Vários especialistas tinham avisado já o Observador: expectável com o regresso à normalidade, o aumento de novos casos de infeção só deverá começar a ser visível nos boletins da DGS (Direção-Geral de Saúde) a partir da próxima quarta-feira. É certo que a reunião quinzenal no Infarmed com especialistas, Governo, partidos políticos e Presidente da República, para avaliar os efeitos do desconfinamento e dar luz verde para a fase dois do plano,  realiza-se habitualmente às terças-feiras, neste caso, dia 12 de maio.

Questionada pelo Observador na conferência de imprensa deste sábado, a ministra da Saúde, Marta Temido, revelou que, por isso mesmo e para que possam ser analisados “dados mais rigorosos”, a reunião foi agendada não para a habitual terça-feira, mas para quinta-feira. Aliás, foi isso que ficou logo definido no último encontro deste género, a 28 de abril.

No entanto, o Observador sabe ainda que esta data poderá não ser a final, uma vez que há Conselho de Ministros agendado para o mesmo dia, a decisão deverá final ser tomada na segunda-feira. “A reunião ficou agendada para acontecer na quinta-feira, exatamente porque se sabe que todos os dias contam para podermos ter dados mais rigorosos. Não será quinzenal na terça-feira, mas na quinta-feira. Temos estado a acompanhar através das nossas unidades de epidemiologia e estatística a evolução da informação que temos disponível”, disse a ministra da Saúde.

“Temos que ter a distância suficiente para analisar o possível impacto do desconfinamento, temos de esperar mais um dias. O país não é simétrico, o que se verificam são focos e temos de ter um atitude muito intervencionária. A saúde pública tem que atuar rapidamente e isso pode ser muito importante”, acrescentou ainda Graça Freitas.

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Apesar de revelar que, “quase no final da primeira semana”, a perceção que é possível ter dos dados é “encorajadora”, Marta Temido fez questão de avisar também que é necessário “continuar atento” e combinar essa atenção com a “necessidade de retomar a normalidade possível na vida com regras distintas”.

O facto de o RT (rácio de contágio por cada infetado) permanecer imutável nos 1,04 — depois de já ter inclusivamente descido aos 0,9 —, justifica em parte as cautelas. De acordo com a mais recente análise do Instituto Ricardo Jorge, feita a partir dos dados recolhidos entre os passados dias 1 e 5 de maio, cada doente infetado é agora responsável pelo contágio de 1,04 pessoas.

“Este valor mostra que o número de novos casos a cada geração é relativamente constante e indicia que continuamos a ter de ter os cuidados necessários nos gestos básicos da nossa vida diária, especialmente neste período de alívio das medidas de confinamento”, disse a ministra da Saúde, depois de recordar que o referido indicador deve ser analisado ao longo da pandemia e sem fazer menção nem aos 0,9 atingidos no passado nem aos 0,7 tidos como meta ideal para lançar as primeiras medidas de desconfinamento.

40% dos mortos por Covid-19 em Portugal registados nos lares

Apesar de o número de mortos por Covid-19 em Portugal estar em queda desde o passado 15 de abril de 2020 — “o que também é bastante relevante”, destacou Marta Temido — nem todos os números avançados este sábado são animadores.

Até à meia-noite desta sexta-feira morreram nos lares portugueses 450 idosos (de um total de 1.114 óbitos): 243 na região Norte, 134 na região Centro, 69 em Lisboa e Vale do Tejo e 4 na região do Algarve, anunciou a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, que fez questão de frisar que a percentagem de 40% de mortos nos lares de idosos se mantém, ainda assim, abaixo da média registada por alguns países europeus, que ronda os 50% do total de mortes por Covid-19.

Já no que diz respeito à rede de cuidados continuados integrados, já tinha revelado Marta Temido, desde o passado 22 de abril que não há novos óbitos. No total, morreram em unidades da rede 15 pessoas graças à Covid-19.

Ainda no capítulo dos números, a ministra da Saúde revelou que durante esta semana aterraram em Portugal cerca de 40 novos equipamentos de ventilação mecânica, repetindo que parte dos ventiladores comprados no estrangeiro estão a demorar mais tempo a chegar do que o previsto, “por constrangimentos variados”.

Antes, a ministra tinha feito a contagem de camas em unidades de cuidados intensivos polivalentes para adultos disponíveis no SNS — 713 agora, 528 no início da pandemia, “ou seja, um aumento de 35% desde há 60 dias” —, e explicado que essa capacidade de resposta nunca foi utilizada na totalidade. “Temos uma taxa de ocupação, à data, de 50%”, reforçou.

Admitindo, ainda assim, que o objetivo de alcançar a média europeia de 11,5 camas de unidades de cuidados intensivos por cada 100 mil habitantes ainda não foi alcançada — “Está perfeito? Não está” —, Marta Temido garantiu que o Governo está a envidar todos os esforços nesse sentido e que “é este o caminho que está a ser realizado”.