Ainda há mais duas presenças previstas do líder do PSD e primeiro-ministro na campanha eleitoral das Europeias da AD, mas nas três primeiras, Luís Montenegro já foi mostrando ao que vem. Não quer leituras nacionais destas eleições e rejeita problemas no seu Governo em caso de derrota, modera expectativas, vende o que já fez, avisa a oposição, radicalizando o PS, e faz a pedagogia do voto que nas últimas legislativas tramou a AD confundida com o ADN.

Voltará à campanha no dia em que a recandidata do PPE à Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, vai estar com a candidatura, quinta-feira no Porto e, depois, para o fecho, na sexta-feira. Diz que não é o primeiro-ministro que ali está — “o Governo onde é que está? Não está aqui. Está aqui o presidente do PSD” , disse ao chegar a Pombal –, mas só fala da governação”.

“AD tracinho Aliança Democrática”.

Apesar da confusão que alguns eleitores fizeram nas legislativas, só mesmo Luís Montenegro tem vindo à campanha fazer esta pedagogia. Já o tinha feito no comício de Évora, mas voltou à carga nesta terça-feira, em Pombal, para dizer que não quer “nenhum voto de nenhum português que queira votar no ADN” e espera “que nenhum dos que quer votar na AD vote no ADN por engano”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em 2022, o partido de extrema-direita  teve menos de 10 mil votos nas legislativas de 2022 e nas de 10 de março deste ano teve “mais de 100 mil”. Um trauma que continua a pesar na mente do primeiro-ministro que está em funções e com menos deputados na bancada do seu partido do que na do rival PS —  alguns dos votos que foram para o ADN poderiam ter feito alguma diferença nessas contas.

“A mesma dinâmica qualquer que seja o resultado”

No primeiro comício em que esteve, em Évora no arranque oficial da campanha, Luís Montenegro disse uma frase em que deixou clara a sua linha vermelha quanto  a leituras nacionais: “Desengane-se quem acha que a dinâmica do Governo só existe por causa das eleições. No dia 10 e 11 estaremos com a mesma dinâmica qualquer que seja o resultado”. Esta última tirada é um aviso claro à oposição que possa estar a aguardar uma escorregadela da AD nestas Europeias para precipitar uma crise política.

E esta terça-feira, ainda virou o assunto para os eleitores, para os avisar que “esta eleição não deve ser utilizada para outra coisa que não seja para escolher os que melhor podem representar país no Parlamento Europeu”. Por isso, disse, “é importante que não se escolha por simpatia ou pela filosofia partidária, mas pela qualidade intrínseca dos representantes do país.”

“Muito difícil”

Nas contas do PSD, o maior partido da coligação, este é a quinta eleição de um ciclo de vitória. E Montenegro já foi à campanha tirar pressão da coligação, dizendo que depois de Madeira, em outubro, Açores em fevereiro, legislativas em março e novamente Madeira em maio, é “muito difícil” ganhar uma quinta eleição. Um claro moderar da fasquia para a AD que tem muito a perder se o resultado ficar por baixo.

“Falta pedalada à oposição”

Quem ouve o líder do PSD falar nos comício nota a clara pressa em mostrar trabalho para alimentar a sua tese de que já fez mais em dois meses do que o Governo socialista em oito anos. Contabiliza mesmo os dias, quase para o seu lado, mais de 3 mil para o lado de António Costa e enumera: o plano de emergência para a Saúde, o programa estratégico para a habitação, a localização de infraestruturas, o plano para as migrações.

Desafia o PS muito diretamente, garantindo que a oposição “não tem pedalada para acompanhar o Governo”. “Vai ter de fazer esforço adicional porque vamos manter a pedalada forte”, disse em Santa Maria da Feira, aproveitando a tradição local no ciclismo. Há um constante medir de forças, com o primeiro-ministro a não travar medidas em tempo de campanha eleitoral e especificamente nas áreas que maiores queixas a governação socialista deixou.

O avanço valeu-lhe críticas de “eleitoralismo” por parte da oposição, mas a sua resposta foi indireta e apontando ao passado socialista:  “Outro tempo houve e outras forças políticas há que aproveitam as campanhas eleitorais e os membros do Governo para fazerem campanha direta política. Nós na AD não fazemos isso”, afirmou em Pombal.

Como a AD tenta segurar o dia seguinte do seu Governo em três pontos

“Não bloquear um Governo legitimamente escolhido nas urnas”

A queixa é repetida em cada presença de Luís Montenegro neste palco eleitoral. Na sua lógica, as Europeias podem não ser sítio para tirar consequências nacionais, mas servem para ataques e acertos de contas nacionais. O que se passa na Assembleia da República, onde o PS tem feito passar (com o Chega) alguns projetos contra a vontade da AD, tem uma leitura que Montenegro quer ver tirada nas urnas no dia 9 de junho.

Em Santa Maria da Feira, na sexta-feira passada, considerou que a oposição “não deve bloquear um Governo legitimamente escolhido nas urnas”. Esta terça-feira, em Pombal,  acusou os socialista de “andarem a empatar” na descida do IRS e de “mau humor” e “azedume”. E aproveitou para dizer muito diretamente a Pedro Nuno Santos, que se tinha queixado de falta de diálogo nas medidas para a imigração, que “o que falta não é diálogo, o que falta é vontade à oposição de estar ao lado dos portugueses mesmo que isso signifique estar ao lado do Governo”. Uma radicalização do PS, que a AD tem tentado colar ao Chega nesta campanha, apresentando-se como o “voto da moderação”, apostado em atrair o voto do eleitorado de centro.