O político e diplomata egípcio Boutros Boutros-Ghali morreu aos 93 anos. A notícia foi avançada esta terça-feira aos membros do Conselho de Segurança pelo embaixador venezuelano Rafael Dario Ramirez Carreno, presidente do Conselho de Segurança da ONU em fevereiro. De acordo com o jornal egípcio Al Ahram, o político estava internado num hospital nos arredores do Cairo, apesar de não ter informado a causa da sua morte.

Boutros-Ghali foi o sexto Secretário-geral da Organização das Nações Unidas de janeiro de 1992 a dezembro de 1996, período no qual teve de lidar com o genocídio em Ruanda, a desintegração da Jugoslávia e a Guerra Civil em Angola.

O diplomata vem de uma família de minoria cristã copta com um longa história diplomática no Egito. O seu avô, Boutros Ghali, ocupou os cargos de ministro das Finanças e ministro dos Negócios Estrangeiros até tornar-se primeiro-ministro do país de 1908 a 1910, quando foi assassinado.

Boutros-Ghali formou-se em Cairo e em Paris, cidades nas quais exerceu diferentes cargos em universidades, institutos e centros de investigação antes de iniciar a sua vida política.

O diplomata fez parte do Comité Central da União Árabe Socialista de 1974 a 1977, quando foi convidado a ser ministro de Estado das Relações Exteriores do Egito, cargo ocupado até 1991. Atribui-se a Boutros-Ghali a responsabilidade pelos acordos de paz celebrados entre o país e Israel na década de 70, que culminaram na assinatura do Tratado de paz israelo-egípcio em 1979.

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GETTYSBURG, UNITED STATES: Egyptian President Anwar al-Sadat (c) surrounded by (l-r) Aliza Begin, Rosalyn Carter, Israeli Premier Menachem Begin, US President Jimmy Carter, Israeli Foreign minister Moshe Dayan and Israeli Defence minister Ezer Weizman as they walk 10 September 1978 in Gettysburg during the Camp David Israeli-Egyptian peace negotiations. Boutros Boutros-Ghali, minister of state in Egypt's foreign ministry is standing between Sadat and Dayan and Elyahu Rubinstein, an Israeli advisor, is standing between Dayan and Weizman. Egypt began peace initiatives with Israel in late 1977, when Sadat visited Jerusalem. A year later, with the help of Carter, terms of peace between Egypt and Israel were negotiated at Camp David. A formal treaty, signed 26 March 1979 in Washington, D.C., granted full recognition of Israel by Egypt, opened trade relations between the two countries, and limited Egyptian military buildup in the Sinai. Israel agreed to return to final portion of occupied Sinai to Egypt. (Photo credit should read AFP/AFP/Getty Images)

Boutros Boutros-Ghali caminha ao lado do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e do presidente do Egito, Anwar al-Sadat, durante as negociações dos Acordos de Camp David, em Gettysburg, Estados unidos, em 1978.

Em 1991, foi eleito como secretário-geral da ONU, tornando-se o primeiro africano a ocupar o cargo mais alto da organização. O seu mandato foi marcado pelo combate à fome extrema na Somália, mas também pelo fracasso na intervenção ao genocídio em Ruanda em 1994 e por falhar nas negociações para o fim da guerra civil em Angola. Em território europeu, ficou conhecido pelos impasses com a NATO durante a série de conflitos bélicos no antigo território da Jugoslávia na década de 90.

SARAJEVO, BOSNIA AND HERZEGOVINA - DECEMBER 31: U.N. Secretary General Boutros Boutros-Ghali visits a blockhouse at Sarajevo's airport 31 December. Boutros-Ghali, who is on a fact-finding mission in Bosnia-Herzegovina, told reporters that the purpose of his visit is to express his solidarity with the people of the city. (Photo credit should read VINCENT AMALVY/AFP/Getty Images)

Boutros Boutros-Ghali em visita a Bósnia-Herzegovina em 1992

Boutros-Ghali não conseguiu reeleger-se como secretário-geral da ONU em 1996, quando foi vetado pelos Estados Unidos, membro permanente do Conselho de Segurança da organização com direito à veto.

Após a sua passagem pela ONU, foi secretário-geral de La Francophonie, uma organização das nações francófonas, de 1997 a 2002, e ocupou cargos em outras instituições dedicadas às relações internacionais.

O Conselho de Segurança da ONU dedicou esta terça-feira um minuto de silêncio em memória de Boutros-Ghali.