills, levar a maior desigualdade e a polarização mais ampla. De muitas formas, o momento de moldar o futuro do trabalho será por agora. Porque é agora que a tecnologia está mesmo a mudar o mundo e já conhecemos todas (ou quase) as tecnologias que irão ser determinantes, pelo menos num futuro próximo.
  • Fixem-se, no final, as profissões em crescendo e que encherão os olhos (e os bolsos!) de muitos num futuro próximo. Importantes para a geração que agora estuda ou que vai completar, e/ou complementar, os seus estudos: 1) Data Analytics Scientists, 2) Artificial Intelligence and Machine Learning Scientists; 3) General and Operations Managers.

E o leitor, sente-se competente ou incompetente à data de hoje face a este híbrido de competências e ao top 10 agora emergente? Se a resposta for a segunda, estamos alinhados.

Professor Catedrático; Director Académico – Formação de Executivos; NOVA SBE – Nova School of Business and Economics