As duas últimas semanas da AD foram passadas a negar a “nacionalização” da campanha, que é como quem diz o aproveitamento da governação e das questões nacionais para juntar tudo no mesmo saco e entendê-lo aos eleitores. Mas o contexto político nacional esteve sempre por lá e entrou com tudo e a várias vozes na reta final. A descida do Chiado, no fecho da campanha às Europeias, foi curta em mobilização, mas voltou a contar com o líder do PSD que, debaixo de chuva e de uma questão levantada pelo governador do Banco de Portugal, usou a capa de primeiro-ministro para proteger a coligação.
As palavras do ex-ministro das Finanças de governos socialista e atual governador do BdP tiveram direito a resposta de Montenegro que, na ação mais simbólica de qualquer campanha eleitoral, garantiu que o seu Governo tem “a situação completamente controlada”. Ali perto, e também a participar na arruada do Chiado, estava também o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento. Numa altura em que a AD tenta imputar ao PS um descontrolo orçamental nos últimos dias de governação, nada pior do que um alerta para o regresso do défice que penaliza sempre quem está ao comando.
Na AD parece não ser suficiente ficar à frente como nas legislativas, precisa que a vantagem seja mais clara e Luís Montenegro disse isso mesmo durante a descida do Chiado ao pedir uma “vitória substancial”. Já tinha ficado claro nas entrelinhas de toda a campanha, que se fez apoiada em ataques a PS e Chega e à “coligação negativa” ou “relação simbiótica”, como lhe chamou Nuno Melo, que os dois têm mantido no Parlamento. A única solução para contrariar novo quase-empate eleitoral das legislativas é tentar tirar votos diretamente a esse novo conjunto e esperar que os eleitores que nas últimas eleições escolheram os dois partidos estranhem tanto a parceria dos últimos dois meses como os partidos da AD.
Luís Montenegro apostou tudo na diabolização e no combate a esta frente, para tentar manter o Governo sem apertos no dia 10 de junho, o seguinte às eleições. Garantiu, em vários comícios em que participou durante a campanha, que qualquer que seja o resultado o Governo seguirá. E no fecho do Chiado falou muito diretamente aos arrependidos, ou nas suas palavras “desiludidos”.
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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR
Começou por apontar a quem votou no PS ou no Chega, referindo que “há muitas razões para estarem desiludidos” com os dois partidos. Depois dirigiu-se a cada grupo em específico: “Quero perguntar a um votante do PS se está satisfeito por ver o seu partido, que tanto ergueu a sua voz contra o Chega, que ergueu uma linha vermelha ao PSD, se está satisfeito ao ver o PS a aprovar coisas ao colo do Chega” e aos do Chega se “estão satisfeitos por terem votado numa força política que prometeu combater o socialismo e que agora vota no parlamento ao lado das propostas socialistas”.
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O apelo chega no comício final de uma campanha que já vinha nesta linha de ataque aos dois partidos, na tentativa de conquistar eleitorado moderado. E foi por isso que acusou os dois partidos de trocarem “as convicções por conveniências”, em “jogos políticos” que quer que os eleitores aproveitem as Europeias para penalizar. Ainda que tenha assumido, desde a primeira participação nesta campanha, que vencer mais uma eleição era “muito difícil”, o líder do PSD acabou a confiar que será possível: “Confio muito que vamos vencer as eleições, vamos continuar a governar bem o país para respeitar quem trabalha.”
Fez a descida ao lado do candidato independente que escolheu para estas eleições, mas Sebastião Bugalho teve consigo a nada dos dois maiores da coligação — o PPM teve uma participação mais do que discreta nesta campanha –, com Nuno Melo a voltar pela terceira vez a um comício. Mas também houve ex-líderes, como Manuela Ferreira Leite e Assunção Cristas, ou figuras como Leonor Beleza ou Carlos Moedas, que é o mandatário nacional da candidatura da AD nestas Europeias, e que acabaram por apanhar a chuva que, à hora da arruada da coligação, caía em Lisboa.
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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR
No entanto, a bátega maior foi sobre os socialistas com Nuno Melo e Sebastião Bugalho a cumprirem nos ataques a essa frente. Ambos falaram, como em toda a campanha, nos extremismos, explorando o que a AD diz ser uma radicalização do PS. Depois da geringonça e dos acordos à esquerda, a coligação da direita diz que os socialistas estão agora colados ao lado oposto. “Na AD combatemos ditaduras desde Nicolas Maduro a Vladimir Putin, passando por Lukashenko”, afirmou Nuno Melo no palco sob o arco da Rua Augusta.
E depois dele também o cabeça de lista da AD disse que, perante os últimos dois meses de aprovações parlamentares com maiorias que juntam PS e Chega, “é simples e clara” a escolha do próximo domingo. O seu apelo final foi sobretudo para os “democratas e moderados”, contra os “extremismos” que durante toda a campanha colou ao PS que se aliou à esquerda para governar em 2015 e à extrema-direita para não deixar governar, agora em 2024 — uma fórmula que repetiu nos últimos comícios. Sebastião Bugalho fechou a exibir o a ideia de “moderado” mas também o estatuto de “independente”, apontado ao mesmo alvo que Montengro: ir buscar quem possa estar impressionado com supostas radicalizações.