Foram os credores europeus, esses sim, que desenharam planos pormenorizados para a saída da Grécia da zona euro. Alexis Tsipras apenas deu uma ordem a Yanis Varoufakis para que este liderasse os trabalhos na preparação de um “plano de contingência” para o caso de as negociações com os credores não chegarem a bom porto. É esta a análise do primeiro-ministro grego, que foi esta sexta-feira ao Parlamento grego dar explicações aos deputados sobre as notícias de que a Grécia tinha um “Plano B” que passava por voltar ao dracma.
O governo grego “nunca procurou levar a Grécia para fora do euro” mas tinha a “responsabilidade” de criar um “plano de contingência” caso as negociações com os credores não produzissem um acordo. Alexis Tsipras garante que, do seu lado, nunca houve a iniciativa de começar a trabalhar num “Plano B“, mas que deu, “pessoalmente, instruções” ao ex-ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, para trabalhar num “plano de emergência” para gerir a situação em caso de uma saída da zona euro que Alexis Tsipras diz nunca ter desejado.
Alexis Tsipras esteve no parlamento para esclarecer as notícias de que Yanis Varoufakis teria criado uma pequena equipa secreta para preparar um sistema de pagamentos paralelo que permitisse passar a economia grega para dracmas “num piscar de olhos“. Segundo confidenciou Varoufakis a um grupo de investidores britânicos, foi logo em dezembro, antes das eleições que colocaram o Syriza no governo. Entretanto, nas últimas semanas saíram notícias de que Alexis Tsipras pediu ao presidente russo Vladimir Putin 10 mil milhões de dólares para suportar as reservas financeiras no caso de uma saída do euro. Mas Putin rejeitou esse pedido, deixando Tsipras sem escolha além de assinar o acordo com os credores europeus.
Varoufakis trabalhou com uma pequena equipa de cinco pessoas, liderada por um amigo de infância. A ter avançado, contudo, o plano precisaria do envolvimento de algo como mil pessoas. O plano, explicou Varoufakis, passaria por fazer hacking (intrusão de sistemas informáticos) das informações fiscais dos contribuintes e das empresas, informações essas constantes dos servidores centrais do Fisco.
Com essas informações, a equipa iria modelar um sistema paralelo que poderia ser ativado caso os bancos fossem obrigados a fechar. Os pagamentos poderiam, graças a essa plataforma paralela, continuar a ser feitos entre o Estado e agentes económicos, desde empresas a salários ou pensões da Função Pública. Daí à criação de uma moeda paralela seria um passo.
Seria necessário uma intrusão tecnicamente sofisticada – razão por que Varoufakis aproveitou a confiança desse amigo de infância, professor da Universidade da Columbia – porque apesar de o Ministério das Finanças ter acesso a estes dados, o sistema é constantemente monitorizado pela troika. Além disso, disse Varoufakis, “o secretário-geral do Fisco é nomeado, na realidade, por um processo que é controlado pela troika”.
Segundo o eKathimerini, uma semana depois de Varoufakis se tornar ministro das Finanças, o amigo telefonou-lhe a dizer que “tinha assumido o controlo do hardware” mas que “o software pertence à troika“. Porque o sistema pertencia à troika, Varoufakis disse, a sós, ao amigo para avançar para o hacking para copiar os dados sem que a troika se apercebesse.
“Autorizei-o [o amigo] – e não podem dizer isto a ninguém, é totalmente entre nós”, afirmou Varoufakis na teleconferência, altura em que é interrompido por Norman Lamont, que diz: “Há certamente outras pessoas a ouvir mas elas não dirão aos seus amigos”. Varoufakis ri e diz que “mesmo que elas o façam eu desmentirei que disse isto”.