O estado de alarme foi decretado em Espanha a 14 de março e a ordem era claro: todos deviam isolar-se nas suas casas já que a pandemia da Covid-19 se estava a espalhar a grande velocidade pelo país com especial expressão na zona de Madrid. Havia, a 14 de março 132 mortos e mais de cinco mil infetados no país. Desde então, o número de infetados já ultrapassou o de Itália — que era o país europeu com o maior surto — situando-se nos 148.220 e os mortos já ultrapassou a barreira dos 15 mil. Números impressionantes, especialmente se se considerar que passaram 26 dias entre o decretar de o estado de alarme e esta quinta-feira.

Mas nem tudo correu bem no que diz respeito ao acatar de ordens e recomendações dos espanhóis. Um problema que o Governo português quer evitar, com o apertar das medidas durante o fim de semana de Páscoa: a deslocação das pessoas das cidades para as casas de férias.

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Os espanhóis não se contentaram com a ideia de ficar confinados aos apartamentos das grandes cidades e arranjaram algumas estratégias para conseguir furar os controles das autoridades policiais: fizeram-se à estrada durante a madrugada, em carros próprios, quando o controlo era menor.

E é fácil perceber que muitos conseguiram: os consumos de água aumentaram, o número de cartões de saúde temporários emitidos nas regiões de Castilla-La Mancha e Castilla e Leon duplicaram ou triplicaram. Em Castilla e Leon, por exemplo, o número de cartões emitidos passou de 2.240 em fevereiro para 3.956 em março, mais de metade dos espanhóis que chegaram à região no mês de março vinha de Madrid: 3.956 de 7.602, segundo dados divulgados pelo El País.

Ainda que os responsáveis das comunidades não queiram estabelecer uma relação direta entre os movimentos dos madrilenos e a propagação da Covid nessas áreas, o aumento do contágio coincide no tempo com a chegada de mais pessoas de outras regiões. As comunidades recordam que o confinamento era “a primeira medida e a mais importante para a contenção da pandemia num primeiro momento” ainda que tenham assistido ao regresso de famílias completas durante o estado de alarme decretado.

Álvaro Gutiérrez, o presidente da Câmara de Escalona — com cerca de 7.000 habitantes—, em Toledo, compara a atual densidade populacional com um “mês de agosto”: “Agora devemos ser à volta de 15 mil”. A recolha de lixo superou em 40 toneladas a do mês anterior, por exemplo.

Gutiérrez afirma ainda que quem chegou à localidade o fez de noite “premeditando o ato quando havia menos polícia nas ruas”, os mesmos que agora fazem filas à porta dos supermercados da zona, a cerca de 90 quilómetros do centro de Madrid: “há milhares de pessoas que não deviam estar aqui neste momento”, comenta o presidente da autarquia.

De pouco serviram os apelos das autarquias espanholas que, através das redes sociais, recordavam os espanhóis que este ano “a Páscoa é especial” e que o melhor a fazer era não regressar às terras de origem ou onde compraram casas de férias. Em Portugal, além dos vários apelos dos autarcas, as forças de segurança estão já desde quarta-feira — algumas horas antes do início oficial das restrições à circulação — a controlar todos os veículos nas principais autoestradas e acessos às grandes cidades do país.