Uma centena de trabalhadores manifestaram-se esta tarde em frente ao Ministério do Planeamento para reivindicar aumentos salariais na Infraestruturas de Portugal (IP), com os sindicatos a admitirem uma nova greve em 2 de abril.

À agência Lusa, vários dos delegados e representantes sindicais presentes na ação de protesto, em Lisboa, assumiram que é necessário “investir nos trabalhadores” e que a falta de aumentos nos últimos anos tem sido uma “injustiça”.

José Manuel Oliveira, da Federação de Sindicatos de Transportes e Comunicações em Portugal (FECTRANS) e do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Setor Ferroviário (SNTSF), afirmou que o protesto pretende “forçar uma reunião com a Secretaria de Estado das Infraestruturas”, a quem foi feito um pedido de reunião “com o objetivo de procurar encontrar soluções por via da negociação que evitem novos constrangimentos e novas greves na IP”.

“Caso o Governo mantenha a incapacidade de lidar com este problema, vamos ter, necessariamente, de ter mais uma greve no dia 2 de abril”, disse o responsável da FECTRANS/SNTSF.

José Abraão, do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Publica (SINTAP) e da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP), afirmou que os manifestantes exigem um acordo coletivo para fazer face às “injustiças” e revelou dificuldade no diálogo com o Governo.

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“Estamos aqui para exigir negociação do acordo de empresa que corresponda à correção das injustiças que se verificam nas Infraestruturas de Portugal”, disse, antes de referir que têm “encontrado alguma abertura para negociar, mas a dificuldade depois esbarra ao nível ministerial”.

“E, portanto, estamos a exigir ser recebidos pelo senhor secretário de Estado com o objetivo de desbloquear este processo”, acrescentou.

António Pereira, representante do Sindicato Independente Nacional dos Ferroviários (SINFB), declarou que, tendo a empresa lucros, deve valorizar os trabalhadores, aumentando os salários à semelhança do que aconteceu com a CP — Comboios de Portugal.

“Se têm lucros, têm de investir nos trabalhadores. Esta é uma das reivindicações que nós temos. Se outras empresas do setor já tiveram aumentos, a IP também tem de dar aumentos”, afirmou.

O representante da Comissão de Trabalhadores da IP, Fernando Semblano, defendeu uma posição semelhante, argumentando que “uma empresa que anuncia tantos milhões, que desde a fusão [entre a Estradas de Portugal e a Refer, que deu origem à IP] em 2015 aumentou o seu capital em 2,5 mil milhões de euros” tem feito “zero” pelos seus trabalhadores.

O PCP fez-se representar pelo deputado Paulo Sá, que lembrou a oposição dos comunistas à fusão entre as empresas e pediu a valorização dos trabalhadores.

“O PCP opôs-se à fusão da Refer/Estradas de Portugal nesta estrutura (…) e defendemos a reversão desta fusão e a reconstituição das empresas que lhe deram origem para que possam estar plenamente ao serviço do desenvolvimento nacional”, disse o deputado, eleito pelo círculo eleitoral do Algarve.

O representante comunista assumiu ainda ser fundamental “haver um respeito laboral pelos trabalhadores, porque são o maior ativo da empresa e os seus direitos têm de ser respeitados”.

Carlos Silva, secretário-geral da UGT, assinalou que o diálogo é fundamental e que os salários não são aumentados há quase uma década, antes de deixar uma crítica ao primeiro-ministro.

“O primeiro-ministro lembrou sempre, nestes dois anos e meio de governo, que era necessário devolver rendimentos aos portugueses. A pergunta que eu faço, e que deve ser feita a cada trabalhador e sindicato, é: ‘E esta área e este setor em particular, têm tido rendimentos?’ Não têm e é nesse sentido que temos de estimular o diálogo social”, finalizou.

Também a CGTP se fez representar neste protesto através de uma delegação.

Em 12 de março, os trabalhadores da IP cumpriram uma greve de 24 horas para reclamar aumentos salariais de cerca de 4%, um protesto que teve um impacto mais visível na circulação de comboios, que ficou reduzida aos serviços mínimos de 25% decretados pelo tribunal arbitral.