Naquele que é considerado um julgamento histórico, rodeado de fortes dispositivos de segurança, Derek Chauvin foi acusado de sufocar deliberadamente até à morte George Floyd, enquanto a defesa do ex-polícia justificou o uso da força, invocando o consumo de drogas por parte do afro-americano morto em maio do passado.

Derek Chauvin, de 45 anos, está acusado de homicídio por negligência e de homicídio qualificado e, caso venha a ser considerado culpado da acusação mais grave, pode ser condenado a 40 anos de prisão. O julgamento arrancou na segunda-feira e vai prolongar-se durante pelo menos quatro semanas, com o mundo em suspenso enquanto aguarda pelo desfecho de um julgamento que é visto como um momento decisivo para a história de um país a lidar com as feridas do seu passado e a olhar para os desafios futuros quanto ao racismo e à violência policial.

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Nas alegações iniciais, conta o The New York Times, a acusação, a cargo do procurador Jerry Blackwell, começou por mostrar o vídeo de nove minutos e 29 segundos em que George Floyd, de 46 anos, é sufocado até à morte, apesar de ter dito 27 vezes que não conseguia respirar.

“Podem acreditar nos vossos olhos. Foi homicídio. Um assassínio”, afirmou Blackwell perante os 12 jurados. “O que Chauvin estava a fazer, foi feito deliberadamente”, acrescentou o procurador, referindo que o “ataque” do agente da polícia foi levado a cabo com “força excessiva” que acabou por levar à morte de George Floyd.

O advogado de Derek Chauvin, por seu turno, defendeu a atuação do seu cliente, afirmando que este fez “exatamente aquilo que foi treinado para fazer ao longo dos 19 anos da sua carreira”. “O uso da força pode não ser atrativo, mas é uma componente necessária no trabalho policial”, referiu o advogado Eric Nelson.

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Nas suas alegações iniciais, o advogado do ex-polícia disse que aos jurados que as provas vão mostrar que, na altura da sua morte, George Floyd estava sob o efeito de drogas, daí a necessidade do uso da força. Nelson disse ainda que vai provar que Floyd morreu de “arritmia cardíaca que ocorreu em resultado da hipertensão, doença coronária e ingestão de metanfetaminas e fentanil”.

De acordo com uma das autópsias, foram encontradas, de facto, metanfetaminas e fentanil no sistema de George Floyd. No entanto, outra autópsia aponta para a morte do afro-americano por paragem cardíaca causada por asfixia.

Nesse sentido, antevê-se que a análise à causa da morte assuma um papel preponderante no desfecho do julgamento e a acusação já disse que vai chamar sete especialistas a testemunhar.

Primeiras testemunhas chamadas

O primeiro dia de julgamento ficou ainda marcado pelas declarações de Donald Williams III, um segurança e instrutor de artes marciais, de 33 anos, que testemunhou a morte de George Floyd. Perante o tribunal, a testemunha disse que conseguiu perceber o sofrimento de Floyd a ser sufocado por Chauvin.

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Outra testemunha, Jenna Scurry, funcionário do 911 que alertou a esquadra de Derek Chauvin sobre a detenção de George Floyd enquanto via imagens de videovigilância. “Os meus instintos diziam-me que havia algo de errado”, disse Scurry perante o tribunal.

O julgamento de Derek Chauvin está a decorrer sob fortes medidas de segurança, e no exterior do tribunal de Minneapolis foram erguidas barreiras e cercas com arame farpado para impedir possíveis desacatos. Durante o dia, vários manifestantes juntaram-se nas imediatações do tribuna para manifestar solidariedade e exigir justiça para George Floyd.

Quanto aos jurados, foram escolhidas 15 pessoas (incluindo três suplentes) — nove brancas, e as restantes seis negras ou de outras etnias — cuja identidade não será revelada até que o veredicto seja proferido.

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Ben Crump, advogado da família de George Floyd, disse que o julgamento é um “referendo sobre o quão longe a América já chegou na procura de igualdade e de justiça para todos”.

O assassínio de George Floyd, a 25 de maio de 2020, levou a enormes protestos contra o racismo e a violência policial nos Estados Unidos, numa onda de contestação que chegou a muitos outros países.

Além de Derek Chauvin, também os agentes Tou Thao, J Alexander Keung e Thomas Lane vão a julgamento, em agosto, por cumplicidade no assassínio de George Floyd.