A oposição reagiu ao discurso desta quinta-feira à noite de Luís Montenegro na Festa do Pontal, onde anunciou três novas medidas do Governo, e criticou em uníssono as palavras do primeiro-ministro, nomeadamente com acusações de que o Executivo piorou os problemas que já existiam.

Alexandra Leitão, líder parlamentar do PS, considera que o discurso de Luís Montenegro “visa apenas desviar a atenção de todos daquela que tem sido uma situação de quase descalabro na saúde”. “Os números desmentem o que o primeiro-ministro disse. É factual que tem havido mais 40% de urgências encerradas do que em período semelhante do ano passado, há muito mais imprevisibilidade para as grávidas, uma vez que este Governo abandonou a reforma que estava em curso”, explicou a deputada socialista.

“É uma falácia dizer que o PS pede que o Governo resolva problemas em três ou quatro meses. O problema não é não resolverem, é piorarem a situação. É factual que o SNS está pior”, sublinhou.

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Ainda sobre o aumento de vagas em medicina, a líder parlamentar do PS assegurou que “não resolve nada nem no curto nem no médio prazo”, frisando que mais importante seria investir no SNS e nos recursos humanos do SNS. Alexandra Leitão notou também que “o passe ferroviário já existe” e que ser anunciado como medida para a mobilidade verde é “bastante curto”, tendo ido mais longe para questionar: “Em que comboios é que este passe vai servir para andar?”

“Ao contrário do que o primeiro-ministro referiu, que estavam a fazer coisas estratégicas e estruturais, as medidas hoje anunciadas são conjunturais”, avisou a líder parlamentar socialista.

Pagamento único nas pensões, passe ferroviário de 20 euros e mais vagas em medicina. As três medidas anunciadas por Montenegro

Patrícia Carvalho, deputada do Chega, acredita que Luís Montenegro fez na Festa do Pontal o que tem vindo a fazer nos últimos meses: “Apresentar medidas quando as medidas anunciadas nos meses anteriores não foram concretizadas.”

A deputada do Chega criticou o primeiro-ministro por não ter dedicado uma palavra ao Orçamento do Estado, concluindo que “o ‘não é não’ de Montenegro não é ao Chega, é um não à estabilidade política e social do país”. E questionou também a falta de foco de Montenegro quando falou na questão da imigração, frisando que “há muitos milhares de migrantes que não estão a trabalhar, estão ilegais e não houve uma única palavra para este aspeto”, que diz causar preocupação e indignação na população.

“O primeiro-ministro parece que vive alheado da realidade”, notou, frisando que o caso do passe ferroviário a 20 euros é uma “ótima ideia”, mas questionando a forma como pode ser usado: “Onde é que estão comboios?”

Mariana Leitão, da Iniciativa Liberal, contrariou o primeiro-ministro ao dizer que este ano “há menos previsibilidade” na questão das urgências de obstetrícia do que no ano passado. “A questão da saúde continua a preocupar e é óbvio que o plano anunciado pelo Governo está a falhar”, realçou. “Era importante que houvesse medidas concretas [na saúde], o primeiro-ministro continua a impor barreiras no que diz respeito à saúde apenas contando com setor privado e social em situação de rutura”, frisou a líder parlamentar da IL.

Quanto aos impostos, insistiu que o Governo aposta numa “discriminação” ao insistir no IRS ao invés de apresentar uma medida igual para todos. Já sobre o passe da ferrovia a 20 euros, Mariana Leitão referiu que “do lado da oferta os serviços funcionam mal, há greves, os comboios não funcionam e não se viu nada que permita resolver os problemas da ferrovia”. E acrescentou: “viu-se proposta para aumentar procura sem que haja um estímulo no serviço.”

Fabian Figueiredo, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, começou por dizer que “faltou investimento no SNS e diálogo com os profissionais de saúde”. “Os portugueses sabem que entre abril e agosto a resposta do SNS piorou e isso é responsabilidade exclusiva deste Governo que acrescentou problemas aos problemas estruturais que já existiam”, afirmou.

O deputado bloquista considera que medidas do Governo para a habitação vão tornar este setor “mais difícil, seja para a aquisição, seja para arrendamento” porque “promove especulação e turistificação” e realçou que “a própria ministra Margarida Balseiro Lopes teve oportunidade de reconhecer e [que] faltou essa humildade ao primeiro-ministro”, frisando que “as casas estão mais caras” e “as medidas vieram acrescentar problemas aos problemas”.

Jorge Pinto, deputado do Livre, sublinhou que se há setor que tem falhado é o da Saúde. “Luís Montenegro dizia-nos que tinha as soluções para os problemas e agora pede aos portugueses paciência”, apontou, frisando que o setor está hoje “muito pior do que estava quando o Governo tomou posse”. “Sabemos que os problemas não se resolvem de um dia para o outro, mas este Governo tem conseguido aprofundar ainda mais os problemas que já vinham do Governo anterior”, afirmou o deputado do Livre.

Manuel Rodrigues, do Comité Central do PCP, entende que os anúncios de Luís Montenegro, nomeadamente no que toca ao SNS, “não respondem aos problemas de fundo”. O comunista insistiu que é preciso “valorizar” os profissionais de saúde e recordou as greves por “descontentamento” por falta de respostas, designadamente pela falta de valorização de carreiras.

Também Inês Sousa Real, deputada única do PAN, recorou o arranque do discurso de Montenegro ao dizer que “não foi apenas o som que falhou”, mas também “as ambições para o país”. “Luís Montenegro trouxe-nos um discurso muito redondo que não traz soluções concretas”, referiu, dizendo ser “falacioso” que a saúde esteja melhor do que no ano passado.

Já Paulo Núncio, líder parlamentar do CDS-PP, que faz parte do Governo, considera que o balanço dos primeiros quatro meses de governação é “francamente positivo” e que “o Governo está a cumprir o seu plano para o SNS”. “Há muitos problemas na saúde que têm de ser resolvidos, mas estamos muito melhores do que há um ano e em 2025 certamente estaremos melhor”, realçou, saudando as três medidas apresentadas pelo primeiro-ministro no Pontal.