Manhã de passeio para mostrar obra política, alavancar o PSD e ensaiar um tiro ao alvo chamado Pedro Nuno Santos. Luís Montenegro e Carlos Moedas estiveram juntos esta quinta-feira, em Lisboa, para publicitar os novos passes gratuitos para maiores de 65 anos, o primeiro grande trunfo do novo presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Mas com o novo aeroporto a dominar a agenda e a aquecer o debate político, o tema acabou por contaminar um dia que se queria de festa social-democrata.

E não era para menos. Na véspera, Carlos Moedas abandonara abruptamente a reunião de Câmara quando o debate estava quase, quase a chegar ao assunto que a oposição queria ver discutido — afinal, o que pensa Moedas sobre o futuro do aeroporto, numa altura em que o Governo vai desafiando sucessivamente os sociais-democratas a revelarem o que pensam e em que Luís Montenegro vai tentando pôr a pressão do lado de lá.

A saída de Moedas momentos antes da discussão da proposta do PCP, que defendia a solução Alcochete, mereceu duras críticas da oposição. De “insultuosa” a “atitude lamentável e pouco digna“, os partidos apontaram o dedo ao presidente da Câmara, com a vereadora Filipa Roseta a tentar justificar o que acabara de acontecer e acalmar os ânimos. Sem efeito: em protesto, o PCP decidiu abandonar o encontro — contando com a solidariedade das restantes bancadas da oposição — e, não havendo quórum, a reunião terminou.

[Pode ouvir aqui a reportagem da Rádio Observador]

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Moedas e Montenegro foram andar de elétrico antes de falarem de aviões

Resultado: Moedas não disse o que pensava de facto sobre o aeroporto. Existia, por isso, expectativa para perceber o que diriam Luís Montenegro e o presidente da Câmara de Lisboa sobre o assunto. Caberia ao líder social-democrata, no entanto, manter a bola do lado do Governo. Depois de uma visita a um dos pontos de venda dos passes gratuitos e de um curto passeio de ida e volta na carreira 15 do elétrico reservado para o momento, os dois fizeram juras de “total sintonia” depois de uma semana delicada para o autarca lisboeta.

“Estou muito sintonizado [com Carlos Moedas], conversamos muitas vezes. Enquanto não tivermos uma posição final para apresentar em público quer eu, quer ele, não a vamos antecipar“, garantiu Luís Montenegro.

Carlos Moedas acabaria também por fazer a defesa da honra, explicando que a sua saída da reunião em nada estava relacionada com o aeroporto. “Não tem nada a ver com a discussão do aeroporto. O aeroporto é uma questão muito importante, mas essa decisão é do Governo. O autarca de Lisboa vai esperar que o Governo fale com o autarca de Lisboa e lhe diga o que quer fazer”, frisou o autarca.

O ataque a Pedro Nuno Santos

Quem não ficou sem resposta foi Pedro Nuno Santos. Depois de ter protagonizado um psicodrama em torno da construção do novo aeroporto — acabando desmentido e desautorizado por António Costa — o ministro das Infraestruturas decidiu voltar a carregar no acelerador. Mesmo com o primeiro-ministro a dizer que está totalmente disponível para chegar a uma solução de consenso, mas reconhecendo que a decisão não pode ser “apressada”, Pedro Nuno não esteve para meias-tintas.

“Nestes últimos sete anos, o Governo foi até onde pôde. O PSD sabia que, para concretizar aquela que era a solução que foi por si escolhida [quando foi Governo], era necessário alterar uma lei que se recusou a fazer e atrasou, obviamente, o processo. A última coisa que pode fazer é pôr-se de fora da fotografia”, atirou o socialista na quarta-feira.

Ora, na resposta, Luís Montenegro fez questão de lembrar que não é Pedro Nuno Santos quem manda no Governo. “O nosso interlocutor no Governo é António Costa, o primeiro-ministro, não é o ministro das Infraestruturas. Sei que tem andado um bocadinho desnorteado. Diria que não acerta uma”, provocou o líder social-democrata.

“Não sei sequer se o ministro está sintonizado com o primeiro-ministro. Não era a primeira vez que aparecia dessintonizado, não vou estar a responder-lhe. Tem muito com que preocupar-se, não faz sentido preocupar-se com o PSD. Deve preocupar-se com governação no seu setor”, atirou Montenegro, escusando-se a comentar os planos de obras sugeridos para a Portela.

Dizendo que “este é um momento de recato” que se pede ao líder do PSD no aeroporto, depois de “aberto o diálogo entre o presidente do PSD e o primeiro-ministro”, Luís Montenegro não resistiu a dar ainda mais uma bicada em Pedro Nuno Santos: “Ao ministro das Infraestruturas não lhe reconheço autoridade política para poder intervir neste diálogo. Nunca sei se está ou não sintonizado com o primeiro-ministro”.

Chutado para canto Pedro Nuno Santos, o presidente do PSD voltou a dizer que cabe ao Executivo de António Costa “decidir o que fazer ao concurso público sobre a avaliação ambiental estratégica, por exemplo” e “decidir a localização do novo aeroporto”.