O diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, alertou esta terça-feira que um acidente nuclear ou radiológico durante o conflito na Ucrânia poderá ter “consequências desastrosas” para os povos “ucraniano, russo, de países vizinhos e além”.

Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a situação na central nuclear ucraniana de Zaporijia — atualmente controlada pelas forças russas -, o diretor da AIEA afirmou que a segurança nuclear e a situação de proteção da central continuam “extremamente frágeis e perigosas”.

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Antevendo que as atividades militares possam aumentar consideravelmente num futuro próximo, Grossi – que classificou a reunião desta terça-feira como “a mais importante” em que participou desde o início da guerra – afirmou que “chegou a hora de ser mais específico quanto ao que é necessário”, ou seja, “evitar uma libertação perigosa de material radioativo”.

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Nesse sentido, o diplomata argentino delineou cinco princípios que considerou “essenciais” para evitar o perigo de um incidente catastrófico na central nuclear de Zaporijia.

“Não deve haver nenhum tipo de ataque de ou contra a central, em particular visando os reatores, armazenamento de combustível irradiado, outra infraestrutura crítica ou pessoal”, diz o primeiro princípio definido por Grossi.

Em segundo, Zaporijia não deve ser usada como armazenamento ou base para armas pesadas – ou seja, lançadores de foguetes múltiplos, sistemas de artilharia e munições e tanques – ou pessoal militar que possa ser usado para um ataque a partir da central.

“A energia fora do local para a central não deve ser colocada em risco. Para isso, todos os esforços devem ser feitos para garantir que a energia externa permaneça disponível e segura o tempo todo”, frisou Grossi.

Além disso, todas as estruturas, sistemas e componentes essenciais ao funcionamento seguro e protegido da central nuclear de Zaporijia devem ser protegidos de ataques ou atos de sabotagem. Por fim, “nenhuma ação deve ser tomada que prejudique esses princípios”, sublinhou o diretor da AIEA.

“Peço respeitosa e solenemente a ambas as partes do conflito que observem estes cinco princípios e solicito aos ilustres membros do Conselho de Segurança que os apoiem inequivocamente”, exortou.

A AIEA pretende começar a monitorizar esses princípios através da sua missão no local, informou ainda Grossi. Esta é a quarta reunião do Conselho de Segurança da ONU focada na central de Zaporijia desde o início da guerra em fevereiro de 2022 e foi convocada pelo Equador e pela França.

A central nuclear de Zaporijia — a maior da Europa — fornecia 30% da eletricidade da Ucrânia antes da invasão russa no ano passado. Desde março do ano passado, as forças russas controlam a central, enquanto técnicos e especialistas ucranianos da agência estatal de energia atómica da Rússia – Rosatom – continuam a operar a instalação. Nas últimas semanas, bombardeamentos no local — pelos quais Kiev e Moscovo se culpam mutuamente — levantaram preocupações sobre uma possível catástrofe.

Rafael Grossi informou esta terça-feira que a central tem estado a funcionar com um número significativamente reduzido de funcionários, situação que “não é sustentável”.

Além disso, especificou, por sete ocasiões o local perdeu toda a energia externa e “teve que contar com geradores a diesel de emergência, a última linha de defesa contra um acidente nuclear, para fornecer o resfriamento essencial do reator e do combustível irradiado”.