Nos últimos dias, e tal como tem sido habitual nas últimas janelas de mercado, o Tottenham tem sido associado a vários negócios com vários jogadores de várias ligas. Se na semana passada, pela enésima vez, surgiram notícias de que Gareth Bale estaria perto de trocar Madrid por Londres e voltar aos spurs, há alguns dias apareceu na imprensa inglesa uma ligação entre o Tottenham e Kim Min-jae, central sul-coreano que alinha no Beijing Guoan e em quem o FC Porto também estará interessado. Já esta terça-feira, e nos jornais desportivos portugueses, o clube londrino foi associado — em conjunto com o Manchester United — à contratação de Marcus Edwards, avançado inglês que alinha no V. Guimarães e que foi formado precisamente nos spurs.

Ainda assim, e mesmo com o clube sem envolvido no vórtice das compras e das vendas de um mercado de transferências que será necessariamente atípico, as vozes internas do Tottenham têm falado mais sobre a manutenção dos jogadores que já fazem parte do plantel do que sobre novas aquisições. Esta segunda-feira, os spurs anunciaram as extensões dos contratos de Michael Vorm e Jan Vertonghen, que terminavam ambos a ligação com o clube a 30 de junho, até ao final efetivo da atual temporada — garantindo desde logo, para além do guarda-redes holandês que é o terceiro guardião do plantel, o contributo do experiente central belga, uma das figuras da equipa, até ao fim da época. Mais tarde, na conferência de imprensa de antevisão à receção ao West Ham, foi a vez de José Mourinho falar sobre a possibilidade de perder um dos líderes da equipa, o avançado Harry Kane.

“Para mim, não é Harry Kane, é ‘Hero’ Kane, porque estamos a falar de um tipo que teve uma grande cirurgia, passou por uma quarentena que parou a recuperação perfeita, porque parou mesmo, e com todas estas dificuldades voltou aos treinos… Para mim, ‘Hero’ Kane”, começou por dizer o treinador português, recordando depois que o inglês ainda tem quatro anos de contrato com o Tottenham. “O que é que o clube pode fazer? O clube não precisa de fazer nada. O clube só precisa de dizer: ‘O Harry Kane é nosso, o Harry Kane tem um contrato a longo prazo, o Harry Kane não está à venda, o Harry Kane é do Tottenham, o Harry Kane vai ficar’. Queremos o mesmo. Ele não quer nada diferente daquilo que o Daniel Levy [o presidente] quer, daquilo que o Joe Lewis [o dono] quer. Ele não quer nada de diferente daquilo que nós queremos”, garantiu Mourinho.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os elogios do treinador ao avançado inglês, que batem certo com as primeiras declarações de José Mourinho, assim que chegou ao Tottenham, foram também uma resposta às críticas à exibição do jogador no primeiro jogo da retoma, contra o Manchester United. No empate contra os red devils, para além de não ter marcado, Kane só rematou uma vez à baliza e tocou apenas 36 vezes na bola, um número só superior ao do guarda-redes Lloris entre os jogadores que cumpriram os 90 minutos. “Ele jogou um jogo, seis meses depois. Eu sei que se marcar dois golos, o falatório pára. A única coisa que sei é que ele fez um esforço incrível, jogou 94 ou 95 minutos, no domingo e na segunda-feira estava a treinar outra vez e está pronto para jogar. É um profissional fantástico, está super comprometido com a equipa”, atirou Mourinho, um fã confesso de Harry Kane.

Bruno enche o campo (sobretudo com Pogba ao lado), marca e aumenta pior série sem vitórias da carreira de Mourinho

Esta terça-feira, depois do empate com o Manchester United de Bruno Fernandes, o Tottenham recebia então o West Ham, uma equipa que ainda luta para não descer e que perdeu com a armada portuguesa do Wolves durante o fim de semana. Em oitavo, com uma proximidade pontual assinalável tanto do 5.º classificado como do 11.º, os spurs procuravam a primeira vitória da retoma e um resultado que lhes permitisse continuar ativamente na corrida pelo último lugar de acesso à Liga dos Campeões da próxima temporada.

Harry Kane foi titular, com Lo Celso, Son e Lucas Moura nas costas, e o Tottenham foi quase sempre superior, ainda que não tenha criado muitas oportunidades de golo na primeira parte. Na segunda, o jogo abriu, até porque o West Ham tentou subir os setores e procurou explorar a profundidade nas costas dos spurs, mas acabou por ser a infelicidade de Soucek, o médio checo dos hammers, a desbloquear o resultado a favor da equipa de Mourinho. Na sequência de um canto batido na direita e depois de um desvio inicial de Lucas Moura, Soucek tocou inadvertidamente para dentro da própria baliza e lançou o Tottenham para a vitória (64′).

Mourinho tinha colocado Lamela pouco antes do golo e reagiu à vantagem ao lançar Bergwijn, para refrescar a fase de transição e tentar controlar a posse de bola até ao apito final. E acabou mesmo por ser Lamela, mais rápido do que os jogadores do West Ham, a recuperar uma bola ainda no próprio meio-campo para depois lançar o contra-ataque. Son recebeu mais à frente e isolou Harry Kane com um passe vertical — o inglês, à saída de Fabianski, atirou rasteiro e selou a vitória dos londrinos, voltando aos golos quase seis meses depois e tornando-se o quarto melhor marcador da história dos dérbis de Londres (apenas atrás de Henry, Lampard e Sheringham). A última vez que o avançado tinha marcado, ainda antes da grave lesão que sofreu, tinha sido a 28 de dezembro de 2019, contra o Norwich, e o golo marcado ao West Ham pareceu ter sido a confirmação da profecia de José Mourinho ainda na antevisão. Depois de marcar, claramente exausto, Kane atirou-se para o chão e limitou-se a festejar com os braços e os olhos colocados no céu, ciente de que finalmente acabou com um deserto de concretização que se arrastava desde o fim do ano passado.

O Tottenham voltou às vitórias oito jogos depois, conseguiu não sofrer golos após nove partidas seguidas para todas as competições a sofrer e aproximou-se, ainda que provisoriamente, do Manchester United, do Wolves e das posições que dão acesso às competições europeias. Mourinho tinha dito que Kane só precisava de marcar para o “falatório” parar e a verdade é que o avançado, o Hero Kane, respondeu da melhor maneira.