Foi, até agora, o maior fenómeno da pandemia em Portugal: o direto “Como é que o Bicho Mexe”, de Bruno Nogueira, começou como um desabafo do humorista e argumentista (e cantor e ator e mais ainda) entre dias de isolamento, para se transformar no mais famoso talk show da não-televisão portuguesa e na mais concorrida companhia contra o isolamento. Duas horas de conversa sem filtros, sempre com convidados, uns mais regulares que outros. Com milhares de visualizações e já no último episódio, o programa de Bruno Nogueira teve esta sexta-feira várias surpresas. E chegou a ter mais de 170 mil pessoas a ver em simultâneo.

Cristiano Ronaldo entrou em direto a partir de sua casa, em Turim, e as visualizações chegaram às 100 mil. A partir daqui a audiência foi sempre a aumentar conforme Bruno Nogueira, ao volante de um carro com o convidado Nuno Markl ao lado, a servir de motorista, circulou por várias ruas da grande Lisboa, entre aplausos e buzinas, como que acompanhado por uma escolta. A viagem terminou no Coliseu dos Recreios, onde vários amigos o esperavam, como o cantor Salvador Sobral ou o atleta Nelson Évora. Isto antes de um grande final no palco da sala lisboeta.

Na longa viagem de carro, Bruno Nogueira e Nuno Markl foram fazendo chamadas ou recebendo outras em direto. No início da semana Bruno Nogueira, que lançou o programa há dois meses no Instagram, durante a quarentena, deixou o repto aos seus seguidores que colocassem luzes de Natal à janela, e houve muitos que lhe fizeram a vontade. A ideia era estabelecer alguma interatividade entre o anfitrião e os espectadores — e também deixar uma espécie de agradecimento a quem o seguiu.

[Veja aqui na íntegra o último episódio de “Como é que o Bicho Mexe”:]

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Na viagem, que começou as 23h00, às tantas os dois humoristas são surpreendidos pela chamada de Cristiano Ronaldo, através da conta de Instagram da sua namorada, Georgina Rodríguez. “Só para te mandar um abraço que aqui é uma hora a mais. Amanhã há treino. Grande abraço e sucesso”, diz Cristiano Ronaldo, aparentemente deitado na cama. “Espera aí. Era o Ronaldo? Não consigo processar”, diz Bruno Nogueira no final da chamada. “Foi chocante”, respondeu Nuno Markl.

A viagem prosseguiu com mais gente a aparecer, como a do ator Albano Jerónimo — que no calor do momento acabou por exibir o rabo em plena rua, justificando-se com a passagem da barreira dos cem mil espectadores. O ator baixou as calças, foi para o meio da rua gritar e as chamadas continuaram: logo de seguida para a multifacetada Beatriz Gosta, que em direto de Rio Tinto deu um outro momento inesperado ao programa — um grupo vestido de mães Natal que cantaram numa rotunda no meio da estrada.

[O último “Bicho” mexeu com milhares e aconteceu assim:]

À medida que passavam pelas ruas, vários condutores continuavam a apitar, muitos acenavam à janela, outros ainda faziam vénias na berma da estrada. Tanto que Bruno Nogueira acabou por alertar as pessoas para que não se concentrassem e que se mantivessem em segurança. O programa avançou, Nuno Markl, sempre no lugar do condutor e de máscara, repetia que a noite estava a ser inesquecível e que não esperava tantas pessoas: “É o  maior dia da minha vida, no top 3, com o dia em que nasceu o meu filho e o dia em que perdi a virgindade”, ironizou.

Bruno Nogueira mata o Bicho esta noite: será que o Bicho vai voltar a mexer?

Entre os convidados apareceu também Nuno Lopes, no dia em que se estreou na Netflix a série “White Lines”, de cujo elenco faz parte. O ator agradeceu a amizade de Bruno Nogueira e o humorista chegou a emocionar-se. Revelaram também que durante este período de isolamento falaram várias vezes ao telefone e se apoiaram um ao outro.

Pelo programa passaram outros convidados, como o humorista Salvador Martinha, o argumentista João Quadros, o artista Vhils, que por estar em casa da namorada não podia fazer nada nas paredes (como fez na noite de 24 para 25 de abril), ou mesmo o radialista Cal, diretamente do Polo Norte, o homem que estabeleceu uma comunicação rara com o “Como é que o Bicho Mexe”, ao passar música portuguesa a pedido de Bruno Nogueira e de Nuno Markl.

A viagem terminou no Coliseu dos Recreios, com vários fãs à espera. Nogueira pergunta se tem que usar máscara para entrar, e avisa que precisa de ir à casa de banho. Quando ali chega, outro participante: o músico Salvador Sobral, que diz estar a meio de um ensaio com André Santos, na guitarra. Acabam a cantar “Lado Esquerdo”, dos Clã, numa casa de banho de sala lisboeta.

Bruno Nogueira e a reinvenção do late night nos tempos da quarentena

É quase 1h00, o programa está a terminar, ainda com mais de 16o mil pessoas a ver. Markl aproveita para urinar em direto e ganha mais 4 mil seguidores. E quando se pensava que tudo iria terminar, surge o atleta Nelson Évora. Diz que veio a correr e que até o multaram. Depois, aproveita e faz o triplo salto nos corredores do Coliseu.

O telefone continuava a transmitir tudo em direto e conduzia-nos a um piano, já no palco. As mãos eram as de Filipe Melo, músico que terminou todos os diretos de “Como é que o Bicho Mexe”. Surgiram depois muitos dos convidados de Bruno Nogueira que acabaram por se organizar com a devida distância de segurança e com o apresentador, surpreendido, a pedir aos seus seguidores que não se concentrassem à porta do Coliseu para não lançarem “o caos”.

No final, Bruno Nogueira cantou “Vendaval”, de Tony de Matos, com Nuno Rafael na guitarra e Filipe Melo ao piano: “Voltamos a encontrar-nos em algum sítio, não sei, provavelmente aqui, é um até já”.