O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vê na atribuição do Prémio Camões ao ensaísta João Barrento, anunciada esta terça-feira, o reconhecimento de uma carreira distinta, como académico e tradutor, que “reafirma o ensaio como género literário”.

“O prémio reconhece uma distinta carreira académica, nomeadamente no campo da germanística e da literatura comparada”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa na mensagem publicada esta terça-feira no site da Presidência da República.

Para o Presidente, o prémio celebra igualmente “o empenho de décadas em muitas e rigorosas versões dos grandes autores de língua alemã, de Goethe e Holderlin a Kafka, Musil, Benjamin, Celan, Heiner Müller ou Handke”.

Marcelo Rebelo de Sousa destaca ainda como a escolha do Prémio Camões deste ano “reafirma o ensaio enquanto género literário, esse ensaio a que João Barrento muito justamente chamou ‘o género intranquilo'”, depois de em edições anteriores terem sido distinguidos autores como “Eduardo Lourenço, Antonio Candido, Alberto da Costa e Silva, V. M. de Aguiar e Silva e Silviano Santiago”.

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O ensaísta, tradutor e professor universitário João Barrento foi distinguido esta terça-feira com o Prémio Camões, tendo o júri reconhecido no autor “uma obra relevante e singular”, em particular “as suas traduções de literatura de língua alemã”, num conjunto que constitui o “mais consistente corpo de traduções literárias do nosso património cultural”, contribuindo para o “enriquecimento da língua e de difusão em português das grandes obras da literatura mundial”.

Para o ministro português da Cultura, Pedro Adão e Silva, o ensaísta, tradutor e crítico literário João Barrento, de 83 anos, é “um dos pensadores mais acutilantes da arte e da cultura em Portugal”.

João Barrento nasceu a 26 de abril de 1940 em Alter do Chão.

Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo publicado diversos livros de ensaio, crítica literária e crónica.

Foi leitor de Português na Universidade de Hamburgo e, leitor de Alemão na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e professor de Literatura Alemã e Comparada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Como tradutor de língua alemã, transpôs para português dezenas de autores, particularmente de poesia, da expressão mais antiga à mais moderna e contemporânea, além de obras de ficção, filosofia e teatro.

Foi distinguido com os prémios Calouste Gulbenkian da Academia das Ciências de Lisboa, o Grande Prémio de Tradução do PEN Clube Português/Associação Portuguesa de Tradutores, pela obra de Goethe e pela tradução integral de “Fausto”, o Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho, o Prémio D. Diniz, da Casa de Mateus, e o Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores, pelo livro “A Escala do Meu Mundo”.

Em 2022, recebeu o prémio Vida Literária Vitor Aguiar e Silva da APE.

João Barrento, vencedor da edição deste ano, sucede ao brasileiro Silviano Santiago, que conquistou o prémio em 2022.

O Prémio Camões de literatura em língua portuguesa, instituído pelos Governos de Portugal e do Brasil, foi atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor português Miguel Torga.

Segundo o texto do protocolo constituinte, assinado em Brasília, em 22 de junho de 1988, e publicado em novembro do mesmo ano, o prémio consagra anualmente “um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”.