Entre André Ventura e Inês Sousa Real tudo serve de arma de arremesso. Dos Açores à Madeira, das acusações da busca pelo poder à tentativa de manter o poder a todo o custo, da quantidade de medidas aprovadas com o PS e até um tema sensível para os dois: animais. De tal forma que Ventura chega mesmo a dizer à líder do partido animalista: “Não gosta mais de animais do que eu, no máximo gosta o mesmo”.

O debate começou pelo tema dos Açores, que rapidamente resvalou para a Madeira, para se criticarem mutuamente sobre o que querem da política: enquanto Sousa Real se vangloriava pelo facto de o PAN ter permitido, na Madeira, “travar a ascensão de forças políticas extremistas”, André Ventura tentava travar o argumento ao deixar a garantia de que o partido ambientalista “não está a afastar o Chega do poder” apenas a “colar-se ao poder como uma lapa“.

O líder do Chega cavalgou o guião para acusar o PAN de ser “o maior ataque à democracia” e introduziu um dos temas que antagonizou os dois líderes: os socialistas. Enquanto Ventura criticava o PAN por “sustentar” e ser “aliado” do PS, Inês Sousa Real defendia-se dizendo que “o Chega votou mais vezes ao lado do PS do que o PAN”, devolvendo a provocação: “O Chega é uma força completamente inútil para a democracia.”

O debate centrou-se depois em assuntos como as polícias, em que André Ventura não só defendeu que foi feito “um ato de terrorismo” contra estes cidadãos — uma resposta a António Costa, que disse ter havido um “grave ato de traição à democracia” —, mas também os considerou “os mais prejudicados” e “humilhados“, aproveitando para acusar Sousa Real, que se absteve no Orçamento do Estado, de ter estado “ao lado do PS” e não das forças de segurança.

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Sousa Real considerou a reivindicação das forças de segurança “mais do que justa” e disse que “o Estado deve dar resposta de forma mais transversal para não se estar sempre de penso rápido”, mas não respondeu se entende que o partido liderado por André Ventura tem implicação direta nos protestos das forças de segurança. “O PAN não quer a revolução nas ruas”, repetiu.

Ventura e Sousa Real alinharam na taxação dos lucros excessivos da banca. O líder do Chega assumiu que “há momentos na história dos povos em que temos de pedir solidariedade aos que estão a ganhar” e a líder do PAN foi no mesmo sentido para dizer que “o dinheiro e borlas fiscais dadas às bancas devem ir para as famílias e não quem mais lucra e polui”.

Raciocínio diferente foi tido quando chegaram à questão das petrolíferas, em que Ventura acusou o PAN de ter defendido aumento de impostos sobre os combustíveis e de não pensar em quem precisa de se deslocar de carro para o trabalho e Inês Sousa Real esclareceu que o partido quer esse dinheiro a ajudar as famílias.

Com acusações de parte a parte porque chumbaram propostas do outro partido, Ventura defendeu o crédito bonificado para jovens, que Sousa Real disse que foi proposto pelo PAN, e o líder do Chega culpou o partido por ter contribuído para que o país esteja, em termos de habitação, com uma construção “abaixo da última década do Estado Novo” — o que levou Sousa Real a sugerir, entredentes, que o Chega tem saudades do antigo regime (“nós sabemos ao que vêm”).

Já no final do debate, um tema sensível para ambos: os animais. Com Ventura a dizer que Sousa Real “não gosta mais de animais” do que o próprio, defendeu que o partido “é contra a ecologia punitiva que o PAN quer trazer”. A líder do PAN atirou-se à “incoerência de quem acha que alguns animais devem ser protegidos, mas que um touro pode ser torturado”.

O diálogo mais revelador

Inês Sousa Real: O Chega votou mais ao lado do PS do que o PAN.
André Ventura: O Chega apresentou duas moções de censura ao governo do PS…
Inês Sousa Real: Aprovaram zero propostas.
André Ventura: O PAN sustentou o governo socialista, o Chega votou contra o Orçamento todas as vezes, votos do PAN [foram] abstenção. Vocês são o maior ataque à democracia e ao tachismo, querem garantir que se mantêm à volta do poder para garantir os vossos lugares de deputados.