O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou esta quinta-feira que as autoridades do país ainda não sabem o que motivou o tiroteio desta quarta-feira, em San Bernardino (Califórnia), que causou a morte de 14 pessoas. Obama deixou no entanto aberta a possibilidade de ter sido um ataque terrorista. “É possível que isto esteja relacionado com terrorismo, mas não sabemos. Também é possível que isto tenha sido relacionado com [problemas de] trabalho”, disse.

“Sabemos que os dois indivíduos abatidos estavam equipados com armas e ao que parece tinham acesso a armamento adicional nas suas casas. Mas não sabemos porque o fizeram (…). Não sabemos neste momento a extensão dos seus planos; não conhecemos as suas motivações”, acrescentou. Durante a sua intervenção, Obama reafirmou ainda a necessidade de dificultar o acesso às armas por parte de cidadãos norte-americanos, sem no entanto explicitar as medidas que pretende implementar:

“Enquanto a investigação prossegue”, afirmou, em declarações citadas pela agência Associated Press, “será importante que todos nós, incluindo os nossos legisladores, pensemos no que podemos fazer para garantir que, quando um indivíduo decide que quer atacar alguém, não tenha a tarefa tão facilitada. Neste momento, é pura e simplesmente demasiado fácil”.

Obama falou aos jornalistas na Sala Oval da Casa Branca esta quinta-feira, sobre o ataque que ocorreu num local onde se dava uma festa de Natal da administração local da cidade. Um dos dois atiradores, Syed Farook, um inspetor de saúde muçulmano, era colega de trabalho das pessoas que jantavam no local.

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Segundo a porta-voz da agência federal de álcool, tabaco, armas de fogo e explosivos norte-americana, Meredith Davis, duas das quatro armas usadas pelos dois atiradores foram adquiridas legalmente. Em relação às restantes duas, “os agentes [policiais] continuam a investigar pistas” que permitam seguir o seu rasto.

Quem eram os atiradores?

O ataque foi feito por um casal: Syed Farook, de 28 anos, e Tashfeen Malik, de 27 anos. Inicialmente julgava-se que o ataque tinha envolvido três atiradores, mas o chefe da polícia de San Bernardino, Jarrod Burguan, afirmou que as autoridades estavam “razoavelmente” confiantes que o ataque foi levado a cabo apenas pelos dois.

Segundo o cunhado de Syed Farook, Farhan Khan, os dois eram casados e tinham uma filha com seis meses. Sabe-se também que Syed Farrok nasceu nos Estados Unidos, filho de pais paquistaneses, e trabalhava há cinco anos como inspetor de saúde na região.

A sua mulher, Tashfeen Malik, terá entrado nos Estados Unidos com um visto como noiva de um cidadão norte-americano, em 2013, após ter conhecido Syed Farook numa das suas viagens à Arábia Saudita de onde é natural. Mais tarde tornou-se residente permanente nos EUA, com os direitos legais adquiridos no casamento.

O chefe da polícia de San Bernardino disse ainda Sayed Farook tinha estado presente na festa de Natal na quarta-feira, de onde saíra “zangado” devido a uma discussão. Mais tarde, regressaria com a sua mulher, levando explosivos, armas e envergando equipamento militar, acabando por causar a morte de 14 pessoas e deixando feridas outras 21.

Os dois viriam a ser abatidos pela polícia após várias horas de perseguição policial. Foram ainda encontrados engenhos explosivos junto ao local do ataque, que foram posteriormente desativados pelas autoridades policiais, segundo o responsável máximo da polícia da localidade. Nas suas casas foram ainda encontradas 12 bombas de fabrico caseiro.

A CNN, que cita como fonte responsáveis judiciais norte-americanos, afirma que antes do ataque Syed Farook esteve em contacto com terroristas que se encontravam sob investigação do FBI, através de telefone e das redes sociais. Ao que tudo indica, Syed Farook estava radicalizado, e esse pode ter sido um dos motivos para ter levado a cabo o ataque, juntamente com a sua mulher, Tashfeen Malik. Algo que Barack Obama ainda não confirma e que o FBI também considera prematuro afirmar.

O jornal The New York Times refere ainda que um responsável do congresso norte-americano afirmou que as autoridades policiais norte-americanas acreditam que Syed Farook viajou em 2013 para a Arábia Saudita, para a peregrinação a Meca, cidade do islamismo. A peregrinação, conhecida como Haji, é um dos rituais considerados obrigatórios para os muçulmanos adultos que gozem de um bom estado de saúde e de possibilidades económicas para a fazer. Segundo a publicação, Syed Farook terá mesmo feito “múltiplas viagens” ao país.

Tiroteios em massa: um problema por resolver

Só em 2015, contando com o ataque que matou 14 pessoas na Califórnia esta quarta-feira, morreram 462 pessoas e 1.314 ficaram feridas em tiroteios nos Estados Unidos. Segundo o colunista do jornal The New York Times, Nicholas Kristof, nos últimos 3 anos, já morreram mais americanos em ataques com armas no país que nas guerras da Coreia, Iraque e Vietname combinadas.