Perto de 25 mil gregos saíram este domingo para as ruas em apoio ao Governo de Alexis Tsipras e em vésperas de uma reunião do Eurogrupo, na qual a Grécia vai tentar renegociar prazos de pagamento da dívida aos credores.

De acordo com números avançados pela agência de notícias AFP, pelo menos 18 mil pessoas terão saído à rua em Atenas, capital grega, e mais oito mil em Salonica, a segunda maior cidade do país.

15 mil manifestantes já haviam descido as ruas das duas cidades gregas na passada quarta-feira, em apoio ao novo Governo de esquerda, que quer negociar na segunda-feira em Bruxelas melhores condições para pagar aos credores.

Théodora, uma desempregada de 58 anos ouvida pela AFP, declarou que os gregos querem “justiça aqui e agora”.

“Deve-nos ser feita justiça pelo sofrimento suportado pela Grécia nos últimos cinco anos”, disse, na praça Syntagma, em Atenas.

Os manifestantes seguravam faixas onde, segundo a AFP, se podia ler “Acabem com a austeridade na Grécia e na Europa” e “Acabem com a Merkel, tentem a democracia”.

Em Paris pelo menos duas mil pessoas saíram também hoje à rua para demonstrar o seu apoio aos gregos e contra aquilo que apelidaram de “o Golias das Finanças”.

Em França os marchantes que responderam aos apelos de sindicatos e organizações de extrema-esquerda para saírem à rua levavam bandeiras do Syriza (partido do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras) e gritavam: “Na Grécia, em França, resistir contra a austeridade e a finança”.

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“O medo mudou de lado”

Também em Lisboa centenas de manifestantes se concentraram no Largo Camões, junto ao Chiado, em solidariedade com a Grécia, exibindo bandeiras, cartazes e faixas com frases como “Juntos contra a Troika”, em português e em grego, ou “O medo mudou de lado”.

Os deputados bloquistas Luís Fazenda e Mariana Mortágua, a médica Isabel do Carmo ou o realizador de cinema António Pedro Vasconcelos foram algumas das personalidades presentes nesta iniciativa convocada pelas redes sociais e que previa uma marcha até ao edifício da Comissão Europeia em Lisboa, no largo Jean Monnet.

A manifestação convocada pelas redes sociais juntou mais de 500 pessoas, que partiram do Largo Camões, no Chiado, às 15:45, até ao Largo Jean Monnet, onde fica o edifício da Comissão Europeia em Lisboa.

Com várias tarjas, cartazes de apoio ao primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e bandeiras do Bloco de Esquerda proclamando “Esperança contra a austeridade”, os manifestantes caminharam durante cerca de uma hora ao ritmo de tambores, subindo a rua da Misericórdia e de São Pedro de Alcântara até ao bairro do Príncipe Real e depois descendo a rua do Salitre.

Na frente de um dos grupos da manifestação, a deputada bloquista Mariana Mortágua dava o mote, de megafone na mão, ensaiando palavras de ordem gritadas a plenos pulmões contra as recentes posições do executivo português e do Presidente da República, Cavaco Silva.

“Culpas os gregos, ó Cavaco, no BPN continua o buraco”; “Sim ao Varoufakis, não à Maria Luís”; “Merkel capataz, deixa a Grécia em paz”, afirmava a deputada do BE, já rouca.

Durante a manifestação, havia também várias pessoas com cachecóis bege e com riscas pretas, vermelhas e brancas, iguais ao utilizado pelo ministro das Finanças grego no último Eurogrupo.

Cristina Paixão, uma das manifestantes com um destes cachecóis, disse à Lusa que fez questão de o levar para protestar contra “a propaganda política que tem sido feita contra o Varoufakis”, que “é completamente absurda, ridícula e patética”.

“Não é um cachecol que torna um ministro das Finanças melhor ou pior ministro, perder tempo com esse tempo de ‘fait divers’ é perfeitamente ridículo”, afirmou, já no Largo Jean Monnet.

A antiga presidente da secção portuguesa da Amnistia Internacional Maria Teresa Nogueira, também presente na iniciativa, criticou, em declarações à Lusa, o caminho seguido pela União Europeia e “a lógica de aprofundamento das desigualdades, a nível nacional e a nível europeu”.

“Estou aqui a título pessoal. Temos de reagir, todos nós. Isto é o caminho para o abismo, o facto de os direitos mais fundamentais das pessoas serem postos de lado configura uma situação de conflito que explica as radicalizações [na Europa], é uma situação que tem de ser acabada”, disse.

Para a dirigente da Amnistia, agora coordenadora do grupo da China, “esta é uma oportunidade única” de apanhar “boleia da Grécia e tentar reverter toda a miséria” que se vive na Europa.

Na manifestação marcaram presença vários dirigentes do BE, como os deputados Luís Fazenda e Cecília Honório ou a eurodeputada Marisa Matias, o dirigente do Livre Rui Tavares ou personalidades como o realizador António Pedro Vasconcelos ou a médica Isabel do Carmo.

“Acho que toda a gente devia estar aqui, a situação está horrível em toda a Europa, acho que o mínimo que qualquer pessoa pode fazer é isto”, afirmou Maria Antónia, outra manifestante, já a entrar na rua do Salitre, junto ao Rato.

A Grécia vai iniciar na segunda-feira difíceis negociações com o Eurogrupo de forma a chegar a um acordo com os seus credores e a viabilizar a forma de pagamento dos 240 mil milhões de euros do resgate internacional ao país.

Tanto da parte dos gregos como dos líderes europeus, não há otimismo relativamente a um acordo na segunda-feira, mas sim um início de conversações longo que deverá terminar com alguma flexibilização orçamental ao nível da zona euro e uma solução de compromisso entre a Grécia e os seus parceiros.

O Governo de Alexis Tsipras passou o fim de semana em longas reuniões para apresentar soluções, tendo como objetivo a vontade de um acordo. “A nossa posição é forte e vai conduzir a um acordo, mesmo que seja no último minuto”, disse o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, numa entrevista hoje divulgada.

O ministro do novo Governo disse estar convencido que “a Europa sabe chegar a acordos honoráveis a partir de honoráveis desacordos” e evocou um nível de otimismo “importante” na véspera da reunião.