A editora holandesa Ambo Anthos de “Quem traiu Anne Frank?” mandou retirar das bancas o livro que sugere que foi um judeu que traiu a família da rapariga judia. O título tem estado envolto em polémica desde que foi publicado e no final de janeiro a impressão de novos exemplares foi suspensa, enquanto a editora esperava pelo resultado de uma investigação que apurava a credibilidade dos factos narrados.

Editora holandesa de novo livro que revela a traição de um judeu a Anne Frank suspende impressão de cópias por falta de respostas

O relatório, realizado por especialistas na Segunda Guerra Mundial e historiadores, foi publicado esta terça-feira, não deixando margens para dúvidas: “Não há evidências suficientemente fortes para esta grave acusação, cita-o a BBC. A narrativa não resistiu a um escrutínio profissional rigoroso, refere a equipa, contratada pela editora.

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Passo seguinte, em comunicado, a Ambo Anthos decidiu, com efeito imediato, que o livro deixaria de estar disponível e solicitou às livrarias para devolverem os que têm em stock. Pediu ainda “sinceras desculpas” a quem o conteúdo da obra, qualificada pelo relatório como “amadora”, poderá ter ofendido.

Esta decisão não surtiu ainda efeitos em Portugal. Almudena Gil, diretora da divisão digital da HarperCollins Ibérica, responsável pela edição portuguesa, garantiu ao Observador que “não têm instruções superiores” e, por isso, decidiram manter o livro à venda nos dois países.

Embora reconheçamos que houve algumas críticas às descobertas, a investigação foi feita com respeito e o maior cuidado por um tópico extremamente sensível”, reagiu em resposta escrita ao Observador a HarperCollins.

Publicado recentemente em Portugal, o livro revela as conclusões da investigação feita por uma equipa de cerca de 20 especialistas em casos arquivados, escolhida por Pieter van Twisk, um produtor holandês, há seis anos, e dirigida por Vince Pankoke, ex-agente do FBI. Rosemary Sullivan, autora da biografia da filha de Estaline, foi contratada para contar a história.

Livro que sugere que Anne Frank foi traída por notário judeu vai ter edição portuguesa

O livro sugere que a família de Anne Frank foi traída por um judeu, Arnold van den Bergh, figura de renome em Amesterdão nos anos 1940, membro do Conselho Judaico de Amesterdão. Van den Bergh escapou ao destino trágico dos outros membros do conselho, quando este foi dissolvido em 1943: os campos de concentração. O judeu influente, dizem as páginas de “Quem traiu Anne Frank?”,  vendeu a localização do esconderijo de várias famílias judias para assegurar a sua segurança, assim como a dos seus familiares.

Assim que o conteúdo do livro se tornou conhecido, a polémica estalou. O Congresso Judaico Europeu instou a HarperCollins a mandar retirar a versão inglesa, alegando que tinha atentado à memória de Anne Frank e à dignidade dos sobreviventes do Holocausto. PietervanTwisk saiu a terreiro para explicar que a conclusão apresentada no livro era “apenas uma teoria”, mas isso não bastou à editora. Encomendou a investigação e mês e meio depois agiu em conformidade com as conclusões nada abonatórias do relatório.