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Ricardo Castelo/Observador

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Editoras preparam regresso aos lançamentos com os olhos postos num futuro cada vez mais incerto

Dois meses de paragem tiveram o seu peso num mercado frágil que nunca chegou a recuperar da crise. Editores dizem-se muito preocupados e temem um futuro onde a falta de diversidade seja uma realidade.

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Em março, depois de o estado de emergência ter sido decretado em Portugal na sequência da pandemia do novo coronavírus, a grande maioria das editoras portuguesas optou por suspender a publicação de novos títulos até que a situação regularizasse. Ao fim de mais de dois meses de paragem, preparam-se agora para retomar integralmente a atividade editorial (as equipas nunca deixaram de trabalhar) e para regressarem aos lançamentos, no início do próximo mês de junho. Fazem-no com entusiasmo, mas com uma noção muito clara de que o futuro é agora mais incerto num setor onde, graças à crise gerada pela Covid-19, os problemas de sempre estão agora mais à mostra.

A quebra nas vendas de livros em Portugal registou-se logo no mês de março. Um estudo divulgado pela Gfk Portugal no início de abril, com base em mais de 1.500 pontos de venda, físicos e online, mostrou que, entre os dias 16 e 22 de março, quando se registou um agravamento da pandemia e foi decretado o estado de emergência nacional, houve uma quebra de 63,3% nas vendas (de 65,8% no valor gerado) em comparação com o mesmo período do ano passado. Isto significa que, na 12.ª semana de 2020, foram vendidos menos 121,6 mil unidades do que em 2019, o que corresponde a uma quebra de 1,6 milhões de euros.

Esta queda teve um impacto “devastador”, que é transversal a todo o mercado, a pequenas, a médias e a grandes editoras, como apontou Pedro Sobral, diretor editorial do Grupo Leya, ao Observador. “78% das vendas simplesmente desapareceram. Obviamente que isto teve um impacto muito grande, no segmento de edições da Leya e em todas as editoras”, declarou. Na opinião de Carlos Alberto Machado, da editora independente Companhia das Ilhas, a pandemia teve também “consequências muito complicadas” e o governo não soube reagir. Exemplo disso é a verba de 400 mil euros que o Ministério da Cultura anunciou estar disponível a partir de maio para compra de livros por parte do Estado a editoras e livrarias.

“Estima-se que existam 300 e tal editores e livrarias em Portugal. Não dá, [o apoio] é um paliativo”, considerou o editor açoriano, fazendo eco do que foi dito por vários outros editores e livreiros ouvidos em abril pelo Observador — na altura, Francisco Vale, da Relógio d’Água, chamou à verba disponibilizada pelo Governo “uma colher de chá”.  Mas a verba tem ainda um outro problema, na ótica do editor da Companhia das Ilhas, que é o de “misturar editoras com livrarias”. “Muita gente já percebeu, mas ninguém toma a iniciativa de acabar com isto — são setores importantes, mas não são iguais e têm muitas vezes interesses diferenciais. São ambos setores nobres, não está em causa se um é melhor ou pior. São complementares, mas não são a mesma coisa”, disse.

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"Os governos podiam fazer um bocadinho mais para tentar contrariar esse tipo de coisas, que tem a ver com a promoção da leitura ou com apoios pontuais. Há o problema das bibliotecas, da leitura, de dar mais visibilidade ao livro e aos autores portugueses no espaço público. É absolutamente vital, e isso não se faz. A imprensa tem mais o que fazer e ninguém perde eleições por não haver livros."
Carlos Alberto Machado, editor da Companhia das Ilhas

Bárbara Bulhosa, da também independente Tinta-da-China, considera que o Ministério da Cultura “se tem portado pessimamente”. “A Cultura é uma das áreas mais afetadas. Primeiro é o Turismo, claro, mas depois é a Cultura. Acho ridículo não haver medidas a sério, um plano estratégico de recuperação nas mais diversas áreas, em vez de coisas avulsas e disparatadas. A Cultura é muito desprotegida na maior parte dos casos. Não há uma estabilidade como nos outros setores da economia”, afirmou ao Observador, salientando que, para funcionarem, as indústrias culturais têm sempre de depender de subsídios, de apoios públicos ou de mecenato. Caso contrário, não é possível fazer nada em Portugal.

“Acho que devia haver um apoio, uma coisa a sério, para quem quer investir saber que o seu negócio não vai por água abaixo. Acho que a Tinta-da-China tem tudo para continuar, mas tem de haver mercado”, considerou ainda, admitindo estar “bastante assustada como editora independente. Tenho nove pessoas a trabalhar, todas efetivas, com seguros de saúde”. Dos apoios do Estado, a Tinta-da-China não teve direito a nada. E, esta semana, Bárbara Bulhosa soube que não terá direito ao empréstimo que tinha pedido porque a linha de crédito criada para conter os efeitos da Covid-19 esgotou. O Expresso deu conta do fim do apoio numa notícia publicada no início de maio, mas só agora é que a editora foi informada pelo banco, que garantiu desde logo que a Tinta-da-China era elegível para o apoio, que já não há verba disponível.

Bárbara Bulhosa não consegue compreender como é que uma empresa “que tem a ficha completamente limpa não tem qualquer apoio do estado”. “Se uma empresa como esta não tem apoio, qual é que terá?”, interrogou, atirando novas críticas ao Governo, que considera não fazer nada pela Cultura, um setor “de lapela” para o Executivo de António Costa.

Na opinião de Carlos Alberto Machado, o que a pandemia veio sobretudo trazer foi um agravamento dos sintomas de uma doença que há muito se fazia sentir. “Tínhamos os sintomas e eles, de repente, explodiram, como aquelas coisas que temos adormecidas no organismo durante anos”, afirmou, acrescentando que “o que estava antes, é o que está agora”.

“As pessoas compram poucos livros porque leem pouco. O problema maior, que não se resolve por obra e graça de um governo qualquer ou por obra e graça do Espírito Santo, é esse. Os governos podiam fazer um bocadinho mais para tentar contrariar esse tipo de coisas, que tem a ver com a promoção da leitura ou com apoios pontuais. Há o problema das bibliotecas, da leitura, de dar mais visibilidade ao livro e aos autores portugueses no espaço público. É absolutamente vital, e isso não se faz. A imprensa tem mais o que fazer e ninguém perde eleições por não haver livros. Ninguém liga muito a isso.”

Recomeçar onde se parou e tentar antecipar um futuro que é cada vez mais incerto — mas de que maneira?

Mais de dois meses depois de terem suspendido a publicação de novos livros, as editoras  portuguesas preparam-se agora para retomar a normalidade. E como é que isso faz?

Bárbara Bulhosa acredita que, pelo menos nesta primeira fase, haverá “um disparate” de livros no mercado, por causa do grande entusiasmo que um regresso aos lançamentos naturalmente traz. “Estou convencida de que vão sair mais livros agora. Estamos todos com vontade de retomar, de reabrir, de voltar a ter a atividade que tínhamos. Eu própria estou entusiasmada com os novos livros”, admitiu. Apesar disso, as dúvidas são muitas quanto à concretização desse objetivo. “Continuamos a pensar como se tudo estivesse normal, mas como é que os livros vão chegar às pessoas? Mudou aqui qualquer coisa e vamos ter de nos reinventar.”

No caso da Tinta-da-China, essa mudança passa muito por uma maior maior aposta no site — que tem estado a funcionar “lindamente”, embora sem faturar o necessário — e pela criação de novos e diferentes conteúdos, “no sentido de tentar arranjar alternativas e de seduzir da mesma forma” os leitores, mas tranquilizando-os de que não há perigo e que “não têm de se arriscar”. Para já, houve vários livros que estavam programados que caíram por terra. “Vamos produzir menos livros e há uma série deles que iam sair em 2020 e que adiamos para 2021”, afirmou a editora, que tem estado, assim como a restante equipa da Tinta-da-China, a trabalhar a partir de casa. “Vou tentar ser o mais cautelosa e contida no meu entusiasmo para não cometer erros de gestão.”

A Tinta-da-China, com sede em Lisboa, tem estado a trabalhar em regime de teletrabalho. Está neste momento a preparar o regresso aos lançamentos numa realidade que é bem diferente da habitual

© Hugo Amaral/Observador

No caso da Leya, Pedro Sobral garante que não se trata tanto de um regresso, mas mais de uma continuação de um trabalho que tem sido feito à distância, em regime de teletrabalho, e que passou sobretudo por procurar manter o contacto com leitores e também com autores. Para isso, a Leya, à semelhança da Tinta-da-China e de outras editoras, virou-se para aos canais digitais, lançando uma série de iniciativas, ferramentas e ações gratuitas que, de acordo com o diretor editorial, captaram até a atenção de “pessoas que não compram livros”. “Independentemente do impacto negativo, tivemos este lado positivo — ao mantermos uma atividade mais ou menos normal dentro daquilo que foi acontecendo, conseguimos-nos manter uma tranquilidade na relação com os autores e leitores que é fundamental.”

Manter um ritmo normal de trabalho e o contacto regular com leitores, autores e até retalhistas ajudou também a Leya a “perceber o passo a dar após o confinamento” e a ter uma ideia, ainda vaga, de “como é que o setor vai sair disto”. “Temos muito bem definidas as ações que temos de tomar. Já temos o plano editorial definindo até ao final do ano. Independentemente dos desafios, que têm uma enorme dose de incerteza porque ninguém consegue fazer futurismos, temos uma ideia muito clara de como vamos agir.”

Os mais de dois meses de paragem levaram à necessidade de um reagendamento das obras que eram para serem publicadas entre meados de março e maio e não o foram. Questionado sobre se entre os os livros que estavam programados e os que estão previstos para os meses seguintes não haverá uma enchente de novos títulos no mercado, Pedro Sobral apontou que existem sempre uma certa “aleatoriedade”, que nem sempre os planos são levados à risca e que o período de confinamento torna tudo isto ainda mais “imprevisível”. “O que lhe posso dizer é que não há a mínima noção se vamos ter mais ou menos livros. Presumo que o número de novos livros editados [em Portugal] seja menor, mas é uma mera intuição”, disse.

“Estamos todos com vontade de retomar, de reabrir, de voltar a ter a atividade que tínhamos. Eu própria estou entusiasmada com os novos livros. Continuamos a pensar como se tudo estivesse normal, mas como é que os livros vão chegar às pessoas? Mudou aqui qualquer coisa e vamos ter de nos reinventar.” 
Bárbara Bulhosa, editora da Tinta-da-China

Ao contrário do que aconteceu com a Leya e outras editoras portuguesas, a Companhia das Ilhas optou por não suspender as publicações. A editora com sede na ilha do Pico continuou a lançar livros, mesmo durante o estado de emergência. As razões foram “várias”. “Uma delas, foi que já havia livros em marcha”, explicou Carlos Alberto Machado. “As coisas começaram a abrandar no final de fevereiro, mas já tínhamos dois ou três livros paginados, alguns já enviados para a tipografia. Não se podia voltar atrás. Depois colocava-se o problema de, se parávamos de todo, ficávamos à espera não sei de quê, porque não há metas. Era fechar ou tentar manter os números de publicação, também por outras razões, que têm a ver com os compromissos com os nossos autores.” Mas a decisão de manter a “máquina” a funcionar teve também uma vertente política — foi um “pequeno ato de resistência, que é continuar com esta dois dos livros ainda terem alguma razão de ser”, disse o editor. “É uma teimosia como outra qualquer.”

Graças a essa “teimosia”, a Companhia das Ilhas irá à partida conseguir manter mais ou menos o mesmo o ritmo de publicação, talvez retirando dois ou três do plano inicial. “No ano passado, tínhamos decidido reduzir imenso a quantidade de livros, para cerca de metade. É isso que vai acontecer este ano. Vamos tentar manter este ritmo de publicação enquanto existirmos. Isto é do nosso lado; do outro, não sabemos. Não sabemos como é que vai ser com as livrarias, se as pessoas vão voltar. São aquelas incógnitas que todos temos. Se não houver nada do outro mundo, se não ficar pior do que já está, é capaz de a coisa ir retomando. Devagarinho, mas com quebras terríveis.”

Recuperar vendas é a “principal preocupação” das editoras

Retomar as vendas é, neste momento, a “principal preocupação” das editoras, o que se torna difícil de fazer quando existem muitas livrarias que continuam a não funcionar. “As livrarias de rua abriram. As livrarias dos centros comerciais também foram abertas mas, na verdade, não abriram, porque os centros comerciais estão fechados. Não há vendas. As livrarias retomaram a atividade, mas o volume de vendas é muito diminuto”, disse ao Observador João Alvim, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Bárbara Bulhosa apontou o mesmo: “Mesmo as livrarias que abriram, estão a funcionar pouco. As pessoas ainda estão com muitas reservas e não há novidades, porque o mercado fechou. Temo que até ao fim do ano seja muito complicado e que muitas livrarias fechem”, disse. “É preciso um arcaboiço financeiro para aguentar isto.”

Uma situação que nem as livrarias online ajudaram a resolver. Segundo o presidente da APEL, as vendas pela internet são, em Portugal, tal como no resto da Europa, pouco significativas e, apesar de terem registado um aumento durante os meses de confinamento, este não foi suficiente para compensar as perdas nas livrarias físicas, onde a grande maioria do lucro é gerado. “A grande preocupação é que os centros comerciais reabram para permitir para permitir que as livrarias que estão nesses centros comerciais recomecem a atividade”, repetiu.

Ainda que as vendas pela internet não sejam significativas, Bárbara Bulhosa acredita que o online desempenhará um papel importante nesta “nova normalidade”. “Todo o comércio online teve um grande salto durante este período, mas uma coisa não pode invalidar a outra. O online tem de ser um complemento, não podemos ficar sem livrarias”, afirmou a editora da Tinta-da-China.

Para Pedro Sobral, o desafio é perceber quando se dará o regresso à “normalidade”. “Agora que os editores estão a voltar aos lançamentos, aos planos e estratégias para o resto do ano, o grande desafio é perceber o que vai acontecer, a afluência às livrarias e aos pontos de venda de livros. É a grande questão, que é transversal a todos os setores que estão dependentes do retalho [não apenas o do livro].” É a grande questão e é também a grande dúvida: “Estamos perante um fator completamente desconhecido”, considerou o direito editorial da Leya.

“Agora que os editores estão a voltar aos lançamentos, aos planos e estratégias para o resto do ano, o grande desafio é perceber o que vai acontecer, a afluência às livrarias e aos pontos de venda de livros. É a grande questão, que é transversal a todos os setores que estão dependentes do retalho."
Pedro Sobral, diretor editorial da Leya

Este regresso também está dependente do rendimento que os portugueses passarão a ter disponível para a compra de livros. Atrair os leitores novamente às livrarias é fundamental, mas quem trabalha no mercado livreiro tem noção de que a pandemia do novo coronavírus teve um “impacto violento” nos rendimentos de muitas famílias portuguesas. “Excetuando determinadas áreas, onde os salários se mantiveram intactos, há grandes camadas da população que estão em contenção, porque o seu rendimento diminuição, seja porque passaram à situação de layoff ou porque os seus contratos eram a prazo e não foram continuados”, afirmou o presidente da APEL. “Isso vai traduzir-se numa diminuição do consumo, porque as pessoas vão prioritizar onde vão gastar o seu dinheiro.”

Retoma será lenta e o caminho de recuperação longo e difícil num setor “extremamente abalado com tudo isto”

Com ou sem livrarias abertas, existe “uma noção muito clara” de que a retoma será lenta. Um estudo divulgado esta semana pela Gfk Portugal, refere que o mercado começou, no início de maio, a dar pequenos sinais de melhoria com a subida do número de vendas, mas com perdas que continuam a ser superiores a 40%. De acordo com os dados recolhidos pela empresa de estudos de mercado, entre 4 e 10 de maio, registou-se uma quebra de 42,1% no número de livros vendidos em Portugal em comparação ao mesmo período de 2019, um valor que é superior no plano financeiro — 45,9%, uma perda que equivale a menos 1,07 milhões de euros.

As implicações serão várias: “Primeiro, as livrarias não vendem ou vendem pouco. Depois, há todo o peso da dívida que se acumulou ao longo destes quase três meses, resultante de fornecedores, de rendas, de custos com a estrutura, com pessoas que trabalham nesses setores. Essas dívidas estão lá todas, e sendo uma atividade cujas vendas não retomaram de facto, o caminho que tem pela frente é longo ao nível da recuperação de vendas, o que significa que o aperto financeiro de editores e livreiros é muito grande. Isto condiciona tudo”, considerou João Alvim. A situação torna-se ainda mais complicada quando se tem em conta que o setor livreiro, “extremamente abalado com tudo isto”, não chegou a recuperar totalmente da crise financeira de 2010. Durante os cinco anos seguintes, o mercado continuou a cair. A queda só parou em 2016, registando-se a partir daí uma recuperação pequena, mas gradual, até ao início deste ano.

“[Com esta crise,] podem perder-se leitores, novos livros, pode daí advir uma necessidade de reestruturação e reajuste significativo que vai atingir todos”, não apenas editores e livreiros. “Há muitos outros setores que estão ligados a estas atividades — preparadores, tradutores, autores, empresas gráficas, para as quais o setor do livro pesa 25%.” É por esta razão que Bárbara Bulhosa  considera ser fundamental que, a par da abertura das livrarias, não se deixe de pagar a profissionais e fornecedores porque, se isso acontecer, gera-se uma “bola de neve” que dificilmente será possível fazer parar.

“Eu paguei as minhas dívidas às gráficas. Se começamos a não pagar, ao tradutor, [etc.,] é uma bola de neve”, apontou a editora, adiantando que já há distribuidoras que vão deixar de pagar às editoras. Num mercado que funciona a três ou quatro meses, o não pagamento das vendas de livros que são vendidos agora significa que as editoras não terão como se aguentar durante os próximos tempos. “Ainda estamos a receber de fevereiro”, admitiu a editora da Tinta-da-China, afirmando que o mais provável é não ter qualquer retorno dos livros que vai receber publicar agora até ao final do ano. É por isto que Carlos Alberto Machado Carlos Alberto Machado considera que as livrarias são também são parte do problema. “Antigamente, as livrarias compravam livros para terem, muitas vezes até para terem mercadoria para vender.” Isso já não acontece, “já ninguém compra livros”.

A Companhia das Ilhas é uma pequena editora independente dos Açores. É responsável pela publicação da obra completa de Vitorino Nemésio, juntamente com a Imprensa Nacional - Casa da Moeda

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“[É] todo um mundo que pode ter que se reestruturar para se adaptar às novas realidades de mercado”, considerou o presidente da APEL. Essa reestruturação pode ser mais complicada para as grandes empresas do que para as pequenas: “À primeira vista, é mais fácil fechar uma pequena organização do que uma grande, mas a verdade é que os pequenos até se defendem melhor do que os grandes. As editoras intermédias estão numa situação difícil, porque têm uma estrutura já pesada e estão a tentar mantê-la. É difícil perceber as consequências, mas pode haver reduções de estrutura [das editoras], no sentido de tentar viabilizar a atividade para o futuro”, aventou João Alvim.

Na opinião de Carlos Alberto Machado, são aquelas editoras mais pequenas, mas com atividade regular, que correm o maior risco de desaparecer. “Mas vão sempre surgir outras novas”, garantiu. “Na prática, uma editora não substitui outra, seja ela qual for. Cada um tem os seus projetos, os seus gostos. Mas se a liberdade de escolha for estreitando, há um problema de liberdade fundamental, que é a liberdade de dizer ‘não’, de dizer e fazer o que se quiser. A liberdade é económica, é de escolha”, afirmou o editor, exemplificando: “Se uma pessoa vai a uma livraria e os únicos livros de poesia que tem são os do grupo dela, está mal, o leitor não tem escolha. O leitor até pode não saber que existem outros livros. Há um papel cultural associado às livrarias que é o de alargar a oferta e ter o máximo possível, com os critérios que cada uma tem, dentro dos vários géneros”.

Segundo o editor da Companhia das Ilhas, todos os anos, são publicados em Portugal 500 a 600 livros novos por editoras pequenas e independentes. “Se todas acabarem a sua atividade, esses livros não terão espaço nas editoras médias e grandes. Só têm espaço nas deste tipo.” Por isso, “tem de haver alguma solidariedade entre todos”, defendeu Carlos Alberto Machado, apontando que “esta questão de uma relação mais saudável entre editores e livrarias não é uma questão que o governo tenha de resolver, mas uma questão que editores e livreiros que têm de resolver”.

“Na prática, uma editora não substitui outra, seja ela qual for. Cada um tem os seus projetos, os seus gostos. Mas se a liberdade de escolha for estreitando, há um problema de liberdade fundamental, que é a liberdade de dizer ‘não’, de dizer e fazer o que se quiser. A liberdade é económica, é de escolha."
Carlos Alberto Machado, editor da Companhia das Ilhas

Também o diretor editorial da Leya considerou que “o ecossistema editorial foi profundamente afetado”, destacando que era importante que as outras editoras conseguissem ser preservadas. “É importante para o pluralismo que a atividade traz para o país”, afirmou Pedro Sobral. Mas e verdade é que ainda é cedo para saber ao certo o que vai acontecer a este e a outros setores em Portugal, mas uma coisa é para já certa: “Financeiramente, o peso desta paragem já lá está. O peso já ficou dentro das editoras e livreiros, e esse peso financeiro vai-se repercutir nos próximos tempos e isso tira a capacidade às empresas de se reestruturarem, de investirem e avançarem”, afirmou João Alvim, lembrando que o setor livreiro é um dos “mais sacrificados na anterior crise e que nunca chegou a recuperar”.

Segundo o presidente da APEL, a estratégia dos editores e livreiros tem passado por pensar um dia de cada vez e gerir o dia a dia. “Vão continuando a trabalhar. É uma característica do setor, há sempre novos projetos e novas ideias. Mas se é verdade que isso é uma motivação para fazer andar, os constrangimentos financeiros são uma realidade que já nos está a bater à porta”, afirmou.

Pedro Sobral admite que o regresso aos lançamentos neste mês de junho se faz numa realidade que “é desconhecida”. Mas há uma coisa de que o diretor editorial da Leya tem toda certeza: “De uma forma ou de outra, de uma forma mais lenta ou mais rápida, temos a certeza que os livros [entretanto publicados] encontrarão os seus leitores. Faremos tudo para isso aconteça. Como e quando, é a questão que ficará”.

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